Por Vladímir Ilitch Lênin, via marxists.org, traduzido por Carmen Delgado
Via https://lavrapalavra.com/
Nos três textos a seguir, inéditos em português, Lênin sintetiza o desenvolvimento organizativo do movimento operário revolucionário em torno de sua imprensa, entre 1912 e 1914.
Os trabalhadores e o Pravda [1]
Publicado:Pravda No. 103, 29 de agosto, 1912. Assinado: St. Publicado de acordo com o texto do Pravda.
O Pravda já resumiu alguns dos resultados de seu trabalho de seis meses.
Esses resultados mostraram, antes de tudo e acima de tudo, que somente através do esforço dos próprios trabalhadores, somente através do aumento explosivo de seu entusiasmo, determinação e teimosia na luta, e somente após o movimento de abril a maio, foi possível para o jornal dos trabalhadores de São Petersburgo, Pravda, aparecer.
Para começar, o Pravda limitou-se, em seu resumo, aos dados sobre doações coletivas feitas por trabalhadores ao seu jornal diário. Esses dados nos revelaram apenas uma pequena parte do apoio dos trabalhadores; eles não nos falam sobre o apoio direto, muito mais valioso e difícil – o apoio moral, apoio por meio da participação pessoal, apoio à política do jornal, apoio por meio da contribuição de materiais, discutindo e circulando o jornal, etc.
Mas mesmo os dados limitados à disposição do Pravda mostram que um número impressionante de grupos de trabalhadores vincula-se diretamente a ele. Lancemos um olhar geral sobre os resultados.
Número de contribuições ao Pravda feitas por grupos de trabalhadores
Janeiro 1912… | 14 |
Fevereiro… | 18 |
Março… | 76 |
Abril… | 227 |
Maio… | 135 |
Junho… | 34 |
Julho… | 26 |
Agosto (até 19) de 1912… | 21 |
Total… | 551 |
No total quinhentos e cinquenta e um grupos de trabalhadores apoiaram o Pravda por suas doações.
Seria interessante reunir os resultados de todo um número de outras coletas e doações feitas por trabalhadores. Temos visto constantemente no Pravda relatórios sobre contribuições em apoio a várias greves. Também vimos relatórios sobre coletas para vítimas da repressão, para as vítimas dos campos de ouro de Lena [2], para editores individuais do Pravda, coletas para a campanha eleitoral, para o socorro aos famintos, e assim por diante.
A natureza variada destas coletas torna muito mais difícil examinar os resultados aqui, e não estamos ainda em posição de dizer se um resumo estatístico poderá dar uma imagem satisfatória da questão. Mas é óbvio, seja qual for o caso, que essas diversas coletas assumem uma parte muito substancial da vida dos trabalhadores.
Ao examinarem os relatórios sobre as coletas dos trabalhadores conectadas com as cartas de trabalhadores de fábricas e escritórios em todas as partes da Rússia, os leitores do Pravda, a maioria dos quais estão dispersos e separados uns dos outros pelas condições externas severas da vida russa, têm alguma ideia de como os proletários de vários sindicatos e várias localidades estão lutando e como eles estão despertando para a defesa da democracia operária.
A crônica da vida dos trabalhadores está apenas começando a se tornar uma característica permanente no Pravda. Não pode haver dúvida que, subsequentemente, além das cartas sobre abusos em fábricas, sobre o despertar de uma nova seção do proletariado, sobre coletas para um ou outro campo da causa dos trabalhadores, campanhas eleitorais, a eleição de delegados dos trabalhadores, o que os trabalhadores leem, as questões de interesse particular a eles, e assim por diante.
O jornal dos trabalhadores é um fórum dos trabalhadores. Perante toda a Rússia os trabalhadores deveriam levantar aqui, uma após a outra, as várias questões da vida dos trabalhadores em geral e da democracia operária em particular. Os trabalhadores de São Petersburgo já começaram. É à sua energia que o proletariado da Rússia deve o primeiro jornal diário dos trabalhadores, após anos sombrios de estagnação social. Levemos, portanto, sua causa adiante, apoiando e desenvolvendo unidos o jornal dos operários na capital, o prenúncio da primavera que está por vir, quando toda a Rússia será coberta por uma rede de organizações operárias com jornais de operários.
Nós, os trabalhadores, ainda temos que construir esta Rússia, e iremos construí-la.
Da História da Imprensa Operária na Rússia
Publicado:Robochy No. 1, 22 de abril de 1914. Publicado de acordo com o texto no Robochy
A história da imprensa dos trabalhadores na Rússia está indissociavelmente ligada à história do movimento democrático e socialista. Consequentemente, apenas conhecendo as fases principais do movimento por emancipação é que é possível compreender porque a preparação e ascensão da imprensa operária prosseguiu de uma determinada maneira e não de nenhuma outra.
O movimento de emancipação na Rússia passou por três fases principais, correspondendo às três principais classes da sociedade russa, as quais deixaram sua marca no movimento: (1) o período da nobreza, aproximadamente de 1825 a 1861; (2) o período raznochintsi ou período democrático-burguês, aproximadamente entre 1861 e 1895 e (3) o período proletário, de 1895 até o presente.
As figuras de maior destaque do período da nobreza foram os Dezembristas[1] e Herzen. À época, sob o sistema de propriedade de servos, não havia como diferenciar uma classe trabalhadora da massa geral de servos, as “classes inferiores” privadas de direitos, o “populacho”. Naqueles dias, a imprensa democrática ilegal em geral, chefiada pelo Kolokol de Herzen, [2] foi a precursora da imprensa dos trabalhadores (proletário-democrata ou social-democrata).
Assim como os dezembristas despertaram Herzen, Herzen e seu Kolokol ajudaram a despertar os raznochintsi – os representantes educados da burguesia liberal e democrática que pertenciam não à nobreza, mas aos funcionários públicos, pequeno-burgueses urbanos, classes mercantis e camponesas. Foi V.G. Belinsky que, mesmo antes da abolição da servidão, foi precursor dos raznochinstsi que deveriam expulsar completamente a nobreza de nosso movimento de emancipação. A famosa Carta a Gogol [3], que resumiu as atividades literárias de Belinsky, foi uma das melhores produções da imprensa democrática ilegal, que até hoje nada perdeu de seu grande e vital significado.
