Redes sociais, disciplina e manipulação

Qual disciplina falta à esquerda nas redes sociais?

Por Mauro Luis Iasi – é professor adjunto da Escola de Serviço Social da UFRJ, pesquisador do NEPEM (Núcleo de Estudos e Pesquisas Marxistas), do NEP 13 de Maio e membro do Comitê Central do PCB para o Blog da Boitempo

“Não podemos construir nossa disciplina e nossos valores com base em relações futuras a serem criadas com a mudança radical da sociedade. Os valores próprios da luta contra a ordem burguesa se fundam nas relações que podemos estabelecer no curso da própria luta, no terreno vivo de nossas organizações, na medida em que consigamos imprimir nelas uma qualidade nova e emancipatória.”

Mauro Luis Iasi discute a disciplina da extrema direita nas redes sociais e como a esquerda deve ocupar esse espaço

“Eu para mim é pouco”
— Maiakóvski

“Se considerarmos essa publicidade num país capitalista altamente desenvolvido em sua totalidade social, ela pressupõe (…), como Hitler já havia constatado, uma influenciabilidade quase ilimitada dos homens, da crença de que qualquer coisa lhes poderá ser sugerida, desde que se descubra o método correto de fazê-lo.”
— Lukács em Para uma ontologia do ser social, volume II

Em um debate recente com meu amigo Valter Pomar, promovido pelo SINASEFE de Sergipe, o dirigente petista colocou uma questão que me parece da maior relevância e nos instiga à reflexão. Pomar afirmou que a extrema direita, através das redes sociais, logrou produzir uma disciplina em sua base de massa — entendida como a capacidade de uma ação eficaz e homogênea —, ao mesmo tempo em que falta a disciplina na perspectiva de esquerda. Ressaltou, contudo, que esta não poderia ser alcançada pela esqueda pelos mesmos meios, mas através de formas coletivas de organização e luta.

Pode parecer um paradoxo a busca da disciplina, uma vez que no campo da ação política da extrema direita ela parece se apresentar como inseparável da manipulação e do irracionalismo, ao passo que esperamos uma ação consciente e emancipatória. Acredito, no entanto, que aqui se apresenta um tema que pode lançar luz, ao mesmo tempo, sobre os métodos e caráter da manipulação da extrema direita e suas significativas diferenças em relação à práxis transformadora.

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A Teoria da Reprodução Social como um Modo de Pensar Dialético

Por Bárbara Araújo Machado – Doutora em História pela Universidade Federal Fluminense (UFF); Professora do Instituto Fernando Rodrigues da Silveira, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (CAp-UERJ); membro do grupode pesquisa Observatório da História da Classe Trabalhadora e do Grupo de Estudos sobre a Teoria da Reprodução Social (GE-TRS)

Este artigo tem como objetivoapresentar o caminho histórico que levou ao desenvolvimento da Teoria da Reprodução Social(TRS),propondo compreendê-lacomo um modo de pensar dialético. O argumento central do artigo é que a TRS tornou-se uma das abordagens mais profícuas produzidas no seio do marxismo por ter sido resultado de um movimento dialético constante de autocrítica, produzindo novas elaborações a partir da incorporação de críticas e da abertura ao contraditório, que toma comocentral para entender e transformar a realidade. O artigo propõe, ainda, que esse movimento dialético tem relação com o lugar social subalternizado dos sujeitos envolvidos no desenvolvimento dessa teoria.

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150 anos da Crítica ao Programa de Gotha

150 anos da Crítica ao Programa de Gotha

Por Michael Roberts em 6 de maio de 2025

A Crítica foi um documento baseado em uma carta escrita por Marx no início de maio de 1875 ao Partido Operário Social-Democrata da Alemanha (SDAP), com o qual Marx e Friedrich Engels mantinham estreita ligação. A carta recebeu o nome do Programa de Gotha , um manifesto proposto para um congresso do partido que aconteceria na cidade de Gotha . Nesse congresso, o SDAP planejava se fundir com a Associação Geral dos Trabalhadores Alemães (ADAV), que era adepta de Ferdinand Lassalle , para formar um partido unificado.

