A INTERNACIONAL COMUNISTA, fruto da vitória da Revolução Socialista de Outubro na Rússia (1917), respondeu à necessidade de coordenação e unidade do movimento operário revolucionário internacional. A IC foi uma contribuição importante no apoio e fortalecimento dos partidos comunistas em todo o mundo, mostrou solidariedade internacionalista desinteressada para com os povos oprimidos na luta concreta, como no caso da criação das “Brigadas Internacionais” ao lado do Exército Republicano da Espanha (1936-1938). A IC ofereceu apoio generalizado aos lutadores perseguidos em todo o mundo, levou a cabo uma atividade editorial e educativa, organizando escolas de quadro sobre a teoria revolucionária do marxismo-leninismo, além de operar redes para compartilhar informações políticas, que também incluía os jornalistas.
Os problemas e contradições na estratégia da IC que afetaram negativamente todos os partidos comunistas não negam sua contribuição ao Movimento Comunista Internacional. O legado da IC e o estudo de sua experiência são valiosos hoje para o reagrupamento do Movimento Comunista Internacional e para a elaboração de uma estratégia revolucionária unificada contra o poder capitalista.
Da Primeira Internacional à Terceira Internacional (Comunista)
1. Karl Marx e Friedrich Engels, desde o tempo das revoluções burguesas, enfatizaram o papel histórico da classe trabalhadora como a “coveira do capitalismo” e o caráter internacionalista de sua luta. Eles estabeleceram a base científica para a necessidade e a possibilidade da revolução operária comunista e definiram, como condição prévia para sua vitória, a organização internacional do movimento revolucionário. Eles abordaram a questão da ligação entre a luta da classe trabalhadora pela conquista do poder e a guerra travada pelos estados burgueses entre si pela divisão dos mercados e das fontes de matérias-primas.
Marx e Engels abriram o caminho para a fundação da Associação Internacional de Trabalhadores ou Primeira Internacional, fundada em 28 de setembro de 1864 por associações sindicais operárias, sociedades de assistência mútua, grupos políticos e culturais e organizações conspirativas. A Primeira Internacional foi fundada como uma organização internacional com seções e núcleos em vários países. Fez um chamamento à solidariedade internacional para com os trabalhadores, advertindo a classe operária, particularmente os trabalhadores alemães e franceses, sobre o perigo de uma guerra franco-alemã que poderia se transformar em uma guerra de anexação. O Manifesto Inaugural da Primeira Internacional, inspirado no Manifesto do Partido Comunista, foi um documento importante para as lutas e a perspectiva geral da classe trabalhadora.
Em toda a trajetória da Primeira Internacional, Marx e Engels lideraram a luta teórica em seu meio contra percepções pequeno-burguesas e outras, que afastavam a classe trabalhadora do exercício de seu papel independente. Eles lutaram contra o oportunismo, o bakunismo, o lassalismo e o sindicalismo britânico (tradeunionismo).
Independentemente dos problemas de diversidade ideológica, dado que suas organizações não haviam adotado o socialismo científico, a Primeira Internacional contribuiu para o fortalecimento da atividade dos sindicatos nos níveis nacional e internacional e para o desenvolvimento da natureza política de suas atividades.
Além disso, deu impulso à compreensão da necessidade de criação de partidos políticos dos trabalhadores. Sua dissolução (1876) foi o resultado de sua incapacidade de cumprir com seu papel em condições de novas exigências, o que ficou evidente após a derrota da Comuna de Paris (1871), em um período em que o capitalismo passou à sua fase superior e final, a fase imperialista.
2. A Segunda Internacional foi fundada em 14 de julho de 1889 em Paris, 100 anos após a eclosão da Revolução Francesa e a tomada da Bastilha, em um período de rápido desenvolvimento e expansão do sistema capitalista mundial, com a formação de monopólios e do capital financeiro, bem como o rápido desenvolvimento do movimento operário. Baseou-se principalmente nos partidos formados pelas antigas associações e pelos grupos da Primeira Internacional, nos quais – apesar do fato de o marxismo ter se tornado a corrente dominante no movimento operário – havia uma influência das forças reformistas, anarcossindicalistas e outras forças oportunistas. A maioria dos partidos eram frágeis no nível organizacional, político-ideológico e estavam sob pressão para restringir sua luta nos marcos da legalidade burguesa.