Com a queda do sistema de posse de servos, o raznochintsi emergiu como o ator principal entre as massas no movimento pela emancipação em geral, e na imprensa democrática ilegal em particular. O Narodnismo [4], que correspondia ao ponto de vista razonochintsi, se tornou a tendência dominante. Como uma tendência social, nunca teve sucesso em dissociar-se do liberalismo na direita e do anarquismo na esquerda. Mas Chernyshevsky, que, depois de Herzen, desenvolveu os pontos de vista narodnik, deu um grande passo à frente em comparação com Herzen. Chernyshevsky foi um democrata muito mais consistente e militante, seus escritos cheios do espírito da luta de classes. Ele buscou resolutamente a linha de expor a traição do liberalismo, uma linha que até hoje é odiosa para os Kadets e liquidacionistas. Ele foi um crítico profundamente profundo do capitalismo, apesar de seu socialismo utópico.
Os anos 60 e 70 viram um grande número de publicações ilegais, de conteúdo militante-democrático e utópico-socialista, que haviam começado a circular entre as “massas”. Os trabalhadores Pyotr Alexeyev, Stephan Khalturin, dentre outros, foram personalidades muito proeminentes da época. A corrente proletário-democrática, entretanto, era incapaz de se libertar da corrente principal do narodnismo; isso se tornou possível apenas depois que o marxismo russo tomou forma ideológica (o grupo Emancipação do Trabalho, 1883) e que um movimento operário estável, ligado à social-democracia, começou (as greves de São Petersburgo de 1895-96)
Mas antes de passar a este período, do qual realmente data o surgimento da imprensa operária na Rússia, citaremos números que ilustram de forma impressionante as diferenças de classe entre os movimentos dos três períodos referidos. Esses números mostram a classificação das pessoas acusadas de crimes (políticos) de Estado, de acordo com o estado social ou a vocação (classe). [5] Para cada 100 dessas pessoas, havia:
Nobres | Pequena burguesia urbana e camponeses | camponeses | Trabalhadores | Intelectuais | |
em 1827-46….. | 76 | 23 | ? | ? | ? |
“ 1884- 90… | 30,6 | 46,6 | 7,1 | 15,1 | 73,2 |
“ 1901-03… | 10,7 | 80,9 | 9,0 | 46,1 | 36,7 |
“ 1905-08.. | 9,1 | 87,7 | 24,2 | 47,4 | 28,4 |
No período da nobreza ou feudal (1827-46), os nobres, que eram uma minoria insignificante da população, representaram a grande maioria dos “presos políticos” (76%). No período Narodnik ou raznochintsi (1884-90; infelizmente, os números dos anos sessenta e setenta não estão disponíveis), os nobres caíram para o segundo lugar, mas ainda assim forneceram uma porcentagem bastante elevada (30,6%). Os intelectuais representavam a esmagadora maioria (73,2%) dos participantes do movimento democrático
No período de 1901-03, que calha de ser o período do primeiro jornal marxista, o antigo Iskra, trabalhadores (46,1%) predominaram sobre os intelectuais (36,7%) e o movimento se democratizou totalmente (10,7% de nobres e 80,9% de pessoas “não privilegiadas”).
Seguindo adiante, vemos que no período do primeiro movimento de massa (1905-1908) a única mudança foi que os intelectuais (28,4% contra 36,7%) foram substituídos pelos camponeses (24,2% contra 9,0%).
A social-democracia na Rússia foi fundada pelo grupo Emancipação do Trabalho, o qual foi formado no exterior em 1883. Os escritos desse grupo, que foram impressos no exterior e sem censura, foram os primeiros a expor e tirar sistematicamente todas as conclusões práticas das ideias do marxismo, o qual, como a experiência de todo o mundo mostrou, é o único que expressa a verdadeira essência do movimento operário e seus objetivos. Durante os doze anos entre 1883 e 1895, praticamente a única tentativa de estabelecer uma imprensa operária social-democrata na Rússia foi a publicação em São Petersburgo em 1885 do jornal social-democrata Robochy; era claro que era ilegal, mas apenas duas edições apareceram. Devido à ausência de um movimento de massa da classe trabalhadora, não havia espaço para o amplo desenvolvimento de uma imprensa operária.
O início de um movimento de massa da classe trabalhadora, com a participação de social-democratas, data de 1895 a 1896, época das famosas greves de São Petersburgo. Foi então que uma imprensa operária, no verdadeiro sentido do termo, surgiu na Rússia. As principais publicações naquela época eram folhetos ilegais, a maioria deles hectografados e dedicados à agitação “econômica” (assim como não econômica), isto é, às necessidades e demandas dos trabalhadores em diferentes fábricas e indústrias. Obviamente, esta literatura não poderia ter existido sem a participação mais ativa dos trabalhadores avançados na tarefa de compilá-la e divulgá-la. Entre os trabalhadores de São Petersburgo ativos na época, deve-se mencionar Vasily Andreyevich Shelgunov, que mais tarde ficou cego e foi incapaz de continuar com seu antigo vigor, e Ivan Vasilyevich Babushkin, um ardente iskrista (1900-03) e bolchevique (1903-05), que foi baleado por participar de uma revolta na Sibéria no final de 1905 ou no início de 1906.
Folhetos eram publicados por grupos, círculos e organizações social-democratas, muitos dos quais, a partir do final de 1895, ficaram conhecidos como “Ligas de luta pela emancipação da classe trabalhadora”. O “Partido Operário Social-democrata Russo” foi fundado em 1898 em um congresso de representantes de organizações sociais-democratas locais.[6]
Depois dos panfletos, começaram a aparecer jornais ilegais da classe trabalhadora; por exemplo, em 1897, em São Petersburgo, o St. Petersburg Rabochy Listok [7]apareceu em São Petersburgo, seguida por Rabochaya Mysl, que logo depois foi transferido para o exterior. Desde então, quase até a revolução, os jornais social-democratas locais foram publicados ilegalmente; verdade, eles eram regularmente suprimidos, mas reapareciam repetidas vezes em toda a Rússia.
