O MUSEU DO INGÁ APRESENTA A EXPOSIÇÃO “RESSONÂNCIAS – RIO DE JANEIRO, 1964”
– UMA REFLEXÃO SOBRE MARCAS DA MEMÓRIA DO GOLPE DE ESTADO QUE AINDA
REPERCUTEM NO BRASIL ATUAL.
O público poderá conhecer registros documentais e iconográficos inéditos e
descobertos em diversos arquivos públicos e coleções privadas, que mostram
um passado pouco conhecido da história regional do Rio de Janeiro.
Ressonâncias – Rio de Janeiro, 1964
Visitação: de 02 de julho a 31 de agosto
Lembrando os 50 anos do Golpe Militar no Brasil, o Museu do Ingá, espaço da
Secretaria de Estado de Cultura, inaugura no dia 01 de julho (terça), às
18h, a exposição “Ressonâncias – Rio de Janeiro, 1964”, uma reflexão sobre
as dimensões políticas, sociais e culturais do golpe de Estado enfatizando
seus desdobramentos na história regional do Rio de Janeiro.
Para refletir sobre as repercussões do movimento político de 1964 e as
marcas deixadas na memória do Brasil recente, a exposição apresenta material
de acervos públicos e privados, reunindo pela primeira vez registros
documentais e iconográficos de época, além de depoimentos. Serão cerca de
150 documentos divididos entre as salas do belo prédio que, entre 1903 e
1975, foi a sede do poder executivo fluminense e palco da política estadual
em 1964, e que atualmente é o Museu do Ingá, em Niterói.
A curadoria da exposição é do historiador Paulo Knauss, diretor geral do
Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro, e da historiadora Andrea Telo
da Côrte, coordenadora do Centro de Estudo de História Fluminense do Museu
do Ingá. O resultado desta pesquisa foi possível a partir da parceria entre
a Secretaria de Estado de Cultura, Superintendência de Museus, a Fundação
Anita Mantuano de Artes do Estado do Rio de Janeiro (FUNARJ), a Comissão da
Verdade e da Justiça (CEV-Rio) e o Arquivo Público do Estado do Rio de
Janeiro (APERJ).
Em 1964, Niterói era a capital do antigo estado do Rio de Janeiro. O
município do Rio de Janeiro constituía o estado da Guanabara, criado em 1960
com a transferência da capital federal para Brasília. A baía da Guanabara
reunia assim dois governos estaduais: a Guanabara, então governada por
Carlos Lacerda, e o Rio de Janeiro, comandado por Badger da Silveira. Diante
do golpe de estado, o governo de cada margem assumiu uma posição, dividindo
politicamente as águas da baía. Diferente de Carlos Lacerda, líder da ala
mais conservadora udenista, cuja memória é muito celebrada em que pese às
polêmicas em que esteve envolvido, Badger Silveira foi relegado ao
esquecimento, ao silêncio, tendo sido um importante aliado do presidente
deposto João Goulart.
Os curadores da exposição ressaltam que esta é a primeira vez que o público
poderá relacionar um fato nacional – como o golpe de estado que depôs o
presidente Goulart e acabou por interromper a rotina democrática – e sua
repercussão na política regional, destacando as diferentes posições dos
governantes a partir de seus respectivos palácios de governo – o Ingá e o
Guanabara. “No caso do Palácio do Ingá, um importante teatro dos
acontecimentos da época, a exposição Ressonâncias cumpre uma importante
função ao trazer para o presente flashes da história do antigo estado do
Rio, extinto pelo decreto da fusão em 1975, e de seu último governador
eleito, Badger Silveira”, explica Andréa Telo da Côrte.
Paulo Knauss, por sua vez, conta, ainda, que a mostra lança luz sobre como o
ginásio esportivo do Caio Martins serviu de presídio político em 1964 e como
na Ilha das Flores, onde funcionou a antiga hospedaria de imigrantes, se
estabeleceu uma prisão política a partir de 1968. “Estes dois centros de
prisão política, junto com a Fortaleza de Santa Cruz, exemplificam como a
repressão política se instalou em terras fluminenses”. E acrescenta: “A
exposição também chama atenção para a questão dos mortos e desaparecidos
fluminenses e provoca o debate sobre uma época em que política e violência
se misturaram de modo único na história nacional”.