No final, o predomínio do reformismo nos partidos da Segunda Internacional contou com o apoio material objetivo no interior das sociedades capitalistas desenvolvidas do Ocidente, na medida em que a exploração das colônias lhes deu a oportunidade de fazer concessões à classe trabalhadora e criar uma extensa aristocracia operária.
A Segunda Internacional não funcionou como um centro revolucionário internacional, uma vez que não se constituiu como um órgão de direção única, nem tinha um único Programa e Estatuto, tampouco editou um órgão de imprensa, enquanto as resoluções dos seus Congressos não eram consideradas obrigatórias para os partidos nacionais. A Segunda Internacional (1916) foi dissolvida por causa do predomínio do desvio oportunista, que levou à traição dos interesses da classe trabalhadora em favor da burguesia na Primeira Guerra Mundial imperialista.
A maioria dos líderes da Segunda Internacional se encontraram em campos imperialistas opostos, e alguns até se tornaram ministros de guerra. Sua traição não foi algo inesperado, mas o resultado de uma linha reformista de colaboração com a burguesia em tempos de paz e “defesa da pátria burguesa” em tempos de guerra. O reformismo deu origem ao social-chauvinismo. Uma exceção brilhante foram os bolcheviques na Rússia sob a liderança de V.I.Lenin, os internacionalistas espartaquistas na Alemanha (Karl Liebknecht, Rosa Luxemburgo, Franz Mehring, etc.) e alguns socialistas balcânicos.
A Internacional Comunista – da fundação à autodissolução.
3. A Primeira Guerra Mundial imperialista acelerou o processo de transformação dos partidos social-democratas em partidos burgueses contrarrevolucionários. A vitoriosa Revolução Socialista de Outubro na Rússia em 1917 confirmou o potencial da classe trabalhadora de tomar o poder em suas mãos através da revolução.
Novamente se pôs na agenda a necessidade de formação de um único centro revolucionário internacional com os princípios e uma estrutura organizacional revolucionários, com base na teoria de Marx e Engels e na experiência da Revolução de Outubro. Lênin liderou a luta pela formação de tal centro. Ele colocou a questão da mudança dos programas dos partidos operários e da alteração de seus nomes para Partidos Comunistas, assim como a necessidade de fundar uma nova Internacional.
A Internacional Comunista foi fundada em condições de ascensão do movimento revolucionário na Europa, que se expressou principalmente por intermédio das revoltas dos trabalhadores na Finlândia (1918), na Alemanha (1918-1923) e na Hungria (1919), bem como através da atividade de vanguarda dos trabalhadores em todo o mundo, com greves, protestos e boicote do transporte de suprimentos de guerra durante a intervenção imperialista de 14 estados na Rússia revolucionária. A IC deu um grande impulso à fundação de partidos comunistas, independentemente do fato de que estes, embora adotassem suas declarações, não tinham ainda a maturidade política e ideológica para formar um programa e uma estratégia correspondente mediante uma elaboração científica.
4. No primeiro congresso fundador da IC, 52 delegados de 35 organizações de 31 países da Europa, América e Ásia participaram, enquanto alguns delegados não conseguiram chegar ao Congresso porque haviam sido detidos pelos governos burgueses. A fundação da Internacional Comunista formalizou a divisão em escala internacional e nacional que havia ocorrido em uma série de partidos social-democratas.
A plataforma do Congresso afirmou que: “Uma nova era surge. Tempo de desintegração do capitalismo, do seu colapso interno. Época da revolução comunista do proletariado … “. A plataforma programática da Internacional Comunista referiu-se à ditadura do proletariado, opôs-se à democracia burguesa por ser uma forma de ditadura do capital e criou um Manifesto para o proletariado internacional.
Em novembro de 1919, a Juventude Comunista Internacional foi fundada em Berlim para unir as forças revolucionárias da juventude com base na linha geral da Internacional Comunista e promover demandas relativas às condições de educação, vida e trabalho dos jovens e a luta contra o militarismo. Em janeiro de 1920, a Federação Comunista dos Bálcãs foi fundada como o único centro dos partidos comunistas da região, cuja primeira decisão foi aderir à Internacional Comunista.