Ao todo, os panfletos dos trabalhadores e os jornais social-democratas da época – ou seja, há vinte anos – foram os precursores diretos da atual imprensa da classe trabalhadora: as mesmas “denúncias” da fábrica, as mesmas reportagens sobre a “luta econômica”, o mesmo tratamento das tarefas do movimento operário do ponto de vista dos princípios marxistas e da democracia consistente e, finalmente, as mesmas duas tendências principais – a marxista e a oportunista – na imprensa operária.
É um fato notável, que não foi devidamente apreciado até hoje, que assim que o movimento de massas da classe trabalhadora surgiu na Rússia (1895-1896), apareceu imediatamente a divisão em tendências marxistas e oportunistas – uma divisão que mudou em forma e características, etc., mas que permaneceu essencialmente a mesma de 1894 a 1914. Aparentemente, este tipo particular de divisão e luta interna entre os social-democratas tem profundas raízes sociais e de classe.
O Rabochaya Mysl, mencionado acima, representou a tendência oportunista da época, conhecida como economicismo. Essa tendência tornou-se aparente nas disputas entre os líderes locais do movimento da classe trabalhadora já em 1894-95. E no exterior, onde o despertar dos trabalhadores russos levou a uma eflorescência da literatura social-democrata já em 1896, o surgimento e a mobilização dos economicistas terminaram em cisão na primavera de 1900 (isto é, antes do surgimento do Iskra, cujo primeiro número saiu da impressão bem no final de 1900).
A história da imprensa da classe trabalhadora durante os vinte anos de 1894 a 1914 é a história das duas tendências do marxismo russo e da social-democracia russa (ou melhor, de toda a Rússia). Para compreender a história da imprensa operária na Rússia, é preciso saber, não só e não tanto os nomes dos vários órgãos da imprensa – nomes que nada comunicam ao leitor atual e simplesmente o confundem – como os conteúdos, a natureza e linha ideológica dos diferentes setores da social-democracia.
Os principais órgãos dos economicistas foram Rabochaya Mysl (1897–1900) e Rabocheye Dielo (1898–1901). Rabocheye Dielo foi editado por B. Krichevsky, que mais tarde passou para os sindicalistas; A. Martynov, um menchevique proeminente e agora um liquidacionista; e Akimov, agora um “social-democrata independente” que em todos os pontos essenciais concorda com os liquidacionistas.
No início, apenas Plekhanov e todo o grupo Emancipação do Trabalho (o jornal Rabotnik, [8] etc.) lutaram contra os economicistas, e depois o Iskra entrou na luta (de 1900 a agosto de 1903, até a época do Segundo Congresso do POSDR). Qual, exatamente, era a essência do economicismo?
Em palavras, os economicistas eram todos a favor de um tipo de movimento da classe trabalhadora de massa e da ação independente por parte dos trabalhadores, enfatizando a importância primordial da agitação “econômica” e pedindo moderação ou progressão gradual na passagem para a agitação política. Como o leitor vê, essas são exatamente as mesmas palavras-chave que os liquidacionistas alardeiam hoje. Na prática, entretanto, os economicistas perseguiram uma política liberal para os trabalhadores, cuja essência foi expressa de forma concisa por S. N. Prokopovich, um dos líderes do economicismo na época, nas palavras: “a luta econômica é para os trabalhadores, a luta política é para os liberais”. Os economicistas, que fizerma muito barulho sobre a atividade independente dos trabalhadores e o movimento de massa, eram, na prática, uma ala intelectual oportunista e pequeno-burguesa do movimento da classe trabalhadora.
A esmagadora maioria dos trabalhadores com consciência de classe, que em 1901-1903 representavam 46 em cada 100 pessoas acusadas de crimes de Estado, contra 37 da intelectualidade, alinharam-se ao antigo Iskra, contra os oportunistas. Os três anos de atividade do Iskra (1901-1903) viram a elaboração do Programa do Partido Social-Democrata, suas principais táticas e as formas em que a luta econômica e política dos trabalhadores poderia ser combinada com base em um marxismo consistente. Durante os anos pré-revolucionários, o crescimento da imprensa operária em torno do Iskra e sob sua direção ideológica assumiu proporções enormes. O número de folhetos ilegais e oficinas de impressão não licenciadas era excessivamente grande e aumentou rapidamente em toda a Rússia.
A vitória completa do Iskra sobre o economicismo, a vitória das táticas proletárias consistentes sobre as táticas intelectualistas-oportunistas em 1903, estimulou ainda mais o influxo de “companheiros de viagem” nas fileiras da Social-Democracia; e o oportunismo reviveu no solo do iskrismo, como parte dele, na forma de “menchevismo”.
O menchevismo tomou forma no Segundo Congresso do POSDR (agosto de 1903), proveniente da minoria dos iskristas (daí o nome de menchevismo [9]) e de todos os oponentes oportunistas do Iskra. Os mencheviques voltaram ao economicismo de uma forma ligeiramente renovada, é claro; chefiados por A. Martynov, todos os economicistas que permaneceram no movimento migraram para as fileiras dos mencheviques.
O novo Iskra, que a partir de novembro de 1903 apareceu sob um novo conselho editorial, tornou-se o órgão principal do menchevismo. “Entre o antigo Iskra e o novo existe um abismo”, declarou francamente Trotski, então ardente menchevique. Vperyod e Proletary [10] (1905) foram os principais jornais bolcheviques, que defenderam as táticas do marxismo consistente e permaneceram fiéis ao antigo Iskra.
Do ponto de vista do contato real com as massas e como expressão da tática das massas proletárias, 1905–07, os anos da revolução, foram um teste para as duas principais tendências da social-democracia e da imprensa da classe trabalhadora – as tendências Menchevique e Bolchevique. Uma imprensa social-democrata legal não poderia ter aparecido de uma só vez no outono de 1905 se o caminho não tivesse sido pavimentado pelas atividades dos trabalhadores avançados, que estavam intimamente ligados às massas. O fato de a imprensa legal social-democrata de 1905, 1906 e 1907 ser uma imprensa de duas tendências, de dois grupos, só pode ser explicado pelas diferentes linhas do movimento operário da época – a pequeno-burguesa e a proletária.
