A REVOLUÇÃO CUBANA

Zuleide Faria de Mello

I – DE MARTÍ A FIDEL

“A força do Partido Revolucionário Cubano emana do Espírito que o move, que brota em todas as partes, que não é obra de um só homem, nem sua ação resulta da cabeça de algum iluminado, militar ou civil, que sonhe com a imortalidade, que busque apoio complacente para suas veleidades ou a glória futura no meio dos seus concidadãos, mas que representa todos os cubanos livres que queiram reedificar o país e encontrar a melhor e menos cruenta forma de libertá-lo”.

(José Martí, Lançamento do Partido Revolucionário Cubano. Nova York, 17 de abril de 1892)

José Martí “O Libertador”, “O Patriarca da Independência”, “O Herói Nacional de Cuba”, nasceu em 28 de janeiro de 1853, em Havana, de pais espanhóis. Com quatro anos vai para a Espanha com a família, que regressa a Cuba em 1859.

Na adolescência, com 16 anos de idade, vivencia a Guerra dos Dez Dias (A Guerra Pequenina), que foi a primeira batalha de Cuba contra o Colonialismo espanhol. Martí participa do entusiasmo geral e escreve o soneto “Dez de Outubro”, e publica seu primeiro artigo “Ou Yara ou Madri”, no jornal “El Diablo Cojuelo”, incitando o povo cubano a tomar posição contra a Espanha; publica, ainda, sua primeira obra dramática “Abdala”, no semanário “Pátria Livre”.

Em outubro de 1859, Martí é preso, acusado de traição e é submetido, junto com outros amigos, a um Conselho de Guerra que o condenou a seis anos de prisão, com trabalhos forçados: 12 horas por dia quebrando e carregando pedras nas pedreiras de São Lázaro, acorrentado, com uma argola de ferro no tornozelo que subia e envolvia sua cintura; em pouco tempo, sua saúde estava completamente deteriorada.

Seus pais procuraram amigos para interceder pela sua libertação, e cerca de seis meses depois, Martí foi libertado, mas com a condição de que seria deportado para a Espanha. Já na Espanha, publica o folheto “O Presídio Político em Cuba”, denúncia estarrecedora das prisões de presos políticos em Cuba.

Pouco depois, publicou “A República Espanhola ante a Revolução Cubana” onde proclamava o direito de Cuba à independência e afirma que: “Cuba, pela força da sua vontade irreversível e por força da necessidade histórica, chegará, também, a ser livre”. Estudou Direito, Letras e Filosofia.

Em 1875, vai para o México e se incorpora, rapidamente, à vida intelectual do país. Dois anos depois, traslada-se para a Guatemala, onde freqüenta sociedades literárias importantes e exerce o magistério na Escola Normal para Professores, e, em 1879, volta para Cuba, aproveitando a anistia política que fora decretada ao final da Guerra dos Dez Anos.

Em Havana, é assistente em escritórios de Advocacia, ministra aulas, profere cursos. E a maior parte do tempo, participa de reuniões conspirativas em defesa da independência do seu país.

Em junho de 1879, o Comitê Revolucionário Cubano, de Nova York, indica José A. Aquilera e José Martí, respectivamente, Delegado e Sub-Delegado do Comitê em Cuba. Essas atividades conspirativas são denunciadas e José Martí é preso e, mais uma vez, deportado para a Espanha; depois de algum tempo em Madri consegue evadir-se para Paris e, em seguida, escapar para os EUA. Fixa-se em Nova York e é eleito vogal do Comitê Revolucionário Cubano, que o centro organizador e coordenador do movimento insurrecional.

Preside, interinamente, o Comitê e publica artigos e crônicas em inglês, na revista “The Hour” e no jornal “The Sun”. Profere discursos para os emigrantes cubanos e em prestigiosas publicações, como “Steck Hall”.

Em 1881, Martí, pesaroso pelo desfecho desfavorável da Guerra Pequenina contra o Colonialismo espanhol, fixa residência na Venezuela, onde, rapidamente, ganha o respeito e a admiração dos venezuelanos por sua oratória e dedicação à luta revolucionária. Naturalmente, provoca a ira do ditador Guzmán Blanco, que o expulsa do país.

Martí retorna a Nova York e prossegue com as atividades intelectuais e revolucionárias e aumenta a colaboração com jornais e revistas do Continente. Dedica-se, também, a traduzir livros e intensifica seu trabalho político. No final de 1880, lança o primeiro número da revista “La Edad de Oro”, dedicada às crianças da América Latina, da qual foram publicados quatro números.

A confiança de que goza em todo o Continente é visível. O Governo da Argentina e o Governo do Paraguai o nomeiam Cônsul em Nova York, cargo que exerceu com muito destaque, e o Governo do Uruguai o designa como seu representante na Comissão Monetária Internacional Americana, que se reunirá em Washington. Recebe Certificado de Membro Ativo da Instituição Literária “Tivilight Club”.

Martí empenha-se no trabalho político, seja na organização seja produzindo materiais de cunho ideológico. Publica na “Revista Illustrada”, de Nova York, o ensaio “Nossa América”, que enfoca, com ótica antiimperialista, os problemas e o destino dos povos latino-americanos, enfatizando a luta contra os dominadores.