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As origens da UDN: composição social e discurso político

Anderson Deo, Marina Olinda Calori de Lion

O artigo apresenta a atuação política das frações sociais que deram origem à União Democrática Nacional (UDN), no contexto histórico de sua criação. Para compreender o processo que deu origem a UDN, pretendemos analisar o período da República Velha (1889-1930). Fundamentalmente, o domínio político-econômico concentrado pelos grandes proprietários de terras e todo arcabouço político-institucional que garantia sua hegemonia. A hipótese aqui levantada indica que a UDN condensou uma proposta particular de liberalismo no Brasil, onde articulava politicamente um projeto liberal modernizante, mas com forte conteúdo social e econômico que garantiam a continuidade do domínio da burguesia agrária em desenvolvimento no país. Dessa forma, o projeto político-econômico da UDN expressaria um caráter dual do liberalismo, na medida em que articula o historicamente velho (agrarismo), com o historicamente novo (industrialismo).

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Caio Prado Júnior: uma biografia política

Sofia Manzano – Professora da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB) e membra do Comitê Central do PCB

Caio Prado Jr. foi um intelectual com extensa obra publicada, tanto por ele próprio – com seus livros e artigos – como por pesquisadores de sua vida intelectual, com a publicação de suas cartas, diários políticos, teses e ensaios. Também suscitou debates que obrigaram outros autores a lhes confrontar as ideias, sugestões e teses.

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Cinco teses sobre a formação social brasileira

(notas de estudo guiadas pelo pessimismo da razão e uma conclusão animada pelo otimismo da prática)

Mauro Luis Iasi – Doutor em sociologia pela Universidade de São Paulo (USP), professor associado da UFRJ e membro do Comitê Central do PCB

O artigo se fundamenta nos estudos realizados junto ao PPGSS da ESS da UFRJ, através do Nepem (Núcleo de Estudos e Pesquisas Marxistas) e apresenta cinco teses sobre a formação social brasileira diante do encerramento do ciclo histórico aberto pela crise da autocracia burguesa no final da década de 1970. Trata da manutenção das determinações da chamada via prussiana e suas consequências para a forma do Estado burguês no Brasil, para a dinâmica da luta de classes, a luta por direitos e o papel do Serviço Social nessa nova etapa que se abre.

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Marx e Engels como estudiosos das relações internacionais no século XIX

Muniz Gonçalves Ferreira – Professor de História da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), membro do Comitê Central do PCB e da diretoria da Fundação Dinarco Reis

Neste texto relatamos a produção intelectual de Karl Marx e Friedrich Engels dedicada aos temas da vida internacional por meio de sua correspondência jornalística. Discordamos daqueles que negam a existência de uma reflexão autônoma marxiano-engelsiana sobre a temática, que demonstram desconhecer, ou pelo menos desprezar, esta parte da obra dos dois autores alemães. É o caso claro de Kernig, Aron, Bobbio, Kubálková e Cruishank. Alinhamo-nos a autores como Salomon Bloom, Kostas Papaioannou e Miklós Molnár, que admitem e resgatam tal produção, debruçando-se sobre o volumoso acervo de artigos internacionais publicados pelos dois amigos nas páginas jornalísticas, sobretudo do periódico norte-americano New York Daily Tribune. Justamente nestas páginas Marx e Engels desempenham, ao longo de mais de uma década, a condição de analistas das relações internacionais.

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O profeta e Black Power: Trotsky sobre raça nos Estados Unidos

Christian Høgsbjerg – Professor da School of Humanities and Social Sciences, University of Brighton, Brighton, Reino Unido e autor de C.L.R. James in Imperial Britain.

Os críticos mais radicais de Leon Trotsky têm frequentemente feito a afirmação de que ele não entendeu a questão racial. Este artigo não pretende sugerir que Trotsky tenha dado qualquer tipo de “resposta revolucionária à questão do negro”, mas simplesmente tenta defendê-lo das acusações levantadas contra ele: oportunismo político e rude filisteísmo. Argumenta-se que, apesar das inevitáveis limitações e deficiências em alguns pontos, Trotsky demonstrou, de modo geral, uma simpatia instintiva e um desejo aguçado por uma compreensão mais profunda da luta de libertação negra no país, combinados com uma imaginação característica de um dos maiores revolucionários da tradição marxista clássica.

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