por Antonio Matos
Já vínhamos fazendo números experimentais há uns 10 dias, mas naquela tarde de 20 de outubro de 1969 o redator-chefe Quintino de Carvalho decidira, após uma conversa com o editor de notícias Sérgio Gomes e uma rápida reunião com o empresário e ex-banqueiro Elmano Castro, proprietário do jornal, que a “Tribuna da Bahia” começaria a circular no dia seguinte.
Nada de especial para o jornal sair às ruas naquela data, explicou. Era simplesmente o tempo necessário – com a publicação dos números zeros, para consumo interno – para que houvesse a maturação do produto. Assim como o ovo da galinha, que tem o tempo certo para ser chocado e virar pinto.
Acredito que a excepcional cobertura da “Gincana da Primavera”, promovida pela TV Aratu, do grupo da TB, e pela Rádio Excelsior e que movimentava toda a cidade, feita pelo jornal tenha sido de fundamental importância para aquela tomada de decisão.
Com uma impressão em offset, inovando com fotos abertas e em grande quantidade e um texto criativo, direto e sem jargões, a edição que falava da gincana, apesar da circulação restrita, deixou todos animados com sua positiva repercussão.
Deixaríamos de ser um “jornal fantasma”, conforme classificara o então presidente da Federação Bahiana de Futebol, Carlos Alberto de Andrade, ao ser perguntado por um assessor de que veículo de comunicação pertenciam aqueles meninos rebeldes, que o entrevistavam com perguntas nada convencionais.
O fechamento do jornal naquela noite, apesar da tensão, foi uma festa. Os secretários Osvaldo Gomes, o “Vavazinho”, e Marco Rossini, supervisionados por Quintino e Sérgio Gomes e observados de perto por Elmano, iam selecionando as notícias e definindo as páginas com os editores e com o diagramador Misael Peixoto, o “velho Misa”, com passagem por “A Tarde” e trazido, a peso de ouro, do “Jornal da Bahia”.
A equipe redacional, quase toda formada pelo mestre Quintino na Escolinha TB (uma oficina criada em 1968 e responsável pelo treinamento dos repórteres que iriam trabalhar no jornal), estava afiada e disposta a enfrentar os rigores dos efeitos do Ato Institucional número 5, editado em dezembro do ano anterior e que suspendia várias garantias constitucionais.
Jovens idealistas, sob a batuta de Quintino (antigo integrante do Partido Comunista Brasileiro e com ativa participação em “O Momento”, jornal do Partidão na Bahia) e com a cumplicidade de Elmano Castro, não nos deixávamos dobrar diante do regime autoritário da época e defendíamos, por meio da “Tribuna”, a democracia e a liberdade de imprensa.
Assim como eu, são muitos os que começaram com a TB há 45 anos, em 21 de outubro de 1969. Cito alguns deles, que certamente marcaram a história deste combativo jornal: Sérgio Gomes, Osvaldo Gomes, Pedro Formigli, Sérgio Mattos, Paolo Marconi, Roberto Pessoa, Misael Peixoto, Cid Teixeira, Sérgio Amado, Marco Rossini, Hélio Lage, Ivan de Carvalho, Wellington Cerqueira, José Augusto Oliveira, Alberto Baraúna, Joel Almeida, Mário Bomfim, Lázaro Torres, Felipe Jucá, Waldemar Figueiredo, Luiz Antônio Almada, Paulo Brandão, Raimundo Paes Menezes, Ricardo Mandarino, Jaílson Farias e Gilka Lúcia.
Publicado em Tribuna da Bahia, em 22/10/2014
http://www.tribunadabahia.com.br/2014/10/22/tribuna-o-21-de-outubro-de-1969