A imprensa legal dos trabalhadores apareceu em todos os três períodos de ascensão e de relativa “liberdade”, a saber, no outono de 1905 (Novaya Zhizn dos bolcheviques [11] e Nachalo dos mencheviques [12] – mencionamos apenas a principal dentre muitas publicações); na primavera de 1906 (Volna, Ekho, [13] etc., emitida pelos bolcheviques, Narodnaya Duma [14] e outros, emitida pelos mencheviques); e na primavera de 1907.
A essência das táticas mencheviques da época foi recentemente expressa por L. Martov nestas palavras: “Os mencheviques não viam outra maneira pela qual o proletariado pudesse ter uma parte útil nessa crise, exceto ajudando os democratas liberais burgueses em suas tentativas de expulsar do poder político o setor reacionário das classes proprietárias – mas, ao mesmo tempo que prestava essa assistência, o proletariado deveria manter sua independência política completa.” (Entre Livros, por Rubakin, Vol. II, p. 772.) Na prática, essas táticas de “ajudar” os liberais equivaliam a tornar os trabalhadores dependentes deles; na prática, eram táticas liberais para os trabalhadores. A tática dos bolcheviques, ao contrário, garantiu a independência do proletariado na crise burguesa, lutando para levar essa crise ao auge, denunciando a traição do liberalismo, iluminando e reagrupando a pequena burguesia (especialmente no campo) para neutralizar essa traição.
É um fato – e os próprios mencheviques, incluindo os liquidacionistas atuais, Koltsov, Levitsky e outros, o admitiram repetidamente – que naqueles anos (1905–07) as massas dos trabalhadores seguiram o exemplo dos bolcheviques. O bolchevismo expressava a essência proletária do movimento, o menchevismo era sua ala intelectual oportunista e pequeno-burguesa.
Não podemos dar aqui uma caracterização mais detalhada do conteúdo e da importância das táticas das duas tendências na imprensa dos trabalhadores. Não podemos fazer mais do que estabelecer com precisão os fatos principais e definir as linhas principais do desenvolvimento histórico.
A imprensa da classe trabalhadora na Rússia tem quase um século de história por trás dela; primeiro, a pré-história, isto é, a história, não dos trabalhadores, não do proletário, mas do movimento “democrático geral”, isto é, o movimento democrático-burguês pela emancipação, seguido por sua própria história de vinte anos do movimento proletário, democracia proletária ou social-democracia.
Em nenhum lugar do mundo surgiu o movimento proletário, nem poderia ter surgido, “de uma só vez”, em uma forma de classe pura, pronta, como Minerva da cabeça de Júpiter. Somente através de uma longa luta e trabalho árduo por parte dos trabalhadores mais avançados, de todos os trabalhadores com consciência de classe, foi possível construir e fortalecer o movimento de classe do proletariado, livrando-o de todas os aditivos, restrições, estreitezas e distorções pequeno-burguesas. A classe trabalhadora vive lado a lado com a pequena burguesia, que, à medida em que se arruína, fornece um número crescente de novos recrutas às fileiras do proletariado. E a Rússia é o país mais pequeno-burguês, o mais filisteu dos países capitalistas, que só agora está passando pelo período das revoluções burguesas pelas quais a Grã-Bretanha, por exemplo, passou no século XVII, e a França no século XVIII e início do XIX.
Os trabalhadores com consciência de classe, que agora se ocupam de um trabalho que lhes é caro e próximo, o de dirigir a imprensa operária, colocá-la em bases sólidas, fortalecê-la e desenvolvê-la, não esquecerão os vinte anos de história do marxismo e da imprensa social-democrata na Rússia.
Um desserviço está sendo prestado ao movimento dos trabalhadores por aqueles seus amigos nervosos entre a intelectualidade que lutam com medo da luta interna entre os social-democratas e que enchem o ar de gritos e apelos para nada terem a ver com isso. São pessoas bem-intencionadas, mas fúteis, e seus clamores são fúteis.
Somente estudando a história da luta do marxismo contra o oportunismo, somente fazendo um estudo completo e detalhado da maneira como a democracia proletária independente emergiu da miscelânea pequeno-burguesa, os trabalhadores avançados podem fortalecer decisivamente sua própria consciência de classe e sua imprensa operária.
A Classe Trabalhadora e sua Imprensa
Publicação: Trudovaya Pravda Nos. 14 e 15, Junho 13 e 14, 1914. Simpósio Marxismo e Liquidacionismo, Parte II. Priboi Publicações, São Petersburgo, 1914. Assinado: V. Ilyin. Publicado de acordo com o texto do simpósio verificado com o jornal Trudovaya Pravda.
Não há nada mais importante para os trabalhadores com consciência de classe do que ter uma compreensão do significado de seu movimento e um conhecimento completo dele. A única – e invencível – fonte de força do movimento operário é a consciência de classe dos trabalhadores e o amplo escopo de sua luta, ou seja, a participação nela das massas dos trabalhadores assalariados.
A imprensa marxista de São Petersburgo, que já existe há anos, publica material exclusivo, excelente, indispensável e facilmente verificável sobre o escopo do movimento da classe trabalhadora e as várias tendências que nele predominam. Somente aqueles que desejam esconder a verdade podem ignorar este material, como o fazem os liberais e os liquidacionistas.[1]
Números completos sobre as coletas feitas para os jornais pravdista (marxista) e liquidacionista em São Petersburgo, no período entre 1 de Janeiro e 13 de Maio de 1914, foram compilados pelo camarada V.A.T. [4] Publicamos sua tabela na íntegra abaixo, e vamos citar números arredondados no corpo deste artigo quando surgir a ocasião, para não sobrecarregar o leitor com estatísticas.
A seguir está a tabela do Camarada V.A.T. (ver pp. 364-65). Antes de tudo, trataremos dos números que mostram o número de grupos de trabalhadores. Esses números cobrem todo o período de existência dos jornais pravdista e liquidacionista.
