Socialismo ou barbárie: o espectro que nos ronda e a atualidade de Rosa Luxemburgo
Fonte: Esquerda Diário
(Gilson Dantas) Qual a chave de Rosa Luxemburgo contra a barbárie do nosso tempo?
Rosa Luxemburgo viveu tempos onde a barbárie capitalista tomou a forma – dentre outras – do horror da I Guerra, com a maior máquina de guerra até então existente triturando 9 milhões de vidas e mutilando e ferindo outros 30 milhões em terras da civilização europeia, ali onde o capitalismo “dava o melhor de si” naquele momento, para fazer valer seus interesses imperialistas.
Presa durante a maior parte do tempo da guerra, ela celebrizou a expressão “socialismo ou barbárie”, em seu texto escrito em 1915. Se o imperialismo seguir em frente triunfante, teremos a decadência de toda a civilização, dizia ela, e nas mesmas linhas explicitava que o socialismo somente poderia ser conquistado pela “ação combativa consciente do proletariado”, isto é, através da revolução socialista; que para ela, não viria em piloto automático, isto é, apenas pelas mãos das greves e mobilizações, sem o partido consciente. Através do seu instrumento político – o partido comunista, que ela fundou em seguida de libertada da prisão, em 1918 – continuava argumentando Rosa, é que o proletariado pode “recuperar o papel de senhor do próprio destino”.
Ela escrevia esse texto [A crise da social-democracia] desde a cadeia, chocada com a conduta do seu partido, a social-democracia alemã, a II Internacional, e naquele documento ela desfechava vigorosa crítica contra este seu partido, que acabava de colocar as organizações do proletariado detrás do imperialismo, inimigo maior da humanidade, tornando-se co-promotor do horror da guerra, em nome do… socialismo.
Rosa, como Lenin, ficaram chocados com o fato de que o maior partido proletário do ocidente, “tropa de choque” do proletariado internacional – nas palavras de Engels – não passou no teste da história e ao praticar a colaboração de classe, apoiando a guerra da “sua pátria” contra os trabalhadores de outros países, abria as portas para os elementos mais reacionários do capitalismo e o horror da guerra em todas as suas dimensões ao bloquear a ação independente do proletariado, a única que pode, historicamente, salvar o gênero humano.
Rosa seguiu fiel até o fim em defesa daquelas ideias, da independência de classe, contra a política de conciliação de classe, política que, lamentavelmente, seguiria sendo reeditada até os nossos tempos com suas consequentes derrotas para a classe trabalhadora [o Syriza na Grécia é um trágico e atual exemplo disso, da estratégia de conciliação de classe que conduz à derrota, após uma série de greves gerais].
A crítica de Rosa à social-democracia aponta para a falta de perspectiva histórica da burguesia, mas alerta muito mais para os terríveis erros que as direções políticas do proletariado podem cometer, abrindo a janela para a passagem das mais reacionárias e catastróficas tendências do capitalismo.
No discurso de fundação do PC alemão, por Rosa e seu grupo, Spartakus, ela reiterou aquela ideia de que a revolução proletária “constitui hoje a única salvação para a sobrevivência da sociedade humana” e que “estamos todos ameaçados de desaparecer se o proletariado não cumprir seu dever de classe, realizando o socialismo”.
Ela tem certeza de que o capitalismo somente pode oferecer mais do mesmo horror ou mais horrores de novo tipo como hoje se vê – da devastação ambiental ao massacre cotidiano na Síria – mas seu foco é como unir o proletariado detrás da bandeira da independência política de classe e do programa anticapitalista, impedindo que a anarquia deste sistema arraste para a dispersão a única classe e sujeito revolucionário do nosso tempo.
Nas palavras de Claudia Cinatti [colunista do diário argentino La Izquierda Diário que integra a rede internacional de diários da qual o Esquerda Diário faz parte]: “A tarefa dos revolucionários não é predizer catástrofes inexoráveis – para isso já existem uma infinidade de seitas e gurus – mas impedir que o capitalismo em sua crise decomponha as fileiras da classe operária, a única força social que pode dar uma saída progressista junto com seus aliados explorados e oprimidos [os pobres das cidades e do campo, as mulheres, os jovens que constituem o grosso do ’precariato’] e preparar as condições para a luta ofensiva pelo poder. Isto é, evitar a catástrofe mediante a revolução proletária em alguns países que, por sua importância, possam mudar o rumo [da barbárie]”.