Título: Do marxismo ao pós-marxismo?
Título Original: From marxism to post-marxism?
Autor(a): Göran Therborn
Prefácio: orelha: Ruy Braga
Tradutor(a): Rodrigo Nobile
Páginas: 160
Ano de publicação: 2012
ISBN: 978-85-7559-166-6
Preço: R$ 39,00
Planejado como um mapa e uma bússola, Do marxismo ao pós-marxismo?, do sociólogo sueco Göran Therborn, é uma tentativa de entender as mudanças sociais e intelectuais entre os séculos XX e XXI. Não tem a pretensão de ser uma história das ideias, mas apresenta propósitos bem claros: situar os espaços de pensamento e as práticas da esquerda; analisar a trajetória do marxismo no século XX; antecipar seu legado para o pensamento radical no século XXI.
Radicado em Cambridge, Therborn é conhecido pela desenvoltura com temas diversos, que vão do alto nível de especialização exigido pelas estatísticas demográficas até os desdobramentos contemporâneos do pensamento crítico. “Estamos diante de um sociólogo vocacionado para a pesquisa conceitual, mas que não renuncia ao diálogo com os dados empíricos”, afirma Ruy Braga ao distinguir Therborn de outros teóricos sociais. “Num ambiente universitário cada dia mais especializado, este livro relembra-nos uma antiga lição do marxismo clássico: o contato com audiências extra-acadêmicas enriquece o pensamento crítico.”
Aqueles que conhecem o sociólogo apenas por Sexo e poder, seu memorável estudo das transformações da instituição familiar no século XX, possivelmente se surpreenderão com Do marxismo ao pós-marxismo?, publicado pela primeira vez em português pela Boitempo.
A pergunta que norteia este livro conciso e panorâmico é: o marxismo ainda é relevante? Para Therborn, o marxismo pode ter um futuro incerto, mas sua principal fonte ainda tem muito a oferecer para a nossa época: “É bastante provável que Marx seja redescoberto muitas vezes no futuro; novas interpretações serão feitas e novas inspirações serão encontradas – embora pouco propícias a identificações ismo-ista. (…) a impressão que tenho é que ele está amadurecendo, como um bom queijo ou um vinho de safra – não recomendável para festas dionisíacas ou pequenos goles na frente de batalha. Ele é, de preferência, uma companhia estimulante para o pensamento profundo sobre os significados da modernidade e da emancipação humana”, afirma o autor, para quem a história da filosofia tende a produzir sempre novas técnicas de leitura.
Estimulante para o especialista e acessível ao público em geral, o livro assume uma visão planetária que observa a economia global, faz o balanço dos sucessos da “esquerda” no século XX e lamenta o que o autor chama de “a guerra de Bush contra o mundo”. Depois de apresentar uma breve história do marxismo no século XX, o terceiro e talvez mais impressionante ensaio analisa o espectro de intelectuais de esquerda na virada do século XXI, abordando Habermas, Derrida, Hardt e Negri, entre outros. Suas observações afiadas alcançam as mais recentes tendências da filosofia contemporânea, como a retomada teológica da crença defendida por Alain Badiou e Slavoj Žižzek e o utopismo de Fredric Jameson e David Harvey.
Em uma declaração provocativa, Therborn diz que a esquerda precisa redescobrir um senso de diversão e prazer. “O compromisso da esquerda com o trabalho, com os direitos humanos socialmente significativos e com a não violência deveria cogitar também uma sociedade universal de prazer e diversão. A alegria sensual tem sido uma das contribuições brasileiras mais importantes aos Fóruns Sociais Mundiais e à possibilidade de um mundo diferente.”
Trecho do livro
O capitalismo ainda produz e continuará a produzir um sentimento de indignação. Nesse sentido, a linha de continuidade que vai do século XIX ao século XXI, passando pelo século XX, persistirá tanto em termos de resistência quanto de crítica. Os futuros filósofos certamente publicarão novas leituras de Marx. Os resistentes e os críticos anticapitalistas do século XXI dificilmente esquecerão os horizontes socialistas e comunistas dos últimos duzentos anos. Mas é duvidoso, talvez até improvável, que assistam ao surgimento de um futuro diferente com essas mesmas cores. Novas coortes de cientistas sociais anticapitalistas virão e muitos lerão Marx, mas é duvidoso que considerem significativo chamar a si mesmos de marxistas. O triângulo marxista clássico foi rompido e é improvável que seja restaurado.
A resistência da esquerda nos anos 1960 provocou um rompimento histórico importante. Essa geração viveu o ápice e o começo do declínio da força da classe trabalhadora no capitalismo desenvolvido. Viu a imagem da revolução em 1968 e a implosão da perspectiva revolucionária em 1989-1991, uma perspectiva que se abriu em 1789 e 1917. Nesse ínterim, experimentou a revolução sexual e de gênero do fim do século XX. Foi a geração que viveu e criticou o auge do capitalismo do Atlântico Norte e ainda testemunhou o retorno do Sul e do Leste Asiático ao palco principal do mundo. Por razões contingentes e práticas – a disponibilidade de espaço e tempo e as limitações linguísticas –, esse panorama restringiu-se à região norte-atlântica/norte-americana. Essa ainda é a região de onde partem os bombardeios e os mísseis mais letais, mas não é mais o palco principal, em que se decidirá o destino do capitalismo no século XXI. Daí a importância extraordinária da teorização global e, mais ainda, das pesquisas empíricas globais.
Sobre o autor
Nascido em 1941 em Kalmar, na Suécia, Göran Therborn é Ph.D. em Sociologia pela Universidade de Lund (Suécia) e, desde 2006, professor-emérito (atualmente aposentado) e diretor de pesquisa na Universidade de Cambridge. Nos anos 1970 e 1980, publicou uma série de obras teóricas marxistas, mas desde o início da década de 1990 seu trabalho foca-se principalmente nos estudos sobre modernidades comparadas, sociedade europeia e processos globais. Do marxismo ao pós-marxismo? (Boitempo) é uma retomada dos estudos desenvolvidos nas décadas anteriores.