Número de grupos de trabalhadores:
Apoiando o jornal pravdista | Apoiando o jornal liquidacionista | |
Para 1912……… | 620 | 89 |
Para 1913……… | 2 181 | 661 |
1914, de 1/JAN até 13/MAI | 2 873 | 671 |
Total | 5 674 | 1 421 |
Coletas dos jornais marxista (pravdista) e liquidacionista em São Petersburgo de 1 de Janeiro até 13 de Maio de 1914
COLETAS | SÃO PETERSBURGO | |||
FEITAS | Pravdista | Liquidacionista | ||
POR | No [2] | rublos [3] | No | rublos |
Grupos de trabalhadores | 2 024 | 13 943,24 | 308 | 2 231,98 |
Total de não trabalhadores incluindo: | 325 | 1 256,92 | 165 | 1 799,40 |
Grupos de estudantes e jovens | 26 | 369,49 | 19 | 292,13 |
Grupos de “adeptos”, “amigos” etc | 8 | 164,00 | 14 | 429,25 |
Outros grupos | 2 | 8,00 | 6 | 72,60 |
Indivíduos | 281 | 650,96 | 120 | 966,72 |
Não especificados | 8 | 64,47 | 6 | 38,70 |
Do exterior | – | – | – | – |
Total…………. 2 349 15.200,76 473 4.103,38
COLETAS | MOSCOU | |||
FEITAS | Pravdista | Liquidacionista | ||
POR | No | rublos | No | rublos |
Grupos de trabalhadores | 130 | 865,00 | 25 | 263,52 |
Total de não trabalhadores incluindo: | 46 | 260,51 | 24 | 1 137,30 |
Grupos de estudantes e juventude | 8 | 118,30 | 3 | 21,00 |
Grupos de “adeptos”, “amigos” etc | 6 | 42,10 | 5 | 892,00 |
Outros grupos | 1 | 2,00 | – | – |
Indivíduos | 29 | 63,61 | 14 | 197,30 |
Não especificados | 2 | 33,50 | 2 | 26,50 |
Do exterior | – | – | – | – |
Total…………. 176 1 125,51 49 1 400,82
COLETAS | Províncias | |||
FEITAS | Pravdista | Liquidacionista | ||
POR | No | rublos | No | rublos |
Grupos de trabalhadores | 719 | 4 125,86 | 338 | 2 800,62 |
Total de não trabalhadores incluindo: | 332 | 1 082,79 | 230 | 2 113,90 |
Grupos de estudantes e juventude | 20 | 162,12 | 23 | 317,09 |
Grupos de “adeptos”, “amigos” etc | 28 | 252,72 | 35 | 1 129,35 |
Outros grupos | 30 | 115, 29 | 24 | 113, 52 |
Indivíduos | 221 | 332,05 | 132 | 443,80 |
Não especificados | 33 | 220,60 | 16 | 110,14 |
Do exterior | – | – | – | – |
Total…………. 1 051 5 208,65 568 4 914,52
COLETAS | TOTAL | |||
FEITAS | Pravdista | Liquidacionista | ||
POR | No | rublos | No | rublos |
Grupos de trabalhadores | 2 873 | 18 934,10 | 671 | 5 296,12 |
Total de não trabalhadores incluindo: | 713 | 2 650,01 | 453 | 6 759,77 |
Grupos de estudantes e juventude | 54 | 650,922 | 45 | 630,22 |
Grupos de “adeptos”, “amigos” etc | 42 | 458,82 | 54 | 2 250,60 |
Outros grupos | 33 | 125,29 | 30 | 186,12 |
Indivíduos | 531 | 1 046,62 | 266 | 1 608,32 |
Não especificados | 43 | 318,57 | 24 | 175,34 |
Do exterior | 10 | 49,79 | 34 | 1 709,17 |
Total…………. 3 586 21 584,11 1 124 12 055,89
O número total de grupos é 7 095. Claro, existem grupos que fizeram várias contribuições, mas não há dados disponíveis para estes casos.
Vemos que apenas um quinto do número total de grupos de trabalhadores simpatiza com os liquidacionistas. Em dois anos e meio, o pravdismo, as decisões pravdistas e as táticas pravdistas uniram quatro quintos dos trabalhadores com consciência de classe da Rússia. Este fato da unidade dos trabalhadores pode muito bem ser comparado com as frases sobre “unidade” proferidas por vários grupelhos de intelectuais, os vperyodists, plekhanovistas, trotskistas etc., etc.
Comparemos os números de 1913 e 1914 (os de 1912 não são comparáveis, porque o Pravda surgiu em abril, e o Luch cinco meses depois). Veremos que o número de grupos pravdistas cresceu para 692, i.e, 31,7%, enquanto que os grupos liquidacionistas cresceram para 10, i.e., 1,5%. Consequentemente, a prontidão dos trabalhadores para apoiar os jornais pravdistas cresceu 20 vezes mais que sua disposição para apoiar os jornais liquidacionistas.
Vejamos como os trabalhadores em diversas partes da Rússia estão divididos de acordo com a tendência:
% do total de grupos de | trabalhadores | |
Pravdista | Liquidacionista | |
São Petersburgo | 86 | 14 |
Moscou | 83 | 17 |
Províncias | 68 | 32 |
A inferência é clara: quanto mais politicamente desenvolvidas são as massas dos trabalhadores, e quanto mais alto é seu nível de consciência de classe e atividade política, maior é o número de pravdistas entre eles. Em São Petersburgo, os liquidacionistas foram quase completamente deslocados (14 de 100); eles ainda possuem uma influência precária nas províncias (32 de 100), onde as massas são politicamente menos educadas.
É altamente instrutivo observar que os números de uma fonte totalmente diferente, a saber, aqueles que dão o número de delegados dos trabalhadores eleitos durante as eleições do Conselho de Seguros, correspondem em um grau notável aos dos grupos de trabalhadores. Durante a eleição do Conselho de Seguros Metropolitano, foram eleitos 37 delegados pravdistas e 7 liquidacionistas, isto é, 84% e 16% respectivamente. Do número total de delegados eleitos, os pravdistas constituíam 70% (37 de 53), e na eleição do Conselho de Seguros de Toda a Rússia eles obtiveram 47 de 57, i.e., 82% Os liquidacionistas, não-partidários e narodnistas formam uma minoria de trabalhadores, que ainda permanecem sob a influência burguesa.
