‘Tia Nair’, presente!

Em novo texto do ator Bemvindo Sequeira, lembramos de Nair Busmayer, a “tia Nair”, aguerrida militante comunista da Ilha do governador, no Rio de Janeiro.

“Tia” Nair Busmayer era paranaense de Curitiba.

Quando Nair ainda morava no Paraná era comum ela hospedar e dar guarida a Marighella, Prestes, e muitos outros companheiros do Comitê Central.

Também por sua casa passavam e se hospedavam muitas vezes as companhias teatrais que iam a Curitiba. Entre eles: Paulo Goulart e Nicete Bruno, Vanda Lacerda , André Villon e tantos outros.

Nair era casada com um oficial reformado do Exército: o “Avô” como o chamávamos.

Presidente e fundadora da Casa Brasil-Cuba, era amiga de Che Guevara , de Fidel, e sempre muito bem recebida em Cuba.

Morava também a apenas algumas centenas de metros de Tia Helena, na Estrada da Porteira, Pixunas, hoje , Bancários.

O que diferenciava Tia Nair da Tia Helena era a impetuosidade da primeira. Enquanto Helena era prudente e calma, Nair era atirada e agitada. Durante as passeatas contra a Ditadura, pegava pelas mãos as duas netas, então uma com nove   e outra com dez anos e as levava às ruas:

-“Está na hora dessas meninas aprenderem a luta” . Dizia.

Sua casa também estava sempre de portas abertas, e cheia de jovens da ilha.

Jogávamos buraco com o avô, que não era militante, mas na sua ciência da paz apoiava silenciosamente tudo o que a avó fazia.

Eu particularmente a chamava de avó. Mais próximo pela idade que estava das netas que dos seus dois filhos, ambos também comunistas.

A avó era tão agitada que aos quase oitenta anos foi fazer faculdade de jornalismo e acabou presidente do DA.

Entrou para as Bandeirantes da Ilha, que se reuniam na Base Naval dos Fuzileiros, apenas para saber o que se passava nas dependências militares e “fazer a cabeça das jovens bandeirantes” como ela dizia.

O nome de guerra da avó era Rosa. A companheira Rosa.

Altiva até mesmo quando o Exército invadiu sua casa em 1964, e ela velava a agonia da sua neta a mais nova das três, que morria de leucemia, enquanto o avô era levado para depor, pois fora encontrada uma espada ( a sua de oficial do Exército ) em casa, logo era uma arma.

O avô nos deixou primeiro, e ela , bem depois, já com mais de oitenta anos ainda arranjou um namorado: um pescador idoso da Colônia de Pesca Z-1 da Ilha. Um trabalhador. Até no novo amor fora fiel à sua ideologia.

A avó faleceu aos 87 anos de idade. Deixou um exemplo de luta, perseverança, dignidade e espírito humanista.

Imaginem a dor de uma avó, vendo sua neta moribunda sobre uma cama e o Exército revirando a casa.

Enfrentou a tudo com muita altivez.

Grato Tia Nair. Vó Nair.