No início de 1892, sai publicado o primeiro número do jornal “Pátria”, fundado e dirigido por Martí, e que se tornou o veículo de divulgação da ideologia do futuro Partido Revolucionário Cubano. Martí já havia reunido com os cubanos refugiados nos EUA, após o final frustrante da Guerra dos Dez Dias e já havia estabelecido um forte grau de unidade entre todos e a disposição de enfrentar as tropas espanholas.

Em 17 de abril de 1892, em Ato com a participação de grande contingente de cubanos, Martí proclama a criação do Partido Revolucionário Cubano. Propõe, então, que as instâncias dos Clubes existentes reúnam os militares que integram suas fileiras para que, em votação secreta, escolham o Comando Militar do Partido, o Comando Supremo das Forças que irão protagonizar a guerra que se está preparando. A escolha recaiu no General Máximo Gómez, refugiado na República Dominicana.

A partir daí, Martí trabalha incansavelmente para ampliar a proposta de um Partido e visita todos os clubes formados pelos cubanos, tanto dentro dos EUA como em outros países das Antilhas, em busca de apoio. Numa dessas viagens é vítima de tentativa de assassinato, por envenenamento, que o deixou em estado grave.

Nos dois anos seguintes, Martí prossegue seu infatigável trabalho político, para sedimentar a idéia da necessidade da guerra contra os espanhóis. É, reconhecidamente, a alma e a inteligência do Movimento Revolucionário, que orienta com passos firmes e seguros.

No final de 1894, já existem entre os emigrados e os da Ilha condições favoráveis para concretizar a luta, tanto que tem início a execução do “Plano de Fernandina”, com frete de embarcações que carregarão o material necessário e recolherão os patriotas que iniciarão o ataque nas três primeiras Províncias de Cuba e chegou-se a divulgar a Ordem geral do Levante. No entanto, o Plano foi abortado pela traição de um delator.

Rapidamente, os revolucionários reorganizam o Movimento e decidem que a guerra terá início nos primeiros meses do ano seguinte. Intensificam-se os preparativos, os deslocamentos e as comunicações. Em 25 de março de 1895, Martí e o General Máximo Gómez assinam o “Manifesto de Montecristi” e, pouco depois, partem para Cuba e chegam na costa sul da Província Oriente, rumando para Camaguey.

Em 25 de abril encontram-se com as tropas do Gen. José Maceo, que saíam de uma brilhante vitória em Arroyo Fondo. Sucedem-se várias batalhas entre o Exército Cubano e as tropas espanholas. Martí e Gómez estavam acampados em ranchos abandonados quando são informados de que o Gen, Masó havia acampado com as tropas espanholas em uma fazenda nas imediações.

Martí e Gómez dirigem-se para o local com grande entusiasmo e travam escaramuças com os soldados espanhóis. Uma patrulha cubana detecta que o grosso da tropa espanhola, sob o comando do Gen. Ximénez de Sandoval, avança estrategicamente pelo terreno. Gómez decide travar o combate com a tropa inimiga, mas ordena a Martí que não participe da luta, e certo de que seria atendido, segue em frente com os demais combatentes.

Martí aguarda um pouco e decide que está apto para o combate. Esporeia o cavalo e avança, com seu ajudante de ordens, para o local onde se trava o confronto. Inadvertidamente, faz um movimento que o aproxima de uma escolta do inimigo, que não avistara por estar oculto pelo mato alto. Sem se aperceber do perigo, avança em direção à escolta espanhola, arma em punho. Três balas varam o corpo de José Martí, lançando-o do cavalo, ferido de morte. Morre lutando pela Liberdade e pela Independência de Cuba, que sempre defendeu.

Para Martí, só com a Independência poderia surgir uma “nova América”, sem os “velhos males” do Colonialismo. Seu ideário era uma América Latina unida e livre da dominação européia, pois só assim, poderia devolver-se e recuperar sua “alma própria”.

Martí era antiimperialista e pregava que para construir-se o latino-americano havia que impedir o expansionismo norte-americano sobre o Continente Latino-Americano. Alertava sobre as intenções anexionistas e de domínio econômico dos países latinos por parte dos EUA.

Por isso, pregava a necessidade da mobilização da população, mas, também, a unidade não só dos veteranos da Guerra dos Dez Anos, mas igualmente, dos países latinos para poder vencer os dominadores.

Nos seus escritos, deixou registrado muito dos seus pensamentos:

 

“Los árboles se han de poner en fila, para que no pase el gigante de las siete léguas! Es la hora de recuento y de la marcha unida, y hemos de andar en cuadro apretado, como la planta en las raíces de los Andes”.

“Un error en Cuba, es un error en América, es un error en la humanidad moderna. Quien se levanta hoy con Cuba se levanta por todos los tiempos”.

 

O período interguerras de Independência (l878-l895) foi um período de crescente dependência econômica de Cuba aos EUA, com a presença de investidores e empresas estadunidenses que dominaram parte substancial da terra cultivável da Ilha, controlando, de forma cada vez mais intensa, o acesso às matérias-primas e produtos cubanos, como o açúcar, o ferro, o manganês, o tabaco. Estreitou-se, assim, a aproximação entre Cuba e os EUA, o que aumentou as ambições anexionistas dos seus governos, encorajados pela simpatia demonstrada por boa parte da oligarquia cubana, simpatia essa presente em todo o desenrolar da segunda guerra de Independência.