Prosseguindo. Os seguintes são números interessantes sobre a quantidade média coletada por grupos de trabalhadores:
Quantidade média coletada | por grupos de trabalhadores | |
Pravdista (rublos) | Liquidacionista (rublos) | |
São Petersburgo | 6,88 | 7,24 |
Moscou | 6,65 | 10,54 |
Províncias | 5,74 | 8,28 |
Toda a Rússia | 6,58 | 7,89 |
Os grupos pravdistas demonstram uma tendência natural, compreensível e, por assim dizer, normal: a contribuição média de grupos de trabalhadores aumenta com o aumento dos rendimentos médios das massas trabalhadoras.
No caso dos liquidacionistas, vemos, além do surto nos grupos de Moscou (os quais são apenas 25 ao todo!) que as contribuições médias dos grupos das províncias são superiores às dos grupos de São Petersburgo! Como explicar este fenômeno estranho?
Apenas uma análise mais detalhada dos números poderia prover uma resposta satisfatória para esta questão, mas esta seria uma tarefa trabalhosa. Nossa conjectura é de que os liquidacionistas unem a minoria dos trabalhadores melhor remunerados em certos setores da indústria. Foi observado por todo o mundo que tais trabalhadores se apegam a ideias liberais e oportunistas. Em São Petersburgo, os que mais aguentaram os liquidacionistas foram os tipógrafos, e foi somente durante as últimas eleições em seu sindicato, em 27 de abril de 1914, que os pravdistas conquistaram metade das cadeiras no Executivo e a maioria das cadeiras para suplentes. Em todos os países, os impressores são mais inclinados ao oportunismo, e alguns deles são trabalhadores bem pagos.
Se a nossa conclusão sobre a minoria dos trabalhadores, a aristocracia dos trabalhadores, estar em simpatia com os liquidacionistas é meramente conjectural, não pode haver nenhuma dúvida no que diz respeito aos indivíduos. Das contribuições feitas por não trabalhadores, mais da metade veio de indivíduos (531 de 713 no nosso caso, 266 de 453 no caso dos liquidacionistas). A contribuição média desta fonte em nosso caso é R. 1,97 enquanto entre os liquidacionistas é de R. 6,05!
No primeiro caso, as contribuições obviamente vieram de trabalhadores de escritório com baixas remunerações, funcionários públicos etc., e dos elementos pequeno-burgueses de caráter semiproletário. No caso dos liquidacionistas, porém, vemos que eles têm amigos ricos entre a burguesia.
Estes amigos ricos dentre a burguesa assumem uma forma ainda mais definida como “grupos de adeptos, amigos, etc”. Estes grupos coletaram R. 458,82 para nós, i.e., 2% do total arrecadado, a doação média por grupo sendo R.10.92, que é apenas a metade da doação média de grupos de trabalhadores. Para os liquidacionistas, entretanto, estes grupos coletaram R. 2 450,60, i.e, acima de 20% do total coletado, a doação média por grupo sendo R. 45,39, i.e, seis vezes a média coletada por grupos de trabalhadores!
A isto somamos as coletas que foram feitas no exterior, onde os estudantes burgueses são os principais contribuintes. Nós recebemos R. 49,79 desta fonte, i.e., menos de um quarto de 1%; os liquidacionistas receberam R. 1 709,17, i.e., 14%.
Se adicionarmos as contribuições individuais, “adeptos e amigos” e as contribuições feitas no exterior, o montante total arrecadado destas fontes é o seguinte:
Pravdistas – R. 1 555,23 i.e, 7% do total de contribuições.
Liquidacionistas – R. 5 768,09, i.e, 48% do total de contribuições.
Desta fonte nós recebemos menos de um décimo do que recebemos de grupos de trabalhadores (R. 18 934). Esta fonte deu aos liquidacionistas mais do que eles receberam dos grupos de trabalhadores (R. 5,296)!
A inferência é clara: o jornal liquidacionista não é um jornal operário, mas sim um jornal burguês. Ele se mantém principalmente com fundos contribuídos por amigos ricos dentre a burguesia.
De fato, os liquidacionistas são de longe muito mais dependentes da burguesia do que nossos números mostram. Os jornais pravdistas frequentemente publicam seus relatórios financeiros para informação pública. Estes relatórios financeiros mostraram que nosso jornal, ao adicionar contribuições à sua renda, está pagando suas contas. Com uma circulação de 40.000 exemplares (a média em maio de 1914), isso é compreensível, apesar dos confiscos e da escassez de anúncios. Os liquidacionistas, entretanto, publicaram seu relatório apenas uma vez (Luch No. 101), mostrando um déficit de 4.000 rublos. Após isso, eles adotaram o costume burguês usual de não publicar relatórios. Com uma circulação de 15 000 exemplares, seu jornal não pode evitar um déficit, e evidentemente isso é repetidamente coberto por seus amigos ricos dentre a burguesia.
Os políticos do trabalho liberais gostam de lançar insinuações sobre um “partido aberto dos trabalhadores”, mas eles não gostam de revelar para os verdadeiros trabalhadores sua real dependência para com a burguesia! É deixado a nós, trabalhadores “clandestinos”, ensinar aos liberais liquidacionistas o benefício de relatórios abertos.
A proporção geral de coletas de trabalhadores e não trabalhadores é a seguinte:
De cada rublo | coletado por | |
Coletado por | Jornais Pravdistas | Jornais Liquidacionistas |
Trabalhadores | 87 copeques | 44 copeques |
Não-trabalhadores | 13 copeques | 56 copeques |
Total | 1,00 rublo | 1,00 rublo |
Os pravdistas obtêm um sétimo de suas arrecadações de ajuda da burguesia e, como vimos, de seus setores mais democráticos e menos abastados. O empreendimento liquidacionista é em grande parte um empreendimento burguês, que é sustentado apenas por uma minoria dos trabalhadores.
Os números sobre as fontes de fundos também nos revelam o status de classe dos leitores e compradores dos jornais.
