Gervásio Gomes de Azevedo: esquecido pela história oficial

Gervásio Gomes de Azevedo foi um dos deputados constituintes de 1946 que, fazendo parte da combativa bancada de comunistas, teve seu mandato cassado arbitrariamente pelo governo de Eurico Gaspar Dutra, subserviente ao imperialismo, no auge da Guerra Fria no Brasil. Quem escreve para lembrarmos desse militante é o secretário de Formação Política do PCB, Ricardo Costa, a partir de reportagem do Jornal Local, de Valença, edição de 22/08/2013.

Gervásio era natural de Valença, no interior do Estado do Rio. Morreu na mesma cidade, vítima de um disparo de arma de fogo há cinquenta anos, em 13 de agosto de 1963.

Gervásio serviu na Segunda Guerra Mundial como enfermeiro, tendo participado da tomada do Monte Castelo, na Itália. Em sua atuação parlamentar, destacou-se na defesa dos pracinhas, visando à conquista de benefícios para os ex-combatentes e seus familiares, que foram esquecidos pelo poder público quando voltaram ao Brasil, segundo conta a neta Paloma Oliveto, jornalista do Correio Braziliense, que guarda uma pasta contendo os discursos e projetos do ex-deputado comunista.

Nascido no distrito de Santa Isabel do Rio Preto, em Valença, desde criança teve de tomar conta dos irmãos, por causa da morte prematura do pai. Adolescente, foi para o Rio de Janeiro, onde conheceu Carlos Lacerda, então membro da Juventude Comunista. Os dois chegaram a dividir um quarto em uma pensão no Centro do Rio, mas tomaram caminhos opostos mais tarde, quando Lacerda abandonou o PCB para tornar-se, depois, um dos principais baluartes da direita brasileira.

Gervásio mudou-se para São Paulo, onde trabalhou no Hospital Militar como enfermeiro. No início da década de 1940, apaixonou-se e casou-se, em Valença, com Maria Aparecida, companheira de toda a vida. Em 1944, foi para a Guerra, seguindo a opção de vários comunistas, que se alistaram nas forças armadas brasileiras. Ao retornar ao Brasil, recebeu a tarefa partidária de se candidatar a deputado federal, conquistando uma das 14 cadeiras ocupadas pelos comunistas. Quando ocorreu a cassação, foi um dos deputados que reagiram de forma contundente ao expediente ditatorial, conforme relatado pelo jornal estadunidense The Daily News, em 1º de agosto de 1947, em matéria de capa sobre a cassação dos comunistas brasileiros.

A partir daí, não houve mais descanso para Gervásio, nem para qualquer dos comunistas brasileiros, que sofreram perseguição intermitente. Sofreu também torturas na prisão do DOPS (Departamento de Ordem Política e Social), pois era “suspeito de distribuir material subversivo no norte do Estado”, conforme reportagem do Estado de São Paulo, de 24 de fevereiro de 1948. Depois de liberado pela polícia, Gervásio ficou clandestino e somente pôde conhecer a filha em 1951, cinco anos após ela ter nascido. Voltou a Valença e continuou dedicando-se integralmente às causas populares, como um dos mais atuantes integrantes da União Operária. Trabalhou como foguista na Estrada de Ferro Central do Brasil e, depois, como jornalista, tendo escrito para vários periódicos, a exemplo do Correio da Manhã, além de atuar como redator-chefe de O Valenciano, por longo período.

Embora muitos valencianos ainda acreditem que tenha sido vítima de um tiro acidental, a família sustenta que Gervásio tenha sido assassinado a mando de um fazendeiro descontente com as suas ações políticas, na orientação aos trabalhadores rurais para que buscassem se organizar em defesa dos direitos na Justiça. Levou um tiro no abdômen e caminhou da redação do jornal O Valenciano até o hospital, onde foi operado, mas não resistiu aos ferimentos, vindo a falecer. Seu nome está gravado numa pequena rua de Valença, no Bairro de Fátima.

No dia 13 de agosto de 2013, Gervásio e os demais constituintes comunistas cassados em 1947 receberam homenagem da Câmara dos Deputados, que devolveu simbolicamente os mandatos aos 14 deputados do PCB: Carlos Marighella, Francisco Gomes, Agostinho Dias de Oliveira, Alcêdo Coutinho, Gregório Bezerra, Jorge Amado, João Amazonas, Maurício Grabois, Abílio Fernandes, Claudino José da Silva, Henrique Cordeiro, José Maria Crispim, Oswaldo Pacheco e Gervásio Gomes de Azevedo.