Em abril de 1960, o Comitê Central do PCB lançou as teses do V Congresso, abrindo as páginas do Jornal Novos Rumos para a Tribuna de Debates, que exporia as diferentes opiniões da militância partidária. O debate demonstrou, centralmente, a divergência que punha, de um lado, o núcleo dirigente hegemônico (formado em torno dos principais formuladores das teses antes expostas na Declaração de Março de 1958: Prestes, Giocondo Dias, Marighella, Jacob Gorender, Mário Alves, Armênio Guedes, etc) e, de outro, o grupo que recusou toda e qualquer crítica ao período de Stalin durante o processo de discussão instaurado no Partido após a divulgação do informe do XX Congresso do PCUS (Maurício Grabois, Pedro Pomar, João Amazonas e outros). Este grupo, minoritário no interior do PCB, seria derrotado no V Congresso e fundaria o PC do B dois anos depois. Também apareceram, durante as discussões em torno das teses, divergências aparentemente secundárias, por não representarem no fundo antagonismo aberto com a linha nacional-democrática, como os questionamentos de Caio Prado Júnior e de Elias Chaves Neto quanto às análises sobre a realidade brasileira e seus desdobramentos políticos.
Os pontos de maior discordância, para o grupo da oposição, encontravam-se nas seguintes diretrizes das Teses: a análise do desenvolvimento capitalista no Brasil era considerada “apologética” do capitalismo e do fortalecimento da burguesia, ao invés de destacar o crescimento do proletariado; o governo JK era definido como uma composição heterogênea de forças sociais e políticas, no lugar de ser apontado como “antinacional e antipopular”; o proletariado era relegado a uma posição subalterna na frente nacionalista e democrática, o que significava entregar a direção do movimento anti-imperialista à burguesia. Por fim, a tese da viabilidade da via pacífica da revolução no Brasil era contestada de forma veemente pela facção oposicionista, que a considerava, na prática, uma orientação “nacional-reformista”, a encaminhar no sentido de uma política de acumulação gradual de reformas, desarmando o proletariado para a luta revolucionária.
Na defesa das Teses e dos princípios básicos da Declaração de Março, o centro dirigente entendia que a preocupação maior, naquele momento histórico, era definir o caminho para a “ação concreta de hoje e não a hipotética de amanhã”, a fim de conduzir o proletariado à liderança revolucionária de todo o povo. Daí a necessidade também de explorar as contradições existentes no seio do Estado brasileiro, percebendo a influência da burguesia nacionalista no acirramento dos conflitos em seu interior, o que permitiria realçar o seu caráter heterogêneo, no lugar de cair no esquema simplista da luta pelo poder, conforme no fundo seria a atitude do grupo “esquerdista”. A luta por um governo de coligação nacionalista e democrática envolveria a necessária pressão das massas e não o reforço do setor burguês no interior do Estado brasileiro. Haveria ainda uma falsa avaliação da situação internacional por parte de quem parecia subestimar a força crescente do sistema socialista mundial, a desagregação do sistema colonial e as demais contradições que, segundo ele, minavam o sistema capitalista mundial. O crescimento do movimento nacionalista e a tendência ao aprofundamento do processo de democratização no Brasil aventariam a possibilidade real de se constituir um poder revolucionário das forças anti-imperialistas e antifeudais sem a necessidade de recorrer a formas mais violentas da luta de classes, como a insurreição armada, o que não deveria ser apreendido como um abandono a priori do caminho não pacífico.