Em Temas em Debate, artigos de Edmilson Costa, membro do comitê central do PCB, e de Néstor Kohan, intelectual marxista argentino, analisam a conjuntura contemporânea de aprofundamento da hegemonia burguesa, abordando criticamente a intervenção das forças de esquerda nesse processo.
Temas em Debate
Os movimentos sociais e os processos revolucionários na América Latina: uma crítica aos pós-modernistas
Edmilson Costa*
Os anos 90 do século passado e os primeiros dez anos deste século foram marcados por intenso debate entre as forças de esquerda sobre o papel dos movimentos sociais, das minorias, das lutas de gênero e das vanguardas políticas nos processos de transformação econômica, social e política da sociedade. Colocou-se na ordem do dia a discussão sobre novas palavras de ordem, novos agentes políticos e sociais, novas formas de luta, novas concepções sobre a ação prática política.
Crise orgânica e revolução passiva: o inimigo toma a iniciativa
A governabilidade do capitalismo periférico e os desafios da esquerda revolucionária
Néstor Kohan (*)
Desde Marx e Engels até Lênin, Trotski e Mao, desde Mariátegui (1), Mella (2), Recabarren (3) e Ponce (4) até o Che Guevara e Fidel, grande parte das reflexões dos marxistas sobre a luta de classes têm girado em torno da necessidade de assumir a iniciativa política por parte dos trabalhadores e do povo.
Sobre a Declaração de Março de 1958
Anita Leocádia Prestes
A partir da aprovação da “Declaração de Março” de 1958 pela direção do PCB, os comunistas brasileiros adotam uma nova orientação política. O objetivo tático do partido passa a ser a conquista de um governo nacionalista e democrático através do processo eleitoral e da pressão de massas, excluída a via armada prevista anteriormente nos documentos do PCB. No artigo são apresentadas e apreciadas criticamente as vicissitudes do partido na luta pela realização de tais objetivos durante a segunda metade do governo de Juscelino Kubitschek e os sete meses de Jânio Quadros no poder.
PCB: Dos anos de formação à Declaração de Março
Ricardo Costa (Rico) – Comitê Central do PCB
Na conjuntura dos anos 1950, a proposta de “união nacional” com a burguesia foi retomada para se consolidar, daí por diante, no PCB, como parte fundamental do projeto de revolução democrático-burguesa, associado ao processo de pleno desenvolvimento das forças produtivas no país e a consequente superação dos resquícios “semifeudais” e “semicoloniais”, processo este entendido como condição necessária à passagem para o socialismo. A Declaração de Março de 1958, conforme será visto a seguir, reforçaria a ideia central segundo a qual as contradições básicas existentes na sociedade brasileira, naquele momento específico da história, dar-se-iam entre o conjunto da nação, de um lado, e o imperialismo estadunidenses, de outro; entre as forças produtivas em desenvolvimento, de um lado, e as relações de produção semifeudais e semicoloniais predominantes no campo, de outro. Daí que a contradição entre capital e trabalho, sempre apontada pelos clássicos do marxismo como a contradição fundamental no capitalismo, não fosse vista como a mais premente naquela “etapa”, muito menos a sua solução radical.
DECLARAÇÃO SOBRE A POLÍTICA DO PCB (MARÇO DE 1958)
O processo de desenvolvimento económico do Brasil
Modificações importantes têm ocorrido, durante as últimas décadas, na estrutura econômica que o Brasil herdou do passado, definida pelas seguintes características: agricultura baseada no latifúndio e nas relações pré-capitalistas de trabalho, predomínio maciço da produção agropecuária no conjunto da produção, exportação de produtos agrícolas como eixo de toda a vida económica, dependência da economia nacional em relação ao estrangeiro, através do comércio exterior e da penetração do capital monopolista nos postos-chave da produção e da circulação.