A Internacional Comunista teve que lutar contra a influência da social-democracia no movimento dos trabalhadores. Ao fim da guerra, os mecanismos burgueses e as forças oportunistas adaptaram-se às novas condições e, como resultado, em sua propaganda prevaleceu o pacifismo, em contradição com a necessidade de luta da classe trabalhadora pela conquista do poder. Com base nisso, se fundou de novo a Segunda Internacional, enquanto que, após a Terceira Internacional, funcionou durante uns poucos anos a chamada Segunda Internacional e Meia. Ambas as organizações mantiveram alguma influência no movimento operário, com o apoio até de governos burgueses. No nível internacional, lutaram contra o poder soviético. Ao mesmo tempo, a Segunda Internacional e a Segunda Internacional e Meia se uniram à Federação Internacional de Sindicatos de Amsterdã com o apoio da Organização Internacional do Trabalho, órgão da Liga das Nações imperialista, a fim de promover os ajustes burgueses necessários e a colaboração de classes.
5. O 2º Congresso da Internacional Comunista (Petrogrado e Moscou, 6-25 de julho de 1920) aprovou as Teses e os Estatutos. As Teses levantavam questões relativas à preparação imediata para a ditadura do proletariado, a formação em cada país de um único Partido Comunista, o reforço da atividade de grupos e partidos que reconheciam a ditadura do proletariado, a combinação do trabalho legal e ilegal. Ao mesmo tempo, elas consideravam que a atividade dos partidos e grupos estava ainda “longe de ter experimentado esta mudança fundamental, esta renovação radical que é necessária para que se reconheça a ação de um comunista, correspondente às tarefas prévias à ditadura do proletariado “.
Um documento do Congresso de grande importância foi o texto sobre as 21 condições de admissão à Internacional Comunista, apresentado por Lenin, criticando os oportunistas e vacilantes delegados do Congresso, que argumentaram que o bolchevismo era um fenômeno russo. Ele destacou sua validade universal, que não entrava em contradição com nenhuma particularidade nacional. As mais básicas entre as 21 condições eram aquelas que tinham a ver com a limpeza dos partidos dos elementos socialdemocratas e reformistas, a aceitação do princípio do centralismo democrático em cada Partido Comunista e da Internacional Comunista, a expulsão daqueles que estavam em desacordo com as posições da Internacional Comunista, a condenação do pacifismo e do social-chauvinismo e, por extensão, do colonialismo.
Lenin, em sua importante obra “a doença infantil do esquerdismo no comunismo”, debateu o sectarismo que rechaçava a necessidade da combinação de todas as formas de luta, o parlamentarismo e a luta de massas não parlamentar. No entanto, o choque necessário contra essa forma de desvio foi usado pelo oportunismo de direita para se fortalecer nas fileiras dos partidos da Internacional Comunista.
Enquanto decorria o 2º (e depois o 3º) Congresso da Internacional Comunista, foram realizadas conferências internacionais com mulheres delegadas sobre o trabalho especializado entre as mulheres. O Secretariado Internacional de Mulheres tinha sua sede em Moscou e atuou sob a liderança de Clara Zetkin.
6. O 3º Congresso da Internacional Comunista (Moscou, 22 junho – 12 julho, 1921) procurou melhorar a ação dos comunistas entre as forças operárias politicamente imaturas, pois a maioria dos trabalhadores sindicalizados permaneceu ligada aos partidos social-democratas, enquanto em alguns continuou a se dar um forte debate ideológico, como na Alemanha e na Itália.
Os levantes revolucionários na Finlândia, Alemanha e Hungria foram eventos históricos de grande importância. No entanto, o fato de não terem resultados vitoriosos levou a mudanças na correlação de forças. Ao mesmo tempo, o poder burguês se estabilizou e, como resultado, a questão “reforma ou revolução” foi levantada como ponto central do debate ideológico nas fileiras do movimento operário revolucionário. Havia forte pressão exercida pela influência da social-democracia nos sindicatos, em que os comunistas tinham pouca presença por causa da perseguição, da sua exclusão dos locais de trabalho e da propaganda reacionária generalizada para a “descomunização” dos sindicatos.
O 3º Congresso lançou o slogan “rumo às massas” e a linha “frente operária única” que ajudaria, em condições não revolucionárias, a atividade conjunta dos trabalhadores influenciados por várias organizações políticas e sindicais.
