Artigo publicado em 15 de fevereiro de 1947 no jornal Classe Operária, do PCB, divulgava a luta desenvolvida pelos camponeses da célula comunista Fazenda do Lajeado, em Goiás, em favor da construção de uma estrada. A notícia foi transmitida pelo “Classop” do Comitê Estadual, Sebastião Naves. Classop era a designação dada, no interior da organização comunista, ao responsável pelas tarefas de receber, distribuir e enviar o dinheiro arrecadado com a venda dos jornais, assim como em relação às contribuições extras. Era também o responsável pela correspondência com o jornal.
Comunistas e camponeses goianos constroem uma estrada
Notável trabalho da célula “Fazenda Lajeado”
Uma passeata inédita na capital do Estado
Uma valiosa experiência de campo nos transmite o camarada Sebastião Naves, Classop do Comitê Estadual de Goiânia.
Trata-se de um trabalho realizado pela célula “Fazenda Lajeado”, composta totalmente de camponeses, culminando num verdadeiro desfile através das ruas da capital.
O caso é o seguinte:
De Goiânia ao “arranchamento” da Fazenda Lajeado distam dezoito quilômetros. Entretanto, em virtude de alguns atoleiros e das chácaras que foram se formando nos arredores da capital, estendendo cercas de arame farpado e cortando o caminho, aumentaram as distâncias de forma tão inconsequentes, que a Fazenda Lajeado passou a ficar a 36 quilômetros de Goiânia, com as voltas que eram obrigados a fazer os cavaleiros viajantes de autos. Isso provocava, constantemente, chacotas, como esta: “É, você vai a cavalo, eu vou a pé, preciso chegar primeiro”.
Os comunistas da célula de “Lajeado”começaram a reunir os habitantes da região, em torno de sua mais sentida reivindicação, que era a abertura da estrada até Goiânia. Em todos os encontros, casamentos, mutirões, terços, etc., essa era a conversa. Alguns fazendeiros, proprietários de chácaras no meio do caminho, naturalmente protestaram. Entretanto o movimento foi tomando corpo, resultando numa grande reunião de lavradores e agregados da Fazenda Lajeado, e de agregados e arrendantes dos próprios terrenos, que seriam cortados pela futura estrada. Reunidos em assembleia ao ar livre, deliberaram que, numa quinta-feira atacariam o trabalho de abertura da estrada.
No dia marcado, 208 lavradores munidos de machados, foices, picaretas, enxadas etc., começaram a abertura da estrada, às seis horas da manhã, cortando arames, reconstruindo pontes e abrindo covas num total de oito quilômetros, até a ligação da estrada estadual Goiânia-Anápolis. Tudo isso na melhor ordem e fraternidade, com vivas ao PCB, a Prestes, aos candidatos da “Chapa Popular”, etc. Às três horas da tarde, fizeram a ligação na estrada estadual, distando dez quilômetros de Goiânia.
Ao término da jornada, nova assembleia se formou, tomando várias deliberações. Assim é que às 16 horas, vários caminhões chegaram em frente à sede do C. E. do PCB, com homens mal vestidos, sub-alimentados, porém organizados, alegres e confiantes. Depois de saudados por dirigentes comunistas, os camponeses em companhia de advogados do Departamento jurídico do PCB, visitaram as autoridades, comunicando o fato e, em seguida, desfilaram pela cidade, precedidos de um caminhão com alto-falante, recebendo saudações da massa popular de operários em construção civil e de líderes sindicais.
Terminada a passeata, os camponeses visitaram o jornal “Estado de Goiás”, voltando a Lajeado com enorme entusiasmo.
Jornal Classe Operária
15 de fevereiro de 1947