O cérebro do movimento independentista, José Martí, foi a grande baixa das forças cubanas, ao morrer em combate, em l895, e, posteriormente, Antonio Maceo, veterano da Guerra dos Dez Anos, e em que pese a experiência e as vitórias conquistadas, morreu em l896.

A despeito dessas grandes perdas, as forças cubanas já vislumbravam expulsar, definitivamente, os espanhóis, conquistando, enfim, a tão sonhada Independência de Cuba. Foi nesse contexto, em que a vitória cubana já estava definida, que os EUA decidiram intervir no conflito, a pretexto de que o navio de guerra, Maine, ancorado no porto de Havana, fora afundado por uma mina submarina da Espanha, ocasionando a morte de 260 marinheiros ianques. Apesar de não haver provas conclusivas de que o naufrágio havia sido provocado pelas armas espanholas, os EUA se valeram do pretexto para justificar sua intervenção.

Na verdade, tanto do ponto de vista econômico como estratégico, interessava aos EUA intervir na guerra. A posse e controle de Cuba e de Porto Rico eram da maior importância para a segurança das rotas no Golfo do México e do canal que o Governo norte-americano projetava abrir no istmo do Panamá (Canal do Panamá). Essa era a razão de fundo para o confronto com a Espanha. Entrando no conflito, os EUA venceram a Espanha em dez semanas.

O Governo dos EUA havia solicitado ao Congresso norte-americano autorização para intervir no confronto entre Cuba e Espanha e aceitou os dispositivos aprovados, de que: os EUA renunciavam, definitivamente, a qualquer intenção de “exercer soberania, jurisprudência e controle” sobre Cuba, salvo para estabelecer a Paz. O objetivo dos EUA, ao contrário, era apropriar-se de Cuba e de tudo que restara do Império espanhol.

Terminada a guerra, os EUA assinaram o Acordo de Paz com a Espanha que cedeu, na condição de colônias, Porto Rico, no Caribe, e o arquipélago das Filipinas, no Pacífico. Nessas negociações, as lideranças cubanas não puderam sequer se manifestar. Em seguida, as tropas norte-americanas ocuparam Cuba e aí permaneceram até l902, quando deixaram a Ilha. Essa política intervencionista dos EUA visava defender o aumento dos interesses norte-americanos na Ilha.

Ao término da ocupação militar, no entanto, os EUA estabeleceram o protetorado sobre Cuba, com a intenção de criar condições, com a ajuda de boa parte da

oligarquia local, que viam nos EUA um sólido protetor da escravatura e da monocultura

do açúcar, que representavam fortunas.

Em maio de l902, foi eleito Tomás Estrada Palma, do Partido Revolucionário Cubano, como Presidente. Mas na nova Constituição cubana a administração de Theodore Roosevelt conseguiu introduzir uma cláusula limitando sua soberania – a Emenda Platt – que impedia Cuba de celebrar, com outras nações, tratados, pactos, etc., e assegurava aos EUA o direito de intervir nos seus assuntos internos e externos, a pretexto de “proteger a vida, a propriedade e as liberdades individuais” e, ainda, comprar ou arrendar partes do seu território, para estabelecer bases navais ou depósitos de carvão. Esses dispositivos da Emenda Platt foram ratificados pelo Tratado Permanente pelo Presidente de Cuba, concedendo, inicialmente, quatro portos para depósito de carvão e a base de Guantánamo.

O Presidente Roosevelt considerava que tanto a América Central como o Caribe, e de forma especial Cuba, eram mera extensão do território norte-americano. Além disso, depreciava os povos da Região que, segundo ele, eram turbulentos, indisciplinados e anárquicos, cabendo, portanto, aos EUA, exercerem uma “missão civilizatória”. O adágio “big stick policy” (política do grande porrete) foi adotada por ele e, além disso, defendia que os EUA detinham o poder de agir como a polícia do Continente. Essa política imperialista refletia o acirramento da competição entre as grandes potências industriais, pelo domínio de fontes de matérias-primas e mercados. Em nome do “destino manifesto” da grande nação norte-americana, ordenou nova intervenção em Cuba, em l906.

Nesse ano, os EUA ocuparam militarmente a Ilha, para resolver questões da “Revolução de Agosto”, em que um grupo de liberais questionaram a reeleição de Palma, no pleito de l905. As tropas norte-americanas só deixaram definitivamente o país em l908, quando o candidato liberal foi eleito. A Emenda Platt ficou, oficialmente, em vigor até l934.

Para o período l909-l9l4, foi eleito para Presidente dos EUA, H.Taft, que não alterou as diretrizes básicas da sua política externa e teve como prioridade estratégica a total supremacia dos EUA sobre a América Latina e Caribe. Procurou, portanto, adensar a política do “big stick”, complementando-a com a da “Diplomacia do Dólar”. Com isso, promoveu abertamente o comércio e os investimentos diretos nos países da América Central e Caribe e, logicamente, interferências diretas nos países da Região, quando “necessárias”.

A “Diplomacia do Dólar” envolvia duplo objetivo: afastar em definitivo os interesses europeus ainda existentes na área caribenha e dominar economicamente as pequenas repúblicas em crônico estado falimentar. Sua política da “Diplomacia do Dólar” era uma moeda de duas faces, onde a outra face era conhecida como “política das canhoneiras”.

