Em 2012, o PCB homenageou o centenário militante comunista Elizeu Alves, vereador do Partido no Rio de Janeiro na primeira metade da década de 1950, com a Medalha Dinarco Reis. A entrega ocorreu durante as comemorações de 90 anos do PCB, em Ato Público ocorrido na Associação Brasileira de Imprensa (ABI).
Mesmo aos 100 anos de idade, Elizeu fez questão de subir os altos degraus que dão início ao palco da ABI para fazer uso da palavra. Lembrou algumas passagens, camaradas e afirmou categoricamente que “valores não se compram nem se vendem”. Conheça um pouco sobre esse centenário comunista.
Nascido em Sambueiro, no Ceará, Elizeu Alves de Oliveira desde cedo aprendeu a necessidade do trabalho duro e, aos 12 anos, foi aterrorizado pelo vigário local sobre a novidade que então chegava na região: a vinda da Coluna Prestes, os “homens de Satanás”.
Isso não impediu, entretanto, que a rebeldia e a vontade de descortinar o mundo marcassem encontro com Elizeu, que recentemente completou 100 anos – sim, ele tem mais anos de vida que o próprio PCB, nasceu em 10 de março de 1912.
O curto período de convivência com o então tenente rebelde Luiz Carlos Prestes fez com que este jovem, aos 14 anos, fugisse de casa três vezes para acompanhar a Coluna. Já estava tomado por ideias de distribuição equitativa das riquezas produzidas e contra as injustiças vivenciadas no período.
Ao lado do primo, foi para Fortaleza quando o governo criou a comissão Nacional de Obras contra a Seca (CNOCS). Foi o diretor-geral local do órgão que lhe apresentou, pela primeira vez, o jornal “A Classe Operária”. Após lá trabalhar por certo período, partiu para o Rio de Janeiro, onde serviu guarda no regimento da Escola de Infantaria.
O quartel foi o ambiente no qual Elizeu foi recrutado para as fileiras do Partido Comunista, através de indicação do tenente Humberto. De férias, soube dos acontecimentos do Levante de 1935 pelos matutinos e logo se deslocou para a Base Aérea de Campos dos Affonsos, para participar do evento junto aos revoltosos. O local, como outros, recebeu cerco e artilharia pesada das forças pró-governo.
Ali sofreu a primeira das inúmeras prisões e foi expulso das Forças Armadas. Com a esposa, Stella Gregory, a quem conheceu em uma reunião do Partido, grávida do primeiro filho, teve de se mudar para Petrópolis ao sair da cadeia, em busca de sustento.
Mais tarde retorna ao Rio de Janeiro começa a trabalhar nos bondes da cidade e se destaca no movimento sindical. Aos lado de outros comunistas, é eleito presidente do Sindicato dos Carris, coroando seu trabalho de organizador ativo que foi das associações de funcionários da Light. Mas o governo impediu que ele e seus companheiros tomassem posse da entidade.
Seu protagonismo no movimento, entretanto, já estava consolidado, e foi isso que o levou a ser convocado para uma reunião, a pedido de Prestes, no ano seguinte (1950). Mesmo a contragosto, saiu de lá candidato a vereador no Rio de Janeiro. Ao lado de Aristides Saldanha e Milton Lobato, compôs a bancada comunista na Câmara Municipal do Rio de Janeiro.
Cumpriu seu mandato nas manifestações e ruas: colheu assinaturas pela campanha da paz e contra o envio de tropas para o conflito na Coréia, foi participante ativo da campanha O Petróleo é Nosso e defendeu movimentos revolucionários na tribuna parlamentar.
Terminado seu mandato, tentou voltar ao trabalho, mas a Light, após 22 anos de casa, subornou juízes para impedi-lo de voltar aos quadros da empresa através de uma demissão por “INjusta causa”.
Em 31 de março de 1964 estava nas ruas, com vários camaradas, esperando pelas armas prometidas – que nunca chegaram. Durante a ditadura, teve sua casa invadida inúmeras vezes pela repressão. Teve tomados pela Polícia arquivos, documentos, fotografias.
A abertura política do regime encontra Elizeu ativo participante da Intersindical do Rio de Janeiro, ele que foi um dos fundadores – por anos presidente – da Federação dos Aposentados.