A exposição
A mostra apresenta cerca de 150 documentos, entre jornais, fotografias,
livros e folhetos censurados, a maioria inédita, ambientada nas salas do
Museu do Ingá. Logo no início a exposição aborda “O dia do golpe” destacando
as manchetes de jornais que anunciaram o golpe de Estado iniciado no dia 01
de abril de 1964. O visitante poderá ver como os jornais do Rio de Janeiro e
de Niterói expressaram o fato da política nacional que repercutiu na esfera
regional.
Numa das salas principais, “Os dois lados da história”, se caracteriza como
a política regional se dividiu em 1964, contrapondo a posição favorável ao
golpe do então governador da Guanabara, Carlos Lacerda, e a oposição do
governador fluminense, Badger Silveira, que terminou sendo deposto em maio
de 1964. Esta sala reúne fotos dos governadores, junto a uma ambientação
sonora com o discurso de Auro de Moura Andrade declarando vaga a presidência
do país. O acervo chama atenção para o papel do rádio e do fotojornalismo na
política da época. Destaca-se, ainda, uma vitrine com material de campanha
eleitoral do ex-governador do Rio de Janeiro, nunca exposto e caracteriza os
modos de fazer política na época.
Em seguida, o visitante é conduzido à sala “Memórias da repressão e da
resistência”. Documentos de arquivos retratam como a repressão política se
organizou na região do Rio de Janeiro, que terminou por reunir o maior
número de centros de repressão e tortura no país. A sala abriga, ainda,
materiais referentes aos porões da ditadura em solo niteroiense como o
ginásio esportivo Caio Martins, construído na década de 1950 que poucos dias
após o golpe de 1964 passou a ser usado como presídio político, e a Ilha das
Flores, que a partir de 1968 também foi usada como prisão e centro de
tortura. O movimento de resistência é representado especialmente pela
galeria de nomes de mortos e desaparecidos fluminenses, além de documentos
sobre presos políticos e da luta pela anistia.
No espaço dedicado ao “Movimento Estudantil” são apresentados cartazes
manuscritos que tematizam como os estudantes lideraram a mobilização social
e a crítica política naquele tempo de autoritarismo no Brasil.
Por fim, na sala “Cultura sob censura” são reunidos cartazes impressos de
filmes de cinema avaliados pelo serviço de censura e que são identificados
pelo carimbo de controle. A censura foi uma face da repressão social,
condicionando os rumos da criação cultural. Entre a proibição e o
consentimento o regime político revelou suas contradições.
A curadoria
Paulo Knauss é doutor em História pela Universidade Federal Fluminense, com
pós-doutorado pela Universidade de Estrasburgo, França. Desenvolve pesquisas
na área de História sobre as relações entre Memória e Patrimônio Cultural;
Imagem, Arte e Política. É professor do departamento de História e do
Laboratório de História Oral e Imagem da Universidade Federal Fluminense.
Desde 2007 exerce o cargo de Diretor-Geral do Arquivo Público do Estado do
Rio de Janeiro. Entre suas publicações mais recentes, destaca-se o livro em
coautoria Brasil: uma cartografia (Casa da Palavra, 2010).
Andréa Telo da Côrte é doutora em História pela Universidade Federal
Fluminense. Desde 2008 é coordenadora do Centro de Estudos de História
Fluminense do Museu do Ingá/Funarj, onde dedica-se à pesquisa sobre o Estado
do Rio de Janeiro durante a República. Dentre seus principais trabalhos
estão os seguintes livros: Nilo Peçanha e o Rio de Janeiro no cenário da
Federação (Museu do Ingá/2009): Política, Economia, Finanças. Os discursos
da Campanha da Reação República ((Museu do Ingá/ 2009); Praça da República:
poder, identidade e história urbana em Niterói. (Niterói Livros, 2011),
Amaral Peixoto: memória, história e política (Museu do Ingá, 2013),
Prestamistas, comerciantes e doutores. Uma história dos judeus em Niterói.
(Garamond, 2013), e Novos Capítulos de História Fluminense (Museu do
Ingá/2014).
http://www.sopacultural.com/museu-inga-abre-exposicao-sobre-golpe-com-documentos-ineditos/
Serviço:
Ressonâncias – Rio de Janeiro, 1964
Abertura: Abertura: terça-feira, 01 de julho, às 18h
Visitação: de 02 de julho a 31 de agosto
Local: Museu do Ingá
Rua Presidente Pedreira, 78, Ingá, Niterói, RJ – + 55 21 2717-2919
Grátis
Visitas: terça a sexta: 12h às 17h
Sábados, Domingos e feriado: 13h às 17h
As visitas mediadas para grupos serão realizadas com agendamento prévio pelo telefone
(21) 2717-2903 – museudoinga@hotmail.com