O período seguinte de oito anos foi exercido pelo Presidente Wilson, que se tornou o mais perfeito exemplo do despotismo ianque em suas relações com a América Latina, o “Corolário Wilson”, que atendia aos anseios de segurança dos investidores e proprietários norte-americanos, na Região da América Latina e Caribe. Desta forma, os EUA colocaram-se, objetivamente, contra qualquer possível transformação que ocorresse na Região, tornando-se, assim, um bastião das tiranias que se sucederam entre l920-l932.

Nos doze anos seguintes, os Governos dos EUA foram eleitos pelo Partido Republicano e não realizaram grandes mudanças na política dos EUA em relação à América Latina. Os Presidentes W. G. Harding, C. Colidge e Hoover seguiram as políticas anteriormente adotadas por T. Roosevelt e Wilson e não hesitaram em utilizar os fuzileiros sempre que julgaram necessário (como na reocupação da Nicarágua, em l927). Nesse período republicano (l920-l932), repetiu-se à saciedade, a prática costumeira: dólares e tiros.

De significativo, a crescente presença americana na América do Sul, posteriormente à I Guerra Mundial, com o lento recuo da presença britânica e o concomitante avanço comercial dos EUA. A libra esterlina deixava de ser a moeda exclusiva nas relações internacionais e o dólar ocupava cada vez mais o espaço.

A crise de l929, no entanto, provocou mudanças na política externa dos EUA e o principal agente dessas mudanças foi o Presidente Franklin D. Roosevelt, eleito em l932. Ele propôs uma nova política de “boa vizinhança” com os demais países, para caracterizar a nova postura dos EUA no mundo. Essa postura pacífica se devia à atual fragilidade do país, corroído pela crise e pela depressão, com o dólar reduzido a 44% do seu valor em l929. Com os EUA assolados por uma crise de dimensões desconhecidas, o Presidente Roosevelt não podia brandir o porrete como seu famoso homônimo.

Na VII Conferência Interamericana, em Montevidéu, em l933, os EUA assinaram o Pacto de Não-Intervenção e Inviolabilidade de Territórios, cujo artigo 8º dispunha: “nenhum Estado tem direito de intervir nos assuntos internos ou externos de outro Estado” (Convenção de Direitos e Deveres dos Estados). A II Guerra Mundial fez com que as economias latino-americanas se ligassem de forma ainda maior aos EUA.

Em Cuba, em l933, um movimento das forças sociais depôs o General Gerardo Machado, presidente desde l925 e que governava de forma tirânica e corrupta, e reinstalou um processo democrático na Ilha, sob o comando provisório de Manuel de Céspedes.

Fulgêncio Batista, que era sargento do exército cubano, por ocasião do movimento e das manifestações populares de grande parte da sociedade cubana, contribuiu para a deposição de Machado. Posteriormente, agiu também para a derrubada de Manuel de Céspedes. Sua influência começou a crescer quando Ramón San Martin abandonou a Presidência, sendo substituído por outro militar – o Coronel Carlos Mendiera.

Os governantes cubanos mantinham ares ditatoriais, o que provocou manifestações grevistas em toda a Ilha em l935, que foram reprimidas violentamente. Mandiera deixou a Presidência, mas até l940 homens ligados a Fulgêncio Batista presidiram Cuba (José Barnet, Miguel Mariano Gómez e Federico Laredo Bru).

Em l940, o próprio Fulgêncio Batista assumiu a Presidência e, pouco depois, promulgou uma nova Constituição. Governou até l944, com uma administração marcada pela corrupção, causando muita insatisfação ao povo cubano.

Em l944 foi eleito Grau San Martin, líder do Partido Autêntico que vencera em eleições livres, com 55% dos votos. Mas a corrupção seguiu sendo a marca registrada de todos esses governos, tanto que integrantes do Partido do Presidente San Martin, em l947, revoltados com a corrupção e a imoralidade do Governo, saíram do Partido Autêntico e criaram o Partido Ortodoxo. A liderança desse grupo dissidente foi Eduardo Chibás, um político carismático que entusiasmava os estudantes e as novas lideranças que surgiam no cenário político cubano.

Fidel Castro, na ocasião estudante de Direito, aproximou-se de Chibás, mas não chegou a integrar o novo Partido, oficialmente.

Em l948, Caio Prio Socorrás, do Partido Autêntico, assumiu a Presidência.

Chibás tornou-se o político mais popular de Cuba, sendo considerado o favorito para as eleições de l952. Era uma das vozes mais acaloradas nas denúncias contra Batista e os governistas. Mas, em agosto l95l, após apresentar o programa dominical no rádio, cometeu suicídio.

Segundo Fidel Castro, matou-se em decorrência de uma acusação que fizera contra o Ministro da Educação de que este possuía terras na Guatemala. O Ministro pediu em público que Chibás provasse as acusações, o que ele não conseguiu fazer. Por isso, entrou em grande depressão, que resultou no suicídio.

Mesmo com a morte de Chibas, a popularidade do Partido Ortodoxo tornava-o imbatível nas eleições. Fulgêncio Batista era novamente candidato, mas pelas pesquisas, estava em terceiro lugar, atrás dos candidatos dos Partidos Ortodoxo e Autêntico. Certo da derrota eleitoral, optou por um Golpe de Estado.

