A História não é uma trincheira, mas um campo de batalha

Certa vez Walter Benjamim afirmou se perdêssemos a batalha, nem os mortos estariam seguros.

Walter benjamim compreendia, como um bom marxista que era, que a história é a história dos que a puderam contar.

Marx certa vez disse que as ideias dominantes de cada época são as ideias das classes dominantes, pois somente essas possuem os meios para reproduzir suas ideias, ideologias, moral e valores. Não queremos com isso dizer que o plano das ideias está perdido por princípio, mas que deve ser entendido dentro de seus condicionantes objetivos, suas limitações para, somente assim, vislumbrarmos as possibilidades de limites e movimentações de nossa luta e de nossas intervenções. Não cabe idealizarmos trincheiras onde o que existe são campos de batalhas, muitas vezes desfavoráveis.

Mas qual o porquê desse preâmbulo?

Recentemente setores assumidamente conservadores e até apologéticos de regimes ditatoriais resolveram sair às ruas com suas “frases de efeito” entusiastas de golpes e regimes ditatoriais, com suas palavras de ordem e bradares de ódio a esquerda comunista, socialista e ate contra setores do campo liberal democrático.

Não quero dizer que esses setores somente assumiram agora ou vieram às ruas agora, eles sempre existiram, a diferença é que agora o quadro conjuntural possibilitou que essas vozes saíssem das catacumbas com mais eco e estimuladas por setores da burguesia tida como “democrática”, mas que mostra sua face golpista e conspiradora.

Mas, diante desses ecos de um passado sombrio testemunhamos a resposta, muitas vezes espontâneas de setores da esquerda e setores democráticos, que de imediato afirmam a necessidade desses imbecis golpistas e apologéticos da ditadura de lerem e estudarem história.

Por mais bem intencionados que sejam essa justa observação, não leva em conta que a nossa história ensinada nas escolas e nos livros é a história oficial, elitista, machista, repletas de lacunas, evidenciando grandes mitos, heróis, sínteses, golpes palacianos, e, esquecendo quem constrói a história, esquecendo-se do povo trabalhador, e de todos oprimidos e esmagados pelas páginas dos livros e das apostilas da história oficial.

Essa recomendação pelo estudo da história, bem intencionado, mas, por si só é equivocada. O estudo da historia ou dos livros de história, salve raras exceções, reforçarão a visão do atual Brasil, desigual, elitista e repleto de injustiças.

E é nesse cenário nada agradável que ainda enfrentamos batalhas como o projeto de lei da “escola sem partido” que visa tirar da escola a “influência” de ideias socialistas, comunistas e ate democráticas, com a justificativa de que. Professores “contaminam” jovens com suas ideologias.

Tal ofensiva conservadora, presente nas ruas, nas ideias e na institucionalidade comprova a necessidade de encararmos como um campo de batalha, não como trincheira a história.

Devemos continuar fortalecendo a luta por memória, verdade e justiça, para que a história não seja apenas um espaço de memória cívica e justificativas de feriados, mas de reconstrução de nossa história, nossa memória, de nossas vidas, para potencializar transformações e mudanças, para não esquecermos também das atrocidades e nem a quem elas serviram. Para colocarmos nas páginas contadas todos os nossos heróis de fatos, que se entregaram a causa do futuro, da justiça, da liberdade, pessoas não anônimas, mas com rostos, nomes, histórias e biografias, que precisam ser contadas. A História está em disputa, vamos disputar, afinal como dizia nosso saudoso Leminski “haja hoje para tanto ontem”

Heitor Cesar Ribeiro de Oliveira

Membro do Comitê Central do PCB e Historiador