O problema básico era que, nas novas condições não revolucionárias, os ensinamentos da linha revolucionária de luta nos sovietes não eram usados como experiência. De fevereiro a outubro de 1917, para alcançar uma maioria nos Sovietes, houve uma forte frente ideológica contra os mencheviques, oportunistas que eram minoria antes de 1917 no Partido Operário Social-Democrata Russo (POSDR).
Durante o 3º Congresso da Internacional Comunista, foi fundada (3 de julho 1921) a Internacional Sindical Vermelha (Profintern) com a participação de 220 delegados sindicais de todo o mundo que desejavam criar um movimento sindical na linha da luta revolucionária . As organizações sindicais que se juntaram à Profintern (tanto de forma direta como sindicatos simpatizantes ou como movimentos minoritários) contavam com cerca de 17 milhões de membros. O Profintern foi dissolvido no final de 1937, mas, essencialmente, tinha parado de funcionar antes, já que os Sindicatos Vermelhos, a partir de 1934, tinham começado a fundir-se com os reformistas no sentido de formar as frentes populares.
7. Após o 3º Congresso, a política da “Frente Única dos Trabalhadores” e as relações com a Social-Democracia constituíram uma base para o debate ideológico nos órgãos da Internacional Comunista. Alguns partidos comunistas interpretaram corretamente a “Frente Única dos Trabalhadores” como a luta pelo desenvolvimento da influência comunista junto às massas trabalhadoras e sua separação da social-democracial. Em outros casos, foi definido como um meio de pressão de baixo para mudar a linha de direção dos partidos social-democratas e alcançar a cooperação política de cima. Mas essa interpretação não foi confirmada.
O conflito terminou com a predominância da percepção em favor da colaboração com a social-democracia e inclusão da participação ou apoio dos comunistas em governos burgueses, adotada na resolução do IV Congresso da Internacional Comunista (Moscou, 7 de novembro – 3 de dezembro de 1922). O Congresso aceitou como possível a participação dos comunistas em um governo de trabalhadores e camponeses ou em um governo operário, que não seria ainda uma ditadura do proletariado, mesmo que não fosse considerado como um ponto de partida historicamente inevitável para a ditadura do proletariado.
8. O 5º Congresso da Internacional Comunista (Moscou, 17 junho – 8 julho de 1924) concluiu que a essência do slogan “governo operário-camponês” coincidia com a ditadura do proletariado e deu atenção especial à bolchevização dos partidos comunistas, o que significou seu desenvolvimento de acordo com os princípios leninistas do Partido de Novo Tipo.
Em seguida, a IC, através de uma trajetória contraditória de mudanças em sua posição em relação à social-democracia, gradualmente enfraqueceu sua frente contra ela, embora esta última tenha se desenvolvido como uma força política contrarrevolucionária do poder burguês. Dessa forma, se fortaleceram as posições oportunistas de direita nas fileiras dos partidos da IC.
9. A discussão sobre o Programa da Internacional Comunista que começou no terceiro Congerso (1921) finalmente terminou no 6º Congresso (Moscou, 15 de julho a 1 de setembro de 1928). No Programa, a análise leninista enfatizou corretamente que “a desigualdade no desenvolvimento econômico e político é uma lei absoluta do capitalismo” e, portanto, “segue-se que é possível que a vitória do socialismo comece com alguns países capitalistas, ou até mesmo por um único país capitalista “. No entanto, se distinguiram três tipos básicos de revoluções na luta pela ditadura mundial do proletariado, com base na posição de cada país capitalista integrante do sistema imperialista internacional:
1. Países do capitalismo desenvolvido em que o passo direto para a ditadura do proletariado era impossível. 2. Países com um nível médio de desenvolvimento do capitalismo, onde a transformação democrática burguesa, na qual uma transição mais ou menos rápida da revolução social-democrata para a socialista era considerada possível, não foi completada. 3. Países coloniais ou semicoloniais, nos quais a transição para a ditadura do proletariado tinha como requisito todo um período para a transformação da revolução democrática burguesa em uma revolução socialista.
Foram subestimados o caráter internacional da era do capitalismo monopolista e o aguçamento da contradição básica entre capital e trabalho. Além disso, a análise da IC não foi orientada com base no fato objetivo de que o desenvolvimento desigual das economias capitalistas e as relações desiguais entre os estados não podem ser abolidas no terreno do capitalismo. Em última análise, o caráter da revolução em cada país capitalista é objetivamente determinado pela contradição básica que é chamada a resolver, independentemente da mudança relativa na posição de cada país no sistema imperialista internacional. A partir do aguçamento da contradição básica entre capital e trabalho em cada país capitalista, na época do capitalismo monopolista, se depreendem o caráter socialista e as tarefas da revolução.