Em l0 de março de l952, com a alegação de que, por ocasião das eleições de agosto haveria um golpe militar, Fulgêncio Batista depôs o Presidente Prio Socarrás e instaurou a ditadura, suspendendo, de imediato, as liberdades de imprensa e de opinião e as garantias constitucionais. Batista já era conhecido como corrupto e temia, portanto, perder o status econômico que havia alcançado, portanto, só o Golpe de Estado poderia assegurar-lhe a continuidade do controle do Governo, de forma a manter os altos lucros advindos da corrupção.

Na lista de candidatos a deputado, constava o nome de Fidel Castro, que, diante do Golpe conclamou o povo à resistência, com um Manifesto que terminava com as seguintes palavras: “Viver acorrentado é viver na vergonha; morrer pela Pátria, é viver”. Além disso, entrou com um pedido de punição aos golpistas no Tribunal de Recursos de Havana, o que, obviamente, foi rejeitado.

Fulgêncio Batista assumiu o poder total, pois chegara agora ao Poder por um Golpe de Estado, com o apoio da oligarquia local e do Imperialismo norte-americano. Tornou-se um ditador sanguinário, que não admitia qualquer divergência. Além disso, sua ambição por riqueza e Poder só poderiam ser satisfeitos em um regime discricionário, violento e que, por outro lado, protegesse e defendesse por todos os meios os grandes proprietários de terra e empresários nacionais e estrangeiros.

As condições de vida da população, em Cuba, eram degradantes, tinha havido um empobrecimento geral, campeava o desemprego, a fome, a miséria, o analfabetismo, a corrupção e a afronta de o país ser cada vez mais dependente da política e dos interesses do grande capital nacional e dos oligopólios norte-americanos. A juventude à deriva, sem perspectiva de futuro, os trabalhadores curvados ao peso das grandes jornadas de trabalho e da exigüidade do salário. O país praticamente ocupado pelo Império, que se apropriava de todos os bens e riquezas, desfrutando de tudo que havia de melhor na Ilha: residências, praias e tudo mais que o dinheiro pode comprar.

O povo cubano não suportava mais tantos desmandos e arbitrariedades praticadas por governantes sem qualquer compromisso com o povo ou com a nação cubana.

Cerca de um ano após o Golpe de Fulgêncio Batista, e, coincidentemente, no dia 26 de julho de l953, correu a notícia de que um grupo de jovens, igualmente revoltado com o despotismo e a violência de mais um ditador corrupto e indigno do cargo, haviam tentado invadir dois quartéis: Moncada e Bayamo para se apoderar das armas necessárias para iniciar uma luta sem tréguas, em nome da Liberdade e da Justiça e da real e definitiva Independência do povo e da nação cubanas.

Os jovens rebelados não haviam conseguido o seu intento, haviam muitos mortos e feridos, e um grupo preso, do qual não se sabia se sobreviveria.

Sabia-se, também, que o jovem Fidel Castro estava preso e que era ele o organizador e o mentor desse feito que começava a inflamar as mentes, aquecer os corações de esperança e de brios pela possibilidade que ressurgia de levar adiante o Grito de Moncada até à vitória!

II – DE MONCADA AO TRIUNFO DA REVOLUÇÃO

“por eso pido este momento unánime

para cantar esta Canción de Gesta

y yo comienzo con estas palabras

para que se repitán en América

Abrid los ojos, pueblos ofendidos,

en todas partes hay Sierra Maestra”

(Pablo Neruda – “Un Momento Contado para Sierra Maestra”, in Canción de Gesta, Havana, 1961)

Fidel Castro Ruz assiste indignado ao golpe levado a cabo por Fulgêncio batista, figura bastante conhecida como oportunista, corrupta e sem qualquer princípio ético em relação ao Estado e ao povo cubano e que se apropriava do Poder exclusivamente para dar continuidade aos seus interesses espúrios e de seu grupo.

Fidel percebe a necessidade urgente de se adotar novas estratégias revolucionárias para organizar um levante popular, pois já não era possível enveredar pelos mesmos caminhos percorridos, que se mostraram insuficientes para um processo de transformações substanciais para libertar o povo e o país da sanha de ditaduras tirânicas e corruptas, a serviço das oligarquias nacionais e do poderoso Império do Norte.

O plano que Fidel elaborou propunha recrutar homens para um movimento armado, que chegou a recrutar posteriormente 1.200 pessoas que foram treinadas para tomar os quartéis: Moncada e Bayamo, e se apoderem da maior quantidade possível de armas. O ataque à Moncada seria efetivado por ele e mais 120 homens e outros 40 que atacariam Bayamo.

O assalto ao Quartel Moncada, em 26 de julho de 1953, reveste-se de grande significado simbólico para a Revolução Cubana, só comparável à Queda da Bastilha para a Revolução Francesa, porque Moncada é o começo da luta, uma espécie de batismo de fogo para o movimento revolucionário. Os combatentes de Moncada não atingiram seus objetivos militares, mas alcançaram seus objetivos revolucionários.

Do grupo do assalto aos dois quartéis, três foram mortos na tentativa do assalto. Outros foram presos durante a refrega do assalto com os soldados de Batista. Alguns como Fidel, conseguiram escapar e foram presos depois, no local onde se esconderam. A maior parte dos prisioneiros, cerca de 70, foram barbaramente assassinados, sob tortura.

