Por quem os sinos dobram?

Por quem os sinos dobram?

Texto do jornalista Luiz Carlos Azedo, ex-integrante do Comitê Central do PCB.

“Nunca se vence uma guerra lutando sozinho

Cê sabe que a gente precisa entrar em contato”,

Raul Seixas

A referência ao título do romance de Ernest Hemingway, que retrata a Guerra Civil Espanhola, tem muito a ver, mas a inspiração veio mesmo é da música de Raul Seixas. Este texto é uma homenagem aos que foram sequestrados, presos, torturados e mortos porque lutavam pela liberdade e pela democracia no Brasil durante o regime militar. Especialmente àqueles militantes e dirigentes do PCB que o fizeram pacificamente, apenas defendendo com coragem, dedicação e sacrifício pessoal os seus ideais, seja no trabalho clandestino, seja nas suas atividades legais.

É um resumo objetivo, com base em levantamento feito pelo falecido dirigente comunista Hércules Corrêa, sem considerações sobre as causas das “quedas” e o comportamento das pessoas citadas, que foram barbaramente torturadas e, em alguns casos, mortas. Trata detalhadamente do desmantelamento da direção do PCB no interior do país, em meio às prisões de centenas de militantes em diversos estados, principalmente São Paulo.

Ao contrário do que acontecera até então, as prisões de 1975 foram feitas de cima para baixo, numa operação de “cerco e aniquilamento” que foi denunciada pela Voz Operária de março de 1975, a última editada no país, num editorial intitulado “Viver e Lutar”. Seu autor, o jornalista e membro do Comitê Central do PCB Orlando Bonfim Junior, é um dos dirigentes sequestrados e assassinados.

A direção do PCB, porém, foi reorganizada em dezembro de 1975, em Moscou, em reunião da qual participaram Luís Carlos Prestes, Luiz Tenório de Lima, Severino Teodoro de Melo, Zuleika D’Alambert, Agliberto Vieira de Azevedo, Hercules Corrêa dos Reis, Salomão Malina, Orestes Timbaúba e Dinarco Reis, membros efetivos do C.C; foram efetivados no Comitê Central os suplentes Armênio Guedes, José Albuquerque Salles, Lindolfo Silva e Roberto Morena. Na reunião foram promovidos a membros do C.C: Gregório Bezerra, Lindolfo Silva, Anita Leocádia Prestes, Marly A G Vianna e Regis Fratti. A reunião elegeu nova Comissão Executiva, composta por Luís Carlos Prestes, Giocondo Dias (ainda no país), Salomão Malina, Armênio Guedes e José Albuquerque Salles.

A queda das gráficas

No dia 6 de janeiro de 1975, o gráfico Raimundo Alves de Souza, procura um advogado para dizer que estava sendo seguido. Raimundo era o responsável pelas gráficas clandestinas do Rio e São Paulo. A direção foi informada. Raimundo, porém,acabou preso.

No dia 17 de janeiro de 1975, Marco Antônio Tavares Coelho foi preso no Leblon, no Rio de Janeiro, por volta das 20h. Pretendia se encontrar com a esposa e o filho, que fazia aniversário; graças a isso, sua prisão foi imediatamente comunicada aos advogados pelos familiares, o que salvou sua vida.

No dia 23, através de uma entrevista do senador Marcos Freire, a prisão foi denunciada. No dia 30, o ministro da Justiça, Armando Falcão, fez um pronunciamento na rede nacional de televisão, acusando o PCB de infringir as leis de imprensa, orgânica dos partidos políticos (participação nas eleições), de segurança nacional, e, a própria Constituição.

Foi o colapso do trabalho do Comitê Central do PCB. Entre novembro de 1974 e junho de 1976, houve muitas prisões nos estados: São Paulo, 316; Rio de Janeiro, 125; Paraná, 66; Santa Catarina,42; Bahia,30; Goiás,24; Sergipe, 21; Rio Grande do Sul, 18; Minas Gerais, 12; Brasília, 11; Pernambuco, 9.

Nesse processo, que se estendeu até metade de 1976, todos os comitês estaduais e municipais das capitais dos estados mencionados, bem como a maioria dos órgãos intermediários mais importantes do Comitê Central, foram liquidados.

No DOI-CODI de São Paulo, de novembro de 1974 a junho de 1976, foram assassinadas as seguintes pessoas: Wladimir Herzog (jornalista), José Manoel Filho (metalúrgico), Jean Leszek Dulemba (professor universitário) e José de Almeida (Tenente da Policia Militar de São Paulo). No Ceará, nesse mesmo período, assassinaram Pedro Jerônimo da Silva.

