“Segurança nacional” e anticomunismo – a ditadura militar e a repressão ao PCB
Muniz Ferreira (historiador e membro do Comitê Central do PCB)
De acordo com o historiador britânico Eric J. Hobsbawm, o século XX se desenvolveu à sombra do embate econômico, político e ideológico que contrapôs as forças do capitalismo ocidental e o sistema soviético.
Ainda segundo aquele autor, tal contraposição balizou os próprios limites inicial e conclusivo do século e diferenciou sua extensão cronológica de sua delimitação propriamente histórica1. Versão
novecentista da disputa sócio-política que, a partir da revolução francesa, opôs direita e esquerda, o conflito entre o movimento comunista e seus antagonistas contribuiu decisivamente para o delineamento do
perfil da centúria recém encerrada. No curso de tal embate, a produção de um discurso e de um imaginário anticomunistas adquiriu um significado estruturante do ponto de vista da conservação e da estabilidade das sociedades do hemisfério ocidental. É na rejeição ao projeto comunista se reconfigurou o próprio sentido do conceito de Ocidente, particularmente a partir da Segunda Guerra Mundial.
A sociedade brasileira não se manteve incólume aos efeitos da supra citada polarização político-ideológica, tampouco à disseminação global da ideologia e do discurso anticomunistas. Anarquista primeiro e
Comunista depois se constituíram, através da locução hegemônica entre nós, em categorizações equivalentes a epítetos difamatórios tais como: subversivo, desordeiro, inimigo da nação, anticristão,
destruidor da família e liberticida.
Em nome do enfrentamento da ameaça representada pela ampliação do ativismo e/ou da influência dos comunistas brasileiros efetivaram-se aqui duas dramáticas rupturas da legalidade institucional do país:
o golpe que conduziu a implantação do Estado Novo, em 1937 e o movimento civil-militar de abril de 1964. Tais acontecimentos, responsáveis pelo desencadeamento dos processos mais profundos e duradouros
de involução política, do ponto de vista da consolidação democrática, na história da república brasileira, ilustram por outro lado a centralidade adquirida também em nossa terra pela produção e difusão do
imaginário anticomunista.
1 CF. HOBSBAWM, Eric. A Era dos Extremos: o Breve Século XX (1914-1991). S.P. Companhia das Letras, 1995.
Documento completo no link a seguir.
https://docs.google.com/file/d/0B26h2lpJWMYlT0NWZTR1RzU2am1XWkI4c3NOTmhhOUhheDBR/edit