Por Ricardo Gancine
Em um dos atos de 2021 pelo fora Bolsonaro eu estava na Vila Oliveira (bairro da periferia de Santa Maria onde nasci e cresci) em tarefa de mobilização e, quando fui conversar com uma senhora sobre os retrocessos que o país vive e a importância de ir na marcha, ela retrucou algo como: eu sei meu filho, Bolsonaro é um canalha que odeia pobre, mas depois que Brizola morreu eu não tenho mais esperanças, esse país está perdido. Já voltaremos nisso, mas Leonel de Moura Brizola chegou em seu centenário e algumas palavras são necessárias.
Acho que não existe definição melhor do que a do companheiro Leonardo Da Rocha Botega, em recente coluna [1] para explicar Brizola: um nacionalista-reformista, típico de um jacobino, um Robespierre de bombacha e chimarrão.
Leonel Brizola pode não ter sido um comunista, mas foi um homem íntegro que dedicou sua vida a enfrentar os privilégios e injustiças, defendendo sempre o povo pobre, os trabalhadores e o Brasil. Aguerrido e combativo, de oratória impressionante, ainda governador do Rio Grande do Sul colocou a Brigada Militar de prontidão e armou o povo para a luta armada contra os milicos golpistas e atrasou o golpe para 1964, mas, por conta da vacilação de outros setores reformistas, sua tática foi derrotada e lhe restou o exílio. Criou estatais gaúchas e expropriou o imperialismo, também foi um aguerrido defensor dos pequenos agricultores e da Reforma Agrária, disposto a levar às últimas consequências suas peleias. Como Governador do RJ, foi o primeiro e talvez o único a ocupar um alto cargo executivo no Brasil a combater o genocídio da população negra, proibiu antes mesmo da Constituição de 88 a invasão de lares na periferia sem mandado.
Tratou educação como investimento e não como gasto, pela primeira vez usou escolas para garantir comida para quem tem fome, de modo a que os estudantes pudessem aprender. Por isso, foi brutalmente perseguido pela golpista e mentirosa Rede Globo, inimiga do povo brasileiro, mas não se intimidou e até hoje foi o único candidato a presidente, com grande popularidade, que prometeu fechá-la.
Brizola teve sim seus defeitos. Apesar de morrer reivindicando um socialismo difuso e em sua história ter feito alianças com o Partido Comunista, teve formação anticomunista e não acreditava que a única solução para superação do Brasil era a organização do povo. Lutava pelos trabalhadores, e não com os trabalhadores, é daí que vem a imagem popular de caudilho, reforçada pela senhorinha que idealizava só em seu grande líder seu bem estar social e me tentava convencer dessa compreensão fatalista. No entanto, lutava pelo povo de forma convicta e não demagógica. Se tivesse sido presidente, eleito em 1989 ou em 1994, seria o melhor que este país já teve. Seu legado precisa ser atualizado de forma crítica, nos apropriando de sua ética e de sua combatividade, mas usando isso para a construção do Poder Popular e do Socialismo. Hoje, o Brasil continua saqueado pelo imperialismo, e o PDT de Lupi e os Governos do RS e do RJ não valem a bóia que comem. De um Ciro Gomes cachorrinho da Globo a um Eduardo Leite privatista da CEE, temos muito trabalho de base para fazer. Por isso, não basta só ficar no “Brizola Vive” do discurso nostálgico e saudosista. É preciso partir para a prática!
Ricardo Gancine é:
Secretário Político da Célula Santa Maria do PCB;
Secretário de Agitação e Propaganda do Comitê Regional do PCB RS;
Militante da Unidade Classista.