A 2ª Conferência Nacional do PCB, que ficou conhecida como “Conferência da Mantiqueira”, realizou-se em agosto de 1943 na mais completa clandestinidade. Segundo Dinarco Reis, a reunião “foi realizada numa pequena cafua de telha-vã e chão de terra, com sala, quarto e cozinha, local bastante exíguo para tantas pessoas (…) Dormíamos no chão de terra forrado por sacos e jornais. A noite o frio castigava duramente, pois era inverno nessa região bastante alta”. Mas o esforço daqueles bravos comunistas valeria a pena”.
Neste artigo publicado no jornal Voz Operária de 15 de agosto de 1953, o PCB assim analisava o evento.
Há dez anos, no mês de agosto de 1943, reunia-se num ponto da Serra da Mantiqueira, na mais dura clandestinidade, a II Conferência Nacional do Partido Comunista do Brasil.
O décimo aniversário da Conferência da Mantiqueira – como ficou sendo conhecida – é um acontecimento de profunda significação, não só para os comunistas, mas para todos os trabalhadores do Brasil, para todos os verdadeiros patriotas e democratas. Por isso, grandes comemorações devem assinalar, em todo o país, o transcurso dessa data histórica da Revolução Brasileira.
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A Conferência realizou-se de 27 a 30 de agosto, dela participando 46 dirigentes e militantes do Partido, vindos de quase todos os Estados. Sua ordem do dia tinha como centro a discussão para a elaboração da linha política. Além disso, foram discutidos também os problemas relacionados com a organização do Partido, com o movimento patriótico, com o trabalho de divulgação, com a atividade sindical e com a luta ideológica. Sobre tais assuntos foram apresentados informes e intervenções especiais.
A Conferência reuniu-se num momento em que, mundialmente, a situação se caracterizava pelas sucessivas e esmagadoras vitórias da U.R.S.S. sobre o nazismo. Nacionalmente, embora o Brasil já tivesse declarado guerra à Alemanha nazista, a ditadura de Vargas tudo fazia para impedir o envio de tropas brasileiras para a Europa e perseguia ferozmente os comunistas e demais patriotas, que exigiam a participação efetiva de nosso país na luta dos povos contra o fascismo.
O Partido, nessa época, vinha se reorganizando, em consequência dos golpes sofridos nos últimos anos, sobretudo em 1940, quando se verificou a prisão de numerosos dirigentes. Ao mesmo tempo em que desencadeava a mais brutal violência, o inimigo procurava golpear e minar o Partido por dentro, multiplicando as tentativas de infiltração de policiais em suas fileiras. Nessa ocasião surgiu o liquidacionismo, de que eram portadores elementos pequeno-burgueses, estranhos à classe operária.
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A Conferência traçou a linha política do Partido, que estabelecia a necessidade da união nacional contra o fascismo e exigia a participação direta do Brasil na guerra, através do envio de uma Força Expedicionária. A Conferência lançou uma vigorosa campanha de solidariedade e apoio à U.R.S.S., que sozinha suportava todo o peso da guerra. O objetivo dessa campanha era mobilizar a opinião pública para exigir a imediata abertura da Segunda Frente na Europa, a qual os imperialistas americanos e ingleses opunham crescentes obstáculos, no propósito ignóbil de fazer com que a União Soviética continuasse a lutar sozinha contra o nazismo, e assim enfraquecê-la.
A Conferência resolveu ainda exigir as liberdades democráticas para o nosso povo, e em primeiro lugar a anistia para os presos políticos, à frente dos quais se encontrava Luís Carlos Prestes.
Para que tais objetivos pudessem ser alcançados, a Conferência chegou à conclusão de que era indispensável um amplo movimento de massas, patriótico e antifascista, a cuja frente estivesse a classe operária. Comícios, passeatas, conferências, exposições antifascistas, criação de comissões patrióticas, etc. – tais as formas de luta e de organização de massas indicadas pela Conferência.
A orientação política traçada pela Conferência da Mantiqueira estava impregnada de profundo internacionalismo proletário e expressava a incondicional fidelidade dos comunistas brasileiros à União Soviética. Baseada nos ensinamentos do Partido Comunista da União Soviética e do camarada Stálin, a Conferência compreendeu que a solução de todos os problemas de nosso país dependia, em primeiro lugar, da vitória das Nações Unidas, da vitória da U.R.S.S., sobre o nazismo. Graças à fidelidade do Partido à União Soviética pôde a Conferência determinar uma orientação política justa no fundamental, que assegurou a conquista de todos os objetivos traçados.