Os que sobreviveram foram julgados em Tribunal Militar. Raul Castro foi condenado a 13 anos de prisão. Fidel foi julgado secreta e isoladamente, em outubro, igualmente por Tribunal Militar, e ele próprio, valendo-se dos seus conhecimentos de advogado, preparou sua defesa, que constituiu-se numa peça histórica. Altaneiro, diante do Tribunal, lançou um ataque direto à crueldade a que foram submetidos seus companheiros e denunciou a situação do povo cubano: pobreza e miséria da maior parte da população, além da violência e a corrupção do Governo. Essa defesa transformou-se em livro, cujo título é a finalização do seu discurso: “A História me Absolverá”. Fidel foi condenado a 15 anos de prisão. Em maio de 1955, Fidel, Raul e outros 18 prisioneiros foram libertados, em boa parte pela má impressão que causava a prisão dos jovens rebeldes.

Em 269 de julho de 1955, Fidel e demais adeptos fundaram o Movimento 26 de Julho, com caráter clandestino e revolucionário. O grupo decidiu refugiar-se no México e aí organizar e preparar a revolução. Foi no México que Fidel conheceu “Che” Guevara e ambos se deram conta da convergência de pensamentos e idéias, o que foi muito importante para a luta revolucionária.

Fidel, Raul e Che dedicaram-se a treinar um exército guerrilheiro, capaz de lutar, posteriormente, pela libertação de Cuba. O plano era invadir a Ilha e, gradativamente, ir ocupando posições chaves para a consecução do plano. Recrutaram cubanos que foram para o México, e o treinamento militar da guerrilha foi ministrado por um veterano da Guerra Civil Espanhola. Fidel, pessoalmente, angariou fundos para comprar armas e, nesse mister, angariou a adesão de Camilo Cienfuegos.

Com pouco menos de 100 homens, Fidel decidiu que era hora de voltar a Cuba, Além desse contingente tão reduzido de combatentes, o grupo dispunha de poucas armas e muito pouco dinheiro. Depois de algumas tentativas para comprar um barco com condições de funcionamento e tamanho suficientes para comportar a totalidade do grupo, o que se demonstrou impossível pelo alto preço dos barcos com essas características, o único barco cujo preço correspondia às finanças do grupo foi o Granma, que estava em reparo. Mas levando em conta que, no México, as coisas não estavam correndo bem, já que tanto a política local como homens de Batista aumentavam o cerco e as perseguições, Fidel considerou prudente antecipar a viagem para Cuba para 25 de novembro de 1956 e desembarcou em Cuba no dia 30 de novembro. A viabilização do sucesso do plano incluía a organização de um levante que seria levado a cabo pelo Movimento 26 de Julho (fundado por Fidel após sua saída da prisão), em Santiago de Cuba, que provocaria o início de uma revolta popular que os apoiaria, dando início à guerrilha que derrubaria Batista.

O único barco que conseguiram adquirir, o Granma, não estava, ainda, com todos os reparos terminados, e pelo seu tamanho, não poderia abrigar, com alguma comodidade, mais que 12 pessoas, mas 82 homens forma empilhados no barco, com armas e comida insuficientes. A travessia foi realizada com mar agitado e tempo ruim, e pior que tudo, com um motor avariado tendo que enfrentar ventos contrários e forte tempestade. Além disso, o peso era quase o triplo do que o barco teoricamente recomendava. Todos esses contratempos e dificuldades ocasionaram o atraso de dois dias para a chegada em Cuba, o que só ocorreu no dia 2 de dezembro.

O desembarque foi um fiasco! O Granma atingiu a costa ocidental da Província de Oriente e o barco atolou no mangue e não pôde aproximar-se da costa e os homens tiveram que saltar e cobrir o percurso restante a pé ou a nado, o que resultou na perda de boa parte da munição, das armas e dos alimentos. Che Guevara comentaria mais tarde a respeito: “O navio adquiriu um aspecto ridículo e trágico ao mesmo tempo. Os homens, com expressão angustiada, apertavam seus estômagos com as mãos, a cabeça dentro de baldes. (…) Aquilo não foi um desembarque, foi um naufrágio”.

Por outro lado, o levante que estava previsto para ser uma base para os guerrilheiros que chegavam e esperavam encontrar um movimento popular que os ajudaria a levara diante o plano de vencer Batista, e que teria início no dia 30 de novembro, realmente foi iniciado, e por um breve período, Frank Pais e seus camaradas quase garantiram o controle de Santiago de Cuba. Mas como o atraso de dois dias do Granma, foi impossível resistir. As forças de Batista tiveram pouco trabalho para suprimir a revolta.

Fidel, embora desapontado com tantos contratempos, estava satisfeito por terem cumprido o prometido: desembarcar em Cuba antes do final de 1956, ou seja, ao fim e ao cabo, a expedição do Granma foi um prolongamento do assalto ao Quartel Moncada.

As forças de Batista tinham sido prevenidas tanto por Castro, em seus pronunciamentos no México, como pelo abortado levante de 30 de novembro. Três dias depois do desembarque, foram atacados pelas tropas de Batista. Acampados na floresta, Fidel e seus homens fugiram e se embrenharam nos canaviais em direção à mata fechada de Sierra Maestra. Sob tiros de metralhadoras dos caças da aviação de Batista “cada homem ou pequeno grupo viveu sua própria epopéia”, contou Fidel em entrevista a Ignacio Ramonet. A maioria foi assassinada e os poucos sobreviventes se dispersaram. Sob seu comando, restaram apenas Universo Sanchez e Faustino Pérez.