O Comitê Central

A composição do Comitê Central eleito no VI Congresso, realizado em dezembro de 1967, era a seguinte: Efetivos: Luís Carlos Prestes (Antônio), Luiz Maranhão Filho (Aldo), Walter Ribeiro (Beto), Ramiro Luchesi (Bento), Orestes Timbaúba (Caio), Sebastião Vitorino da Silva (Castro), Aristeu Nogueira Campos (Caetano), David Capistrano (Enéas), Élson Costa (Eli), Dinarco Reis (Dante), Renato Oliveira Mota (Gonzaga), Antônio Ribeiro Granja (Heitor), Armando Ziller (Ivo), Ivan Ribeiro (Ivan), Orlando Bonfim Júnior (Jorge), Marco Antônio Tavares Coelho (Jaques), Salomão Malina (Joaquim), João Massena Mello (Jacinto), Jaime Miranda de Amorim (João), Luiz Tenório de Lima (Justino), Hercules Corrêa dos Reis (Macedo), Geraldo Rodrigues dos Santos (Marcelo), Francisco Gomes Filho (Magno), Moisés Vinhas (Meireles), Zuleika D’Alambert (Marta), Giocondo Dias (Neves), Osvaldo Pacheco da Silva (Patrício), Agliberto Vieira de Azevedo (Sá), Fernando Pereira Cristino (Tales), Severino Teodoro de Melo (Vinícius) e Antônio Chamorro (Xá).

Foram eleitos suplentes: Paulino Vieira (André), Hiram Pereira Lima (Arthur), Paulo de Santana Machado (Bahia), Renato Cupertino Guimarães (Bonjardim), Dimas Perrim (Diogo), Amaro Valentim do Nascimento (Edson), Fragmon Carlos Borges (Fraga), Armênio Guedes (Genaro), Venceslau de Oliveira Moraes (Heitor), Fued Saad (Hélio), Isnar Teixeira (Isnar), Júlio Teixeira (Júlio), Jarbas de Holanda Cavalcante (Jarbas), Adalberto Timóteo da Silva (Joel), Almir Neves (Lourenço), Humberto Lucena Lopes (Lúcio), Roberto Morena (Murilo) Artur Mendes (Mendes), Mário Schenberg (Mário), Moacir Longo (Neto), Sérgio Holmos, Octacílio Gomes, Itaí José Veloso (Pedro), José Albuquerque Salles (Marcos), Givaldo Pereira de Siqueira (Rocha), Teodoro Chercov (Rildo), Carlos Avelino, Oto Santos, Rui Barata, Vulpiano Cavalcanti, Nestor Veras (Wilson) e José Leite Filho (Zé Costa).

Dos membros efetivos do C.C, foram presos entre março de 1974 e junho de 1976: Enéas, Aldo, Beto, Jacinto, Jaques, João, Patrício, Caetano, Tales, Eli, Jorge, Gonzaga, Magno e Castro. Total: 14.

Faleceram, Bento e Ivan. Renunciou, Xá. Restaram para o funcionamento da direção, 14. No exterior: Antônio, Neves, Joaquim, Macedo, Caio, Marta, Sá, Ivo, Justino, Dante e Vinícius. No interior: Marcelo, Meireles e Heitor.

Dos membros suplentes, foram presos após o VI Congresso: Mendes, Pedro, Rildo, Isnar, André, Arthur, Júlio, Heitor, Diogo, Hélio, Bonjardim, Neto, Jarbas, Zé Costa, Otacílio e Vieira. Total: 16.

Faleceu, Fraga. Restaram, para o funcionamento da Direção, 14. No exterior: Murilo, Rocha, Marcus, Genaro, Lourenço e Edgar. No interior: Joel, Edson, Mário, Baia, Rafael, Rui, Lúcio e Wilson.

A Comissão Executiva do C.C, que funcionou entre fevereiro de 1971 e dezembro de 1975, teve duas composições: De fevereiro de 1971 a novembro de 1973: Antônio, Neves, João, Dante, Jorge, Jaques e Patrício. Os suplentes, pela ordem, foram: Macedo, Beto e Caetano. De novembro de 1973 a dezembro de 1975: Antônio, Neves, Jorge, Jaques, Macedo, Joaquim e Patrício. Os suplentes, pela ordem, foram: Caetano, Beto e Caio.