Foi subestimado o caráter da época como época de transição do capitalismo para o socialismo e o potencial das relações socialistas de produção como capazes de dar um grande impulso e de liberar o desenvolvimento das forças produtivas, tal como ficou demonstrado na União Soviética.
Equivocadamente, o imperialismo foi visto como uma forma de política externa violenta de alguns países – os mais fortes -, enquanto que no sistema imperialista se incluíam dezenas de países (o capitalismo monopolista também tinha sido formado na China e no Brasil). Ao mesmo tempo, sua caracterização como dependentes não levou em conta os interesses interconectados entre a burguesia estrangeira e a burguesia local.
Outro problema básico era que, no processo revolucionário, eram incluídas poderosas forças políticas e sociais burguesas que já estavam no poder, como na Turquia, bem como as classes burguesas do Marrocos, da Síria, etc.
O 6º Congresso Programático da Internacional Comunista corretamente apontou que “a guerra é inseparável do capitalismo”. A partir desse argumento, descobriu-se que “a abolição da guerra só é possível através da abolição do capitalismo”. O Congresso conclamou os trabalhadores a “converter a guerra” que ameaçava explodir-se entre os estados imperialistas “numa guerra civil do proletariado contra a burguesia, a fim de estabelecer a ditadura do proletariado e o socialismo”. Quanto à natureza do fascismo, este fenômeno foi considerado uma forma de reação imperialista capitalista sob determinadas condições históricas”, a fim de garantir um poder mais estável (…) à burguesia, obrigada a cada dia mais passar do sistema parlamentar para o regime fascista”.
Em relação à social-democracia, avaliou-se que: “Muitas vezes, nos momentos mais cruciais para o capitalismo, ela desempenha abertamente um papel fascista. No curso dos acontecimentos, manifesta tendências fascistas”. Esta avaliação não estava correta. A realidade é que, antes da revolução socialista, a social-democracia às vezes trabalhava para acalmar a crise dos governos liberais burgueses e deixava espaço para sua alternância com os governos fascistas.
10. Antes do 7º Congresso do Comintern (Moscou, 25 julho – 21 agosto de 1935), o Partido Comunista Francês e o Partido Comunista de Espanha, de acordo com o Comitê Executivo da Internacional Comunista, tinham procurado manter cooperação com partidos social-democratas. Finalmente, as frentes populares nesses países foram criadas em 1936, como cooperação política entre os partidos comunistas e partidos social-democratas e outros partidos burgueses e correntes oportunistas e tomaram parte ou apoiaram governos que não questionaram o poder capitalista.
O 7º Congresso caracterizou a Segunda Guerra Mundial como imperialista, mas também deu prioridade à construção da frente política antifascista. Na verdade, determinou que o surgimento de um governo antifascista era uma forma de transição para o poder dos trabalhadores. A avaliação do 6º Congresso sobre o caráter do fascismo foi substituída pela posição de que esta era “a ditadura terrorista aberta dos elementos mais reacionários, mais chauvinistas e mais imperialistas do capital financeiro”. Adotou-se a avaliação problemática de que nos partidos social-democratas se manifestava “um curso de transformação revolucionária”, concluindo sobre a necessidade de “unificação dos partidos comunistas e socialistas”, sob a condição de que estes últimos reconhecessem a derrubada revolucionária da dominação da burguesia, a unidade de ação com os partidos comunistas e o funcionamento de um novo partido com base no centralismo democrático. O fato de que o 7º Congresso estabeleceu as condições acima não aboliu o essencial: de que se criavam falsas ilusões e um espírito de reconciliação, confusão e enfraquecimento da frente político-ideológica contra a social-democracia e o oportunismo.