As contribuições voluntárias são feitas apenas por leitores regulares, que mais inteligentemente simpatizam com a tendência de determinado jornal. Por sua vez, a tendência de determinado jornal, quer queira quer não, “se adapta” espontaneamente ao segmento mais “influente” de seu público leitor.
As deduções que se seguem de nossos números são, primeiro, teóricas, i.e., tais que ajudem a classe trabalhadora a compreender as condições de seu movimento e, em segundo lugar, deduções práticas, que nos darão orientação direta em nossas atividades.
Por vezes é dito que não há uma imprensa da classe trabalhadora na Rússia, mas duas. Até mesmo Plekhanov repetiu esta afirmação não faz muito tempo. Mas isso não é verdade. Aqueles que dizem isto revelam pura ignorância, se não um desejo secreto de ajudar os liquidacionistas a espalhar a influência burguesa entre os trabalhadores. Há muito tempo e repetidamente (por exemplo, em 1908 e 1910), as decisões do Partido claramente, definitivamente e diretamente apontavam a natureza burguesa do liquidacionismo. Artigos na imprensa marxista explicaram esta verdade centenas de vezes.
A experiência de um jornal diário, que apela abertamente às massas, estava fadada a revelar o verdadeiro caráter de classe da tendência liquidacionista. E foi isto que aconteceu. O jornal liquidacionista provou, de fato, ser um empreendimento burguês, que é apoiado por uma minoria de trabalhadores.
Além disso, não nos esqueçamos que quase até a primavera de 1914 o jornal liquidacionista era o porta-voz do bloco de agosto. Só recentemente os letões retiraram-se dele, e Trotsky, Em-El, An, Buryanov e Yegorov deixaram, ou estão deixando, os liquidacionistas. A dissolução do bloco continua. O futuro próximo deverá revelar ainda mais claramente o caráter burguês da tendência liquidacionista e a esterilidade dos grupelhos intelectuais como os vperyodistas, plekhanovistas, trotskistas, etc.
As deduções práticas podem ser sumarizadas nos seguintes pontos:
- 5 674 grupos de trabalhadores unidos pelos pravdistas em menos de dois anos e meio é um número razoável, considerando as condições adversas encontradas na Rússia. Mas isto é apenas o começo. Nós precisamos não de milhares, mas de dezenas de milhares de grupos de trabalhadores. Nós precisamos intensificar nossas atividades dez vezes mais. Dez rublos coletados em copeques de centenas de trabalhadores são mais importantes e mais valiosos, tanto de um ponto de vista ideológico como organizativo, que centenas de rublos de amigos ricos dentre a burguesia. Mesmo do ponto de vista financeiro, a experiência prova que é possível dirigir um jornal operário bem estabelecido com a ajuda dos copeques dos trabalhadores, mas é impossível fazer o mesmo com a ajuda dos rublos burgueses. O empreendimento liquidacionista é uma bolha, que está fadada a estourar.
- Ficamos para trás nas províncias, onde 32% dos grupos de trabalhadores apoiam os liquidacionistas! Todo trabalhador com consciência de classe deve empreender todo esforço para pôr um fim a este lamentável e vergonhoso estado de coisas. Devemos colocar todo nosso peso para as províncias.
- Os trabalhadores rurais estão aparentemente ainda quase intocados pelo movimento. Por mais difícil que seja o trabalho neste campo, nós devemos avançar com ele da maneira mais vigorosa.
- Como uma mãe que cuidadosamente cuida de seu filho doente e lhe dá a melhor nutrição, os trabalhadores com consciência de classe devem cuidar mais dos bairros e fábricas onde os trabalhadores estão doentes com o liquidacionismo. Esta doença, que emana da burguesia, é inevitável em um movimento jovem de trabalhadores, mas com o cuidado adequado e tratamento persistente, passará sem quaisquer consequências graves. Fornecer aos trabalhadores doentes um alimento mais rico na forma de literatura marxista, explicar mais cuidadosamente e de forma mais popular a história e as táticas do Partido e o significado das decisões do Partido sobre a natureza burguesa do liquidacionismo, explicar mais detalhadamente a necessidade urgente da unidade proletária, i.e, a submissão da minoria dos trabalhadores à maioria, a submissão de um quinto aos quatro quintos dos trabalhadores com consciência de classe da Rússia – essas são algumas das tarefas mais importantes que enfrentamos.
Notas de “Os trabalhadores e o Pravda”
[1] O Pravda foi um jornal criado por Trotsky e outros militantes do Partido Operário Social Democrata Russo, em Viena, 1910. O Pravda de São Petersburgo é criado pelos bolcheviques quando ainda faziam parte do POSDR. Após o racha dos comunistas, oficializado em janeiro de 1912, o novo partido bolchevique decide transformar o jornal, até então publicado três vezes por semana, em um jornal diário. O jornal foi perseguido e mudou de nome inúmeras vezes, (p.e., Rabôtchaia Pravda, A Verdade Operária). Após a Revolução de Outubro, em 1918 tornou-se um órgão do Comitê Central do PCUS e se manteve ativo por toda a história da URSS. Com a dissolução do bloco socialista, o Pravda foi privatizado e segue em atividade até os dias atuais.
[2] Lênin refere-se às vítimas do Massacre de Lena, um massacre perpetrado pelos soldados do Exército Imperial Russo sobre centenas e centenas de trabalhadores das minas de ouro de Bodajbo, um centro de mineração localizado na bacia do Rio Lena, na Sibéria. O massacre ocorreu em 17 de abril de 1912, após 2.500 trabalhadores marcharem em direção ao escritório central da mineradora, exigindo a soltura imediata do comitê de greve (criado pelos grevistas visando negociar com a empresa aurífera, Lenzoloto, disposta a ceder às reivindicações de melhores condições de trabalho, melhores salários etc). As tropas do Exército Imperial abriram fogo contra os manifestantes, provocando cerca de 270 mortos e outros 250 feridos, de acordo com o jornal local, Zvezda.
Notas “Da História da Imprensa Operária na Rússia”
[1] Dezembristas – revolucionários russos da nobreza que lutaram contra a servidão e a autocracia. Eles levantaram uma revolta armada em 14 de dezembro de 1825.