Como Prestes estava no exterior, por decisão do C.C, a secretaria política dentro do país era exercida por Neves. A secretaria de organização foi exercida por João e Joaquim. A Seção de Organização foi de responsabilidade de Caetano. No Secretariado do C.C, nesse período, funcionaram: Neves, João, Tales. Pedro e Rocha.

Foram presos: Jaques, Patrício, Caetano e Tales. Foram sequestrados e assassinados: Jorge, João, Beto e Pedro.

Trabalho de Organização

Na Seção de Organização – Jaime Miranda de Amorim (sequestrado e assassinado), Aristeu Nogueira Campos (preso), Francisco Gomes Filho (preso) e Moisés Vinhas.

Na condição de quadros auxiliares da S.O – Isaías Trajano da Silva (preso), Nilton Cândido (preso), Severino Teodoro de Melo.

Na montagem e guarda de “aparelhos”, para reuniões do C.C, da C.Ex. e do Secretariado – Dinarco Reis, Jaime Miranda de Amorim (sequestrado e assassinado), Ramiro Luchesi (faleceu), José Albuquerque Salles, Walter Ribeiro (sequestrado e assassinado), Fernando Pereira Cristino (preso), Givaldo Pereira de Siqueira, Aristeu Nogueira Campos (preso).

Na condição de quadros auxiliares, mantendo e guardando “aparelhos” – Arlindo Ferreira Guimarães, Miguel Batista (preso), Paulo Melo Bastos (preso), Jarbas Rocha dos Santos (preso), Conceição Aparecida Abranches dos Santos (presa), Anísio Bertuci (preso), Isaura Pires Bertuci (presa), Hélio Isidoro Ventura (preso), Heitor Machado Vasconcelos (preso), Laurentina Batista (presa), Milton Barbosa dos Santos (preso), José Pereira de Souza (preso), Nelson Nahum (preso) e José Roman (sequestrado e assassinado).

Trabalho de Fronteira

Após o VI Congresso do PCB, realizaram, mais diretamente, o trabalho de fronteira os seguintes quadros:

Na qualidade de responsável diante do C.C – Dinarco Reis, Salomão Malina, Severino Teodoro de Melo, José Albuquerque Salles, Marco Antônio Tavares Coelho (preso) e Givaldo Pereira de Siqueira.

Na condição de quadros auxiliares: Kalil Dib, Maria Salas, Hélio Hilário da Silva (preso), Heziel Salas Navarro (preso), Douglas Kohn (preso), Genes Salas Navarro (preso), Amaro Marques de Carvalho (preso) e Edino Borgaren Corrêa (preso).

Trabalho de Finanças

Após o VI Congresso do PCB, realizaram o trabalho de finanças do C.C os seguintes quadros:

Na condição de responsável diante do C.C – Ramiro Luchesi (faleceu), Fernando Pereira Cristino (preso) e Marco Antônio Tavares Coelho (preso).

Na condição de quadro auxiliares – Ruth Simis (presa), Alacyr Pelegrino (preso), Ali Aldersi Saab (preso), José Gay Cunha (preso), Rodolfo Guilherme Piano (preso) e Dante Ancona Lopes (preso).

Trabalho de Empreendimentos

Realizaram esse trabalho, após o VI Congresso do PCB, os seguintes quadros:

Na condição de responsável diante do C.C – Ramiro Luchesi (faleceu) e Marco Antônio Tavares Coelho (preso).

Na condição de quadros auxiliares – Humberto Lucena Lopes, Marcos Jaimovitch, Neuza Campos (presa), Milton Bellantani (preso), José Arimathéia Coradilho (preso), Carlos Alberto Correia Lima (preso), Alberto Castiel (preso), José Fernandes da Silva Neto (preso), Abelardo Andrade Caminha Barros (preso), Adjalma Marques Guimarães (preso) e José Serber (preso).

Trabalho Juvenil

Realizaram esse trabalho, após o VI Congresso do PCB, os seguintes quadros:

Na condição de responsável diante do C.C – Zuleika D’Alambert e Hercules Corrêa dos Reis.

Na condição de quadros auxiliares – Anivaldo Miranda, José Montenegro de Lima (sequestrado e assassinado), Jorge Santana Machado, Regis Fratti e Jaime Rodrigues Estrela Júnior (preso).

Trabalho Sindical

Realizaram esse trabalho, após o VI Congresso do PCB, os seguintes quadros:

Na condição de responsável diante do C.C – Geraldo Rodrigues dos Santos, Itaí José Veloso (sequestrado e assassinado) e Osvaldo Pacheco da Silva (preso).