Poucos dias depois, vivendo do suco que retiravam da cana-de-açúcar, após escaparem dos ataques terrestres e aéreos, chegariam à Sierra Maestra, onde outros rebeldes sobreviventes, entre eles Raul Castro, Che Guevara, se uniram a eles. O número de sobreviventes não é exato, mas gira em torno de 12 homens, mas até o Natal, outros rebeldes seriam encontrados vivos.

Chegaram, finalmente, em Sierra Maestra, e começaram a montagem de um quartel na selva, embrenhando-se nos canaviais, em direção à mata fechada, para evitar serem atingidos pelas metralhadoras dos caças da aviação de Batista, e logo em seguida, passaram a refazer contatos com os companheiros nas cidades, em especial Frank Pais, o líder urbano do Movimento 26 de Julho. Batista divulgou para a Imprensa que a revolta tinha sido esmagada e seu líder morto. Ao contrário, o grupo estava vindo, embora com poucas armas e alimentos, mas conseguiram sobreviver, graças aos camponeses.

Em fevereiro de 1957, uma reportagem de Hebert Matthew no jornal “The New York Times”, de Nova York, mostrava ao mundo a figura de Fidel Castro e o exército rebelde, encrespados nas montanhas de Cuba.

Como se propuseram, desde o início, Fidel e Che Guevara empreenderam um treinamento de guerrilha a seus homens, vivendo com muito pouco e sem nenhum conforto, e eles, para dar o exemplo, viviam como os demais, e caminhavam para conhecer a topografia da região e negociar com os camponeses, tanto que Fidel recebeu o apelido de “El Caballo”, pela sua capacidade física de caminhar horas a fio sem precisar descansar. Em seis meses, Fidel conhecia a Sierra Maestra melhor do que qualquer camponês, nascido ali, e ele nunca esquecia um lugar aonde tinha ido, lembrava-se de tudo, o chão, as árvores, e quem vivia em cada casa.

Fidel preocupava-se em organizar a defesa de Sierra Maestra contando com rebeldes recrutados nas cidades, e fortalecer, também, a resistência rural. O Movimento 26 de Julho publicou o “Manifesto da Sierra Maestra’, em que Fidel conclamava pela unificação das oposições a Batista – a Frente Cívico Revolucionária, e outras organizações que faziam oposição a Batista e pregava, ainda, a renúncia do governante.

O grupo de oposição a Batista, liderado por Fidel Castro era aquele que decidira pegar em armas para a derrubada do Governo. No entanto, haviam outros movimentos oposicionistas urbanos que não apoiavam a estratégia das armas ou tinham métodos diferentes: o Partido Socialista, que era o Partido Comunista de Cuba, que criticara, a partir do assalto ao Quartel Moncada, a estratégia das armas, mantinha-se, ainda, bastante crítico, mas já começava a se dar conta de que Fidel ganhava cada vez mais o apoio da população, tanto no campo como na cidade, e já se mostrava disposto a entrar em confabulações, o que ocorreu algum tempo depois; o Movimento Nacional Revolucionário (MNR), liderado pelo professor de Filosofia, Rafael García Barcena, a Organização Autêntica (OA), fundada por Prio Socorrás, e o Diretório Revolucionário Estudantil (DRE) em nome do qual o líder estudantil José Antonio Echeverría que, em março do mesmo ano, junto com a Organização Autêntica, pôs em pratica um plano de assalto ao Palácio Presidencial para assassinar Batista. Tomaram o Palácio, mas não encontraram o governante, e os 150 homens que participaram do assalto foram mortos pelas forças de Batista. Echeverría foi assassinado quando voltava para a universidade.

Fidel, com a ajuda do braço urbano do Movimento 26 de Julho, pôde organizar seu movimento rural, receber reforços de rebeldes recrutados nas cidades e estruturar sua revolução. Em maio de 1957, houve o primeiro ataque rebelde de sucesso, ao posto militar de El Uvero. Che considera que aí se deu a maioridade do exército rebelde. Os revolucionários usaram a vitória para intensificar a propaganda revolucionária e mostrar sua força.

Foi na batalha de Uvero que Che demonstrou ser mais do que médico. Ele participou do cerco armado e quando os combates terminaram, atendeu a todos os feridos, de ambos os lados. Fidel conta que ao ver um dos companheiros ferido e sem chances de salvá-lo, Che deu-lhe um beijo na testa. Che começava a ganhar força política dentro da Revolução, e diante da coragem e da destreza, acabou por ser promovido de médico de tropas para comandante.

Em junho de 1957, Fidel dividiu seus homens em três frentes de guerrilha, comandados por ele, por Raul e por Che Guevara. Ainda em junho, o Movimento 26 de Julho publicou o “Manifesto da Sierra Maestra”, escrito por Fidel, que clamava pela unificação da oposição a Batista – a Frente Cívica Revolucionária – e propunha a renúncia de Batista, convocação de eleições gerais nos moldes da Constituição de 1940, reformas econômicas e agrárias e a não intervenção externa nos assuntos de Cuba. Ao final dos encontros, Frank Pai, ao voltar para Santiago de Cuba, foi assassinado.

