Dalcídio Jurandir – Os Comunistas e a Religião

Dalcídio Jurandir

Texto originalmente publicado no jornal Tribuna Popular, nº 60.

29 de julho de 1945.

Transcrição por Andrey Santiago.


O povo vem compreendendo quem são os mais furiosos e maiores inimigos do Partido Comunista. As tenebrosas campanhas de ontem não podem ter hoje quase nenhuma repercussão porque foram muito desmoralizadas. Os “imundos papeis Cohen” não podem mais se repetir, grande é a consciência do povo ou melhor, grande é a consciência o mundo para que se veja nos comunistas os inimigos da paz, da liberdade da religião e da família.

Os povos sabem a história dos comunistas na sua luta desigual, obstinada e heroica para manter a paz, afim de evitar o horror desta guerra e sabem que essa luta agora será fundamental para eles, porque é fundamental para todos os homens e mulheres. Sabem que durante a guerra em toda a parte onde o fascismo estendeu as suas garras, foram os comunistas, os homens de vanguarda, de maior sacrifício, os mais resolutos, os mais conscientes do perigo fascista e os mais conscientes da necessidade de destruir o fascismo.

O sacrifício de milhões de comunistas no mundo inteiro na luta contra o fascismo e um fato que os povos não esquecem, um ensinamento para a paz e para a liberdade, um orgulho para a civilização. Foram os primeiros a enfrentar o monstro hitlerista, a aceitar a guerra para vencer o fascismo e conservar as conquistas elementares da democracia. E agora, depois da guerra, a vitória se consolidará com a conquista da paz. E os comunistas se apresentam dispostos a tudo fazer ao lado dos povos para manter a paz, aprofundá-la não só em nome do que a democracia já conquistou, mas do que ela terá ainda e muito a conquistar.

Em toda a parte e em todos os tempos, desde Marx, os comunista colocaram a questão religiosa como um problema de consciência. A política de mão estendida de Maurice Thorez, por exemplo, antes do pacto de Munich era leal, justa e indispensável não somente para a unidade das forças democráticas na França e na Europa como também, em particular, para a defesa das liberdades religiosas, da consciência religiosa, da livre solução dos problemas individuais da fé e suas instituições sociais. A política de mão estendida de Thorez não era uma manobra ou um golpe de intuição. Apontava o fascismo, como depois se verificou, como a opressão total e mais bestial instalada sobre a terra. Era o desenvolvimento histórico do pensamento marxista a respeito da questão religiosa, em face da participação de todos os homens livres na luta comum contra as causas econômicas e sociais de guerra, da miséria, do desemprego, da ignorância, da exploração de países coloniais e semi-coloniais da brutal exploração de enormes massas humanas por uma dúzia de oligarquias financeiras.

Hoje, a política de mão estendida traz consigo a experiência dos movimentos subterrâneos na Europa, durante a ocupação nazista, da incorporação de comunistas e religiosas de todos os credos nas forças armadas norte-americanas, britânicas, soviéticas e brasileiras na guerra contra o nazismo. Comunistas e religiosos identificaram-se nos mesmos sofrimentos e lutas. A guerra assim aplicou de maneira concreta e vitoriosa a política de mão estendida de Thorez, a política de todos os comunistas do mundo inteiro que nunca se negaram em se unir a todos os religiosos empenhados em lutar pela democracia, o que importa em lutar pela liberdade de consciência.

Os comunistas estendendo a mão aos católicos, como sempre o fizeram, aos espíritas, aos maçons, aos protestantes, a todos os religiosos, não estão fazendo o “jogo” nem aplicando a “tática”. Estão determinadamente, honestamente, e desafiam os que provam o contrário, lutando em defesa da liberdade de consciência dos católicos, dos espíritos, dos maçons… de todos os religiosos, como defenderam as minorias religiosas e culturais dos índios e povos coloniais.

Isto quer dizer que a união de todas as forças políticas e espirituais da democracia é vital para destruir os restos do fascismo, para eliminar todas as causas que detém o progressos e entre as quais se quer promover os preconceitos e os ódios da luta religiosa. Milhões de comunistas já ocorreram nos campos de batalha, nas ruas e nos cárceres não somente em defesa do proletariados de sua ideologia, de sua posição como força legal e histórica dentro da democracia como também em defesa da livre manifestação religiosa, como pode provar na Espanha, na França, na África, na Índia, no Oriente Próximo, na China, em todo o mundo. Comunistas reivindicam o direito de atuarem livremente e se empenham no mesmo ardor pela mais ampla liberdade de pensamento e da palavra como de todos os credos religiosos. O comunista, não se pode negar, é sempre o democrata mais consequente e portanto, o que mais conscientemente respeita os sentimentos e as ideias religiosas. Isto parece tão simples, tão elementar, enquanto que se o diga e se repita. Os caluniadores perderam ainda algumas posições chaves de onde podem lançar a confusão, os desentendimentos, a discórdia. Franco sobrevive ainda por exemplo. O capital colonizador tem ainda poderes para atuar, corromper e oprimir. Ainda existe incompreensão, embora honesta e percepção pouco clara por parte de pessoas dignas. Mas estas pessoas se distinguem dos inimigos descarados, dos agentes imperialistas do fascismo. A campanha [ilegível] é inalienável. Sua falta de imaginação caracteriza a falta de fé nos seus objetivos, a ausência de argumentos, a constatação da causa perdida, a falta de apoio na realidade e na história.

O novo brasileiro, compreende porque os comunistas se mostraram serenos, construtivos, confiantes, na sua tarefa atual como foram impetuosos, indomáveis e tenazes nas jornadas de então. A democracia lhes pertence, mas para que lhes pertença, é claro que ela deva pertencer também a todos os mais democratas sem distinção de credos ou raças. Os comunistas não têm o privilégio da democracia, nem andam sob a excitação da sede do poder. Nem se envolvem como nunca se envolveram em táticas inconfessáveis. Sempre foram claros, sem rodeios. Diretos e unicamente comprometidos com o povo.

Por que os inimigos do Partido Comunista, do nosso Partido, se enfurecem diante da palavra de ordem e tranquilidade lançada por Prestes? Por que se tornam cada vez mais estúpidos, mais cínicos e mais desesperador nas suas calúnias e nos seus ataques? Por que se atiram tão atropeladamente contra a política de união nacional?

Porque compreendem que os comunistas e as demais forças aliadas democráticas e progressistas nacionais estão simplesmente com razão. Estão com o povo. Porque o povo demonstra, de maneira crescente a sua confiança em Prestes. Isto, por certo enlouquece, os reacionários nauseabundos. Arrasta os velhos lobos fascistas a um furor ridículo a um completo desmascaramento em que se aniquilarão por si mesmo.

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