Após a invasão da Alemanha nazista à União Soviética, a Internacional Comunista mudou sua posição sobre o caráter da guerra, definindo-a como antifascista e determinando que “… o golpe básico agora se dirige contra o fascismo …” e “na fase atual não fazemos um chamamento pela derrubada do capitalismo nos vários países, nem por uma revolução global (…) desta luta não devemos excluir a seção da pequena burguesia, dos intelectuais e do campesinato que apoia abertamente o movimento de libertação nacional. Pelo contrário, temos de ganhá-los como aliados, e os comunistas devem fazer parte deste movimento como seu núcleo dirigente”. Esta posição subestimava o fato de que o caráter da guerra é determinado pela classe que travou a guerra e a causa da guerra, tanto se foi inicialmente e em um momento específico de defesa ou ataque. A luta contra o fascismo e pela libertação da ocupação estrangeira, pelos direitos e liberdades democráticas foi separada da luta contra o capital.
As contradições na linha da IC no que diz respeito ao caráter da Segunda Guerra Mundial também foram afetadas pelas aspirações da política externa da URSS e pela tentativa de defendê-la de uma guerra imperialista. No entanto, em qualquer caso, as necessidades da política externa de um Estado socialista não podem substituir a necessidade de uma estratégia revolucionária para cada país capitalista. A segurança absoluta de um estado socialista é determinada pela vitória global do socialismo ou pela sua predominância em um forte grupo de países e, portanto, a luta pela revolução em cada país.
11. Em 15 de maio de 1943, no meio da guerra imperialista, a autodissolução da Internacional Comunista foi decidida sob proposta do seu presidium, tendo sido ratificada por todos os partidos comunistas. Justificou-se com base na avaliação de que cumpriu sua missão histórica como forma internacional de unidade do movimento comunista. Na decisão de sua dissolução, assinalou-se que desde o 7º Congresso havia sido enfatizado que o Comitê Executivo, na solução de todos os problemas do movimento operário, deveria “atentar para as condições e particularidades concretas de cada país e evitar, como regra geral, a intervenção direta nos assuntos internos dos partidos comunistas”. Além disso, foi enfatizado que: “levando em consideração o crescimento e a maturidade política dos partidos comunistas e seus principais quadros nos vários países, e considerando também que, durante a atual guerra, uma série de seções levantou a questão de dissolver a Internacional Comunista como o principal centro do movimento internacional de trabalhadores, o Presidium do Comitê Executivo da Internacional Comunista, incapaz, como resultado da guerra mundial em convocar um Congresso (…), propõe: Dissolver a Internacional Comunista (…)”.
J.V. Stalin justificou a autodissolução dizendo, entre outras coisas, que “evidencia a mentira dos hitleristas que afirmam que Moscou tenta imiscuir-se na vida de outras nações para bolchevizá-las”. A decisão da autodissolução da IC estava em total contradição aos princípios que serviram à sua fundação. Estava em contradição ao espírito e à letra do Manifesto do Partido Comunista, ao princípio do internacionalismo proletário e à necessidade, em todas as circunstâncias, de uma estratégia revolucionária única dos partidos comunistas contra o imperialismo internacional. Outra coisa é a investigação da forma organizativa que o Movimento Comunista Internacional deve ter, seu modo de funcionamento e, é claro, sempre com a condição de formar uma estratégia revolucionária única.
12. Após a Segunda Guerra Mundial, surgiu a necessidade de uma ação unitária do Movimento Comunista Internacional frente ao contra-ataque internacional unificado do imperialismo. Isto foi expresso na formação do Bureau de Informação (Cominform) em Szklarska Poreba na Polônia (22-28 setembro de 1947) por representantes de nove Partidos Comunistas e Operários (URSS, Iugoslávia, Romênia, Bulgária, Polônia, Tchecoslováquia, Hungria, França e Itália). Na reunião de fundação, determinou-se que seu objetivo seria a troca de informações e a coordenação de atividades. De fato, o Escritório de Informação desempenhou um papel de liderança no Movimento Comunista Internacional, embora não pudesse substituir a necessidade da formação de uma nova Internacional Comunista. Foi dissolvida em 1956, como resultado da virada oportunista da direita (após o 20º Congresso do PCUS) e da crise que sofreu o Movimento Comunista Internacional.
Novas formas mais relaxadas de coordenação das atividades do Movimento Comunista Internacional se estabeleceram logo depois através de conferências internacionais de Partidos Comunistas e Operários, os quais, no entanto, não formaram a base para uma estratégia revolucionária única contra o sistema imperialista internacional.
Segue vigente a consigna do Manifesto do Partido Comunista: “Proletários de todos os países, uni-vos!”
Fonte:
KKE – Partido Comunista da Grécia
PCB – Partido Comunista Brasileiro.