Site relembra centenário de Hiram de Lima Pereira

“Desaparecido em janeiro de 1975, o jornalista, ator e poeta Hiram de Lima Pereira deixou gravada a forte personalidade de um homem alegre e solidário. Um boa-praça, que gostava de contar piadas e promovia divertidos saraus poéticos e musicais em sua casa, quando recitava poemas, cantava, fazia mágicas. Este é um aspecto indelével no homem político: o companheiro, o pai, o amigo.”

Assim começa texto biográfico sobre o dirigente do PCB até hoje desaparecido, no site hirampereira.com, produzido em homenagem a seu centenário denascimento. Publicamos a íntegra a seguir.

Desaparecido em janeiro de 1975, o jornalista, ator e poeta Hiram de Lima Pereira deixou gravada a forte personalidade de um homem alegre e solidário. Um boa-praça, que gostava de contar piadas e promovia divertidos saraus poéticos e musicais em sua casa, quando recitava poemas, cantava, fazia mágicas. Este é um aspecto indelével no homem político: o companheiro, o pai, o amigo.

A relação com as filhas Nadja, Sacha Lídice, Zodja e Hânya, do casamento com Célia Pereira, musicista e poeta, é diferenciada, especial. Segundo as filhas, não havia assunto proibido na casa que, embora simples, estava sempre aberta a receber amigos. Hiram e Célia casaram em 1940, em Caicó (RN). O que os aproximava era também a paixão pela arte. Os dois escreviam poesias e, ao ir para Natal (RN), passaram a se dedicar ao teatro.

Hiram deixa uma extensa correspondência trocada com as filhas, com reflexões ricas, comentários conjunturais, filosofia. Cartas profundas e também engraçadas. Na ideia da convivência há, ainda, a imagem forte da presença da música no cotidiano. A filha mais velha conta sobre a centralidade do piano que havia na casa, as rodas familiares em volta da mãe, quando compunham coletivamente letras para as musicas de autoria de Célia.

Foi preso em 1937 por obra do acaso, ignorando que o companheiro de quarto era do Partido Comunista. Foi preso e levado para a Casa de Detenção do Rio de Janeiro. Lá recebeu as primeiras luzes do marxismo, a partir da convivência com as grandes lideranças do movimento de 1935, na ditadura Vargas. Com o bom humor peculiar, na cadeia compõe um samba de breque: “Não é conversa para rir”.

Em 1949, já no Recife, Hiram assume a gerência do Jornal Folha do Povo, órgão oficial do Partido Comunista do Brasil (PCB). Eleito Miguel Arraes prefeito do Recife, em 1959, ele assume a Secretaria de Administração. Ao mesmo tempo mantém a atuação no teatro. Une-se a Ariano Suassuna, Leda Alves e Hermilo Borba filho quando é fundado o Teatro Popular do Nordeste (TPN), em 1960. Interpreta com brilhantismo o padre Antonio na peça de lançamento do TPN, A Pena e a Lei, de Suassuna e dirigida por Hermilo. Mais tarde, deflagrado o Golpe de 1964, a experiência como ator iria ajudá-lo a despistar a polícia que o perseguia, disfarçado nos personagens que inventava.

A partir do dia 1º de abril de 1964, Hiram cai na clandestinidade. O cordial Hiram é caçado como um bicho feroz. O IV exército invade sua casa e leva reféns, durante 15 dias, Célia Pereira e a filha, Sacha Lídice. Dias depois levam também os noivos de Sacha e de Nadja. Hiram estava escondido na casa de Ariano Suassuna, a pedido Don Helder, através de Leda Alves e Hermilo Borba Filho.

No dia 09 de janeiro de 1975, depois de 10 anos de clandestinidade em São Paulo, não apareceu ao “ponto” marcado com a esposa Célia. No dia 15, agentes do DOI CODI levam Célia, que não tinha qualquer militância, para “interrogatório” e é submetida a três dias de tortura, com choques e ameaças. Levam as duas filhas, Zodja e Sacha, dias depois, encapuzadas, para um depoimento cheio de ameaças e de provocações.

Hiram é membro do alto escalão do PCB. Membro do Comitê Central e uma pessoa chave para a veiculação da Voz Operária, órgão nacional do partido. Vinha sentindo-se observado. “Se eu for preso sou um homem morto, pois não aguento tortura e não tenho nada a declarar”. Recomenda às filhas para, ao serem interrogadas, não se preocupassem em esconder ou inventar nada, dissessem a verdade, apenas. Depois disso, elas só tiveram notícias por meio de um terrível depoimento do sargento Marivaldo, publicado pela revista Veja, em 1998, onde ele conta que fim a repressão dava aos que caíam em suas mãos. São detalhes de torturas, de esquartejamento, de “desova”.