Na condição de quadros auxiliares – Luiz Tenório de Lima (preso), Antônio Chamorro, Antônio Pereira Filho (preso), Rafael Jardim, Paulo Cshe (preso), Nestor Veras (sequestrado e assassinado) e Roberto Martins da Silva (preso).

O responsável pelo Trabalho de Educação foi Renato Cupertino Guimarães (preso) e o responsável pelo Trabalho de Assessoria foi José Albuquerque Salles.

Agitação e Propaganda

Realizaram esse trabalho, após o VI Congresso do PCB, os seguintes quadros:

Na condição de responsável diante do C.C – Orlando Bonfim Júnior (sequestrado e assassinado), Fragmon Carlos Borges (faleceu) e Elson Costa (sequestrado e assassinado).

Na condição de quadro auxiliares – Raimundo Alves de Souza, responsável pela impressão das publicações (preso); Hiram Pereira de Lima, responsável pela distribuição das publicações (sequestrado e assassinado); Gutemberg Cavalcanti, responsável da gráfica clandestina do Estado da Guanabara, situada num sitio no bairro Campo Grande (preso); Elias Moura Borges, responsável pela gráfica clandestina de São Paulo, situada à Rua Gonçalves Figueira, 80, no bairro Casa Verde Alta (preso); José Leite Filho, responsável pela gráfica clandestina do Nordeste, situada em Fortaleza, Ceará (preso); José David Dib, Diretor da Gráfica ISBRA, legal, situada á Rua Santa Rita, no bairro do Braz (preso); Derveil Antônio Benedetti, responsável pela Gráfica, legal, Potiguara, situada á Rua Prates da Fonseca, 217, no bairro Moinho Velho, Ipiranga, São Paulo, Capital (preso); Aníbal Benedetti, responsável pela Gráfica, legal, Milha de Porto Alegre, Rio Grande do Sul (preso); Darcy Aquino Ribeiro, proprietário da Gráfica Gueth, de Brasília (preso); Geraldo Campos, responsável pela gráfica clandestina de Formoso, em Goiás (preso); Yoshio Ide, linotipista que assegurava esse trabalho nas gráficas do Estado da Guanabara, de Brasília e Formoso (preso; Wilson Ribeiro dos Santos, gráfico (preso); Laudo Leite Braga, gráfico (preso); Moacir Ramos da Silva, membro da SAP, dirigia a gráfica clandestina de Fortaleza, Ceará (preso); Evaldo Lopes Gonçalves da Silva Campos, membro da SAP (preso); e José Benedito dos Santos, caseiro e gráfico da gráfica clandestina do Estado da Guanabara (preso).

Trabalho Militar

Realizaram esse trabalho, após o VI Congresso do PCB, os seguintes quadros:

Na condição de responsável diante do C.C – Dinarco Reis e Giocondo Dias.

Na condição de quadros auxiliares – Renato Oliveira Mota (preso) e Almir Neves.

Foram presos 76 militantes ligados à Polícia Militar de São Paulo, sendo 63 militares e 13 civis. Entre os militares estavam: 1 Coronel, 1 Tenente Coronel, 1 Major, 2 Capitães, 7 Primeiros Tenentes, 8 Segundos Tenentes, 3 Subtenentes, 11 Primeiros Sargentos, 9 Segundos Sargentos, 5 Terceiros Sargentos, 7 Cabos e 8 Soldados. Dos 76 militantes, 48 foram processados e desses, foram condenados os seguintes: Renato Oliveira Mota (3 anos e 6 meses), Carlos Machado (Coronel, 1 ano), Vicente Silvestre (Tenente Coronel, 1 ano) e Zacarias Alfredo Freire (6 meses).

Entendimentos Políticos

Realizaram esse trabalho, a partir de 1973, os seguintes companheiros: Giocondo Dias, Luiz Maranhão Filho (sequestrado e assassinado) e Marco Antônio Tavares Coelho (preso).

Relações Exteriores

Realizaram esse trabalho, após o VI Congresso, os seguintes quadros:

Na condição de responsável diante do C.C – Luís Carlos Prestes (no interior e no exterior) e Giocondo Dias (desde 1973, no interior).

Na condição de quadro auxiliares – Fued Saad (preso), Aluísio Santos Filho (preso), Maria Laura dos Santos (presa) e Adauto Freire (o “Agente Carlos”), que está vivo e mora em Brasília.

A propósito, na comemoração dos 70 anos da Revolução Russa, em novembro 1987, o então secretário-geral do PCB, Salomão Malina, retirou-se em protesto de uma recepção da embaixada soviética em Brasília. Um dos convidados era o Agente Carlos.