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No terreno ideológico, além da vigorosa afirmação que fez do internacionalismo proletário, a Conferência concentrou o fogo no combate ao liquidacionismo.
Os liquidacionistas, preconizando o abandono do trabalho ilegal e a dissolução do Partido, constituíam uma corrente colocada a serviço dos piores inimigos de nosso povo e do Partido. A Conferência rechaçou energicamente a “teoria” liquidacionista, de que era um dos principais pregoeiros o renegado Silo Meireles. Mantendo-se fiel aos princípios leninistas de organização do Partido, a Conferência afirmou que as lutas do povo brasileiro só poderiam ser vitoriosas se à sua frente estivesse o partido independente de classe do proletariado – o Partido Comunista do Brasil. A Conferência ergueu bem alto, desse modo, a bandeira do Partido.
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No terreno orgânico, em oposição ao liquidacionismo, a Conferência destacou a necessidade de se marchar no sentido da construção de um grande e poderoso Partido Comunista de massas.
O crescimento do Partido, segundo indicava a Conferência, exigia que se concentrasse nas empresas o trabalho de organização, recrutando para o Partido o maior número dos melhores filhos da classe operária. Além disso, a Conferência condenou o “sectarismo” – forma estranha aos princípios de organização leninista do Partido, baseada na criação de organismos por profissão. A Conferência resolveu criar e fortalecer as células de empresa e dissolver as células de setor.
Indicando a necessidade de trabalhar junto às amplas massas, a Conferência traçou a firme orientação de luta pela conquista da legalidade do Partido. Os fatos posteriores, com a conquista da vida legal para o Partido, em 1945, confirmam plenamente a justeza dessa orientação.
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A Conferência da Mantiqueira elegeu o Comitê Nacional, que dirigiu o Partido até o primeiro Pleno do período da legalidade – o Pleno da Vitória – em agosto de 1945.
Entre os membros do Comitê Nacional eleitos na Conferência da Mantiqueira figurava o camarada Prestes, reconhecido unanimemente como o chefe do Partido. A unidade em torno de Prestes representou um fator decisivo para o êxito da Conferência, constituindo um golpe mortal nas tentativas do inimigo de liquidar o Partido.
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Quando se reuniu a Conferência, Prestes ainda se encontrava preso, privado da leitura de documentos da maior importância do movimento comunista dos diversos países, e sem qualquer comunicação com seus companheiros de Partido. Isso, no entanto, não impediu que as opiniões de Prestes – tanto em relação às questões internacionais e do país, como ao papel do Partido – coincidissem no fundamental com a análise e a orientação do Partido. Essas opiniões de Prestes estão expressas em documentos da época, como a “Carta a Agildo Barata”, o telegrama a “La Razón” de Montevidéu, os “Comentários a um documento aliancista”, “A propósito da reorganização de nossas forças”, etc., e mostram a extraordinária segurança e sensibilidade política de que dava provas o camarada Prestes.
A concordância de opiniões entre Prestes e a direção do Partido deve-se a que tanto Prestes como os dirigentes do Partido que se encontravam em liberdade, utilizavam, na análise que faziam da situação, a arma infalível da teoria marxista-leninista, não podendo chegar, portanto, a opiniões opostas ou diferentes.
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A Conferência da Mantiqueira constituiu um marco importantíssimo na história de nosso Partido e das lutas do povo brasileiro pela sua libertação. Dando ao Partido uma linha política fundamentalmente justa, rechaçando o liquidacionismo e reorganizando o Partido em bases leninistas, reafirmando a inquebrantável fidelidade do P.C.B. à U.R.S.S., ao Partido Comunista da União Soviética e ao grande Stálin, a II Conferência Nacional representou um sólido ponto de partida para as vitórias democráticas que se seguiram, culminando com a libertação de Prestes e demais presos políticos e com a legalidade do Partido.
A realização vitoriosa da II Conferência Nacional contribuiu para que hoje exista um grande e poderoso Partido Comunista – partido que, tendo à frente o melhor filho da classe operária e do povo brasileiro, Luís Carlos Prestes, dirige as lutas do nosso povo em defesa da paz e das liberdades democráticas, pela independência nacional e por um governo democrático-popular.