O cerco contra o regime se apertava cada vez mais. Em Sierra Maestra já se encontravam 300 homens, no início de 1958. Ampliava-se o espaço sob domínio rebelde, que Fidel chamou de: “Território de Cuba Libre”. O apoio camponês era, também, cada vez maior e sua confiança aumentava, na medida em que os revolucionários promoviam a Reforma Agrária nos territórios conquistados, construíam oficinas, hospitais, escolas para alfabetizar a população e pressionavam os donos de engenhos de açúcar para aumentar o pagamento dos empregados. Uma rádio clandestina foi montada – a Rádio Rebelde – que transmitia direto de Sierra Maestra.

A situação de Batista ficava insustentável. No início de 1958, os Estados Unidos suspenderam a remessa de armas para a Ilha. Várias organizações comerciais ao verem que até os EUA estavam abandonando Batista, começaram a pedir sua renúncia. Em abril, os oposicionistas urbanos conclamavam todos a uma greve geral, que acabou tendo o apoio de Fidel, que lançou outro Manifesto: “Guerra Total Contra a Tirania”.

O contra-ataque de Batista não se fez esperar: preparou uma megaoperação com 10 mil soldados que se dirigiram, com tanques e carros blindados, para Sierra Maestra. A ofensiva durou dois meses, com os rebeldes de Fidel – cerca de 300 homens – resistindo bravamente até que chegassem reforços de outras frentes. Apesar da quantidade numérica, absolutamente vantajosa e de fortemente armados, os soldados de Batista não estavam preparados para enfrentar o terreno irregular e a selva fechada, que os obrigava a moverem-se lentamente.

Os rebeldes utilizavam-se de táticas de guerrilha que desnorteavam os soldados de Batista: guerra de movimento, de atacar e recuar, atacar e atacar, obrigá-los a manterem-se sempre movimento, o que nos permitia a atacá-los quando e onde fossem mais vulneráveis.

Na biografia “Fidel”, John Vail descreve como era a guerra dentro da selva: “Como as tropas de Batista moviam-se lentamente pelas montanhas, destacamentos rebeldes fustigavam-nas em cada quebrada. Quanto mais penetravam em território rebelde, mais emboscadas sofriam e mais isolados ficavam de suas linhas de suprimento. O exército de Batista perdia homens rapidamente, comida e munições diminuíam. E para piorar, Castro bombardeava-os pelo alto falante, conclamando-os a se unir contra o odiado ditador”.

Sem dúvida, Sierra Maestra era o Quartel-General da Guerrilha, mas depois de 75 dias sob ataque, os rebeldes conseguiram que as tropas de Batista batessem em retirada e, imediatamente, partiram para o contra-ataque. Foram abertas colunas de combate e conquista, lideradas por Che Guevara e Camilo Cienfuegos, que seguiram para o Oeste, e por Raul Castro, ao Norte, e, um mês depois, o próprio Fidel descendo das montanhas e seguindo o caminho de Santiago de Cuba. Aos poucos, foram avançando e ocupando o território cubano onde eram recebidos como heróis.

Já se delineava a vitória, tanto que Manuel Urrutia, escolhido como o futuro presidente do novo Governo revolucionário, já estava em Havana à espera do golpe final. Era questão de tempo para que Fidel Castro e seus homens chegassem à capital.

Cientes disso, os norte-americanos sugeriram a Batista que deixasse o governo e fosse para a Flórida, onde teria como viver tranqüilamente. O plano era, com essa medida, impedir que Fidel Castro chegasse ao Poder, esvaziando o objetivo maior dos revolucionários: a derrubada de Batista. Os EUA não se davam conta que Fidel não era mais apenas um rebelde, mas um revolucionário com projeto de Poder e governo para Cuba.

Batista não aceitou a proposta e continuou na ofensiva, mas seu exército já não tinha condições de impedir o avanço rebelde.

A situação de Batista ficou insustentável!

As colunas planejadas por Fidel foram tomando as principais cidades e guarnições militares do país. Oreinte, Las Villas, Guisa de Miranda, Santa Clara. Só quando Che e seus homens tomaram Santa Clara, reduto batistiano final, foi que o general-ditador percebeu que tudo estava perdido. Na madrugada de 1959, Fulgêncio Batista fugiu de avião para a República Dominicana.

Quando, no dia 1º de janeiro de 1959, correu a notícia da vitória dos revolucionários, capitaneados por Fidel, e a fuga de Fulgêncio Batista, a população ocupou ruas e praças, gritando o jargão: Se fué (Ele partiu). Dos apartamentos, das casas, dos logradouros comerciais era uma única festa.

Os revolucionários entraram triunfantes em Havana, sem qualquer resistência militar. O comando da cidade havia abaixado as armas. Edifícios e casas foram atacados e saqueados pela Revolução. De Havana, Fidel falou aos cubanos de todo o país, confirmando a vitória, mas clamando que não promovessem a violência.

No dia 2 de janeiro, Che Guevara e Camilo Cienfuegos marcharam para Havana e tomaram os quartéis. Ninguém lhes ofereceu resistência. Enquanto isso, em Santiago de Cuba, conseguiu o apoio dos soldados do exército, sendo que dois mil deles e outros mil rebeldes seguiram para Havana. Fidel entrou em Havana em pé num jipe, enquanto a população delirava, e dirigiu-se a Camp Colúmbia e de lá falou à população, pedindo que o povo se unisse porque já haviam chegado ao poder.

Começa uma outra história. A história de um povo que conseguiu embargar o poder para, afinal, conquistar a Liberdade e a Justiça.

Fidel estava certo: o Grito de Moncada fôra ouvido e ressoava por toda a pequena Ilha de Cuba.