[2] Kolokol (O Sino) —um jornal político publicado sob o lema Vivos voco! (Eu invoco os vivos!) Por A. I. Herzen e N. P. Ogaryov de 1º de julho de 1857 a abril de 1865 em Londres, e de maio de 1865 a julho de 1867 em Genebra. Publicado mensalmente e, por algum tempo, quinzenalmente, publicou 245 edições. Em 1868, a revista foi publicada em francês (15 edições ao todo) com um suplemento ocasional em russo. O Kolokol, que foi publicado em 2.500 cópias e circulou por toda a Rússia, expôs a tirania da autocracia, a extorsão e o peculato praticado pelos funcionários do governo e a exploração implacável dos camponeses pelos proprietários de terras. O Kolokol dirigiu apelos revolucionários às massas, incitando-as à luta contra o governo czarista e as classes dominantes.
O órgão dirigente da imprensa revolucionária sem censura e precursor da imprensa da classe operária na Rússia, Kolokol, desempenhou um papel importante no desenvolvimento do movimento democrático e revolucionário geral, na luta contra a autocracia e a servidão.
[3] A Carta de Belinsky a Gogol foi escrita em julho de 1847 e publicada pela primeira vez em 1855 no Polyarnaya Zvezda (A Estrela Polar) de Herzen.
[4] Narodnismo – uma tendência pequeno-burguesa no movimento revolucionário russo, que surgiu entre os anos sessenta e setenta do século XIX. Os narodniks queriam abolir a autocracia e entregar as propriedades rurais ao campesinato. Ao mesmo tempo, eles negaram a tendência para o desenvolvimento das relações capitalistas na Rússia e, consequentemente, consideraram o campesinato, não o proletariado, a principal força revolucionária. Consideravam a comuna da aldeia o embrião do socialismo. No esforço de despertar os camponeses para a luta contra a autocracia, os narodniks foram para as aldeias, “entre o povo”, mas aí não encontraram apoio.
Nos anos oitenta e noventa, os narodniks adotaram uma política de conciliação com o czarismo. Eles expressaram os interesses dos kulaks e travaram uma luta feroz contra o marxismo.
[5] Ver presente edição, Vol. 19, pp. 328-31. – Ed.
[6] A referência é ao Primeiro Congresso do P.O.S.D.R. realizado em Minsk de 1 a 3 de março (13 a 15) de 1898. O Congresso contou com a presença de nove delegados de seis organizações: ads Ligas de Luta pela Emancipação da Classe Trabalhadora de São Petersburgo, Moscou, Ekaterinoslav e Kiev, do grupo Kiev Rabochaya Gazeta e do Bund. O Congresso elegeu um Comitê Central do Partido, confirmou a Rabochaya Gazeta como órgão oficial do Partido, publicou um Manifesto e proclamou a União dos Sociais-Democratas Russos no Exterior como representante estrangeiro do Partido.
O Primeiro Congresso do P.O.S.D.R. foi significativo na medida em que adotou decisões e um Manifesto proclamando o estabelecimento do Partido Operário Social-Democrata da Rússia, desempenhando assim um papel importante na questão da propaganda revolucionária. O Congresso, porém, não adotou um programa ou projeto de regras do Partido. O Comitê Central eleito no Congresso foi logo preso e a gráfica da Rabochaya Gazeta apreendida, impossibilitando o Congresso de se unir e estabelecer contatos entre os vários círculos e organizações marxistas. Não havia uma liderança central única e nenhuma linha única no trabalho das organizações locais.
[7] St. Petersburg Rabochy Listok (Boletim dos Trabalhadores de São Petersburgo) – órgão da Liga de Luta pela Emancipação da Classe Trabalhadora de São Petersburgo. Duas edições surgiram – No. 1 em fevereiro (datado de janeiro) 1897 mimeografado na Rússia em 300-400 cópias, e No. 2 em setembro de 1897, em Genebra na forma impressa.
O jornal destacou a tarefa de combinar a luta econômica da classe trabalhadora com amplas demandas políticas e destacou a necessidade de se criar um partido operário.
[8] Rabotnik (O Trabalhador) – um simpósio não periódico publicado no exterior em 1896-99 pela União dos Social-Democratas Russos sob a direção do grupo Emancipação do Trabalho. O simpósio foi lançado por iniciativa de Lenin que, durante sua viagem ao exterior em 1895, fez acordos com Plekhanov e Axelrod para que o simpósio fosse editado e publicado pelo grupo Emancipação do Trabalho. Em seu retorno à Rússia, Lenin fez muito para organizar o apoio a esta publicação e enviar artigos e correspondência da Rússia. Antes de sua prisão em dezembro de 1895, Lênin preparou e encaminhou ao Rabotnik um artigo obituário “Frederick Engels” e vários itens de correspondência, alguns dos quais (os de AA Vaneyev, MA Silvin e SP Shesternin) foram publicados no nº 1–2 e No. 5-6 do simpósio.
Ao todo, seis edições do Rabotnik foram publicadas em três livros, e 10 edições do Listok Rabotnika.
[9] A palavra russa menshevik é derivada de menshinstvo, que significa “minoria” – ed.
[10] Vperyod (Avante) – um semanário bolchevique ilegal publicado em Genebra de 22 de dezembro de 1904 (4 de janeiro de 1905) a 5 (18) de maio de 1905. Dezoito edições foram publicadas. Seu organizador, gerente e espírito-guia foi Lênin. Outros membros do conselho editorial foram V. V. Vorovsky, A. V. Lunacharsky e M. S. Olminsky. Toda a correspondência, incluindo a dos comitês locais na Rússia, foi tratada por N. K. Krupskaya. Lenin definiu o conteúdo do jornal nas seguintes palavras: “A linha do Vperyod é a linha do antigo Iskra‘. Em nome do antigo Iskra, o Vperyod combate resolutamente o novo Iskra.” (Veja a presente edição, Vol. 8, p. 130.) Além de artigos importantes, Lênin escreveu vários parágrafos para o Vperyod e reescreveu itens de correspondência. Alguns artigos foram escritos por Lenin em cooperação com outros membros do conselho editorial (Vorovsky, Olminsky e outros). Mais de sessenta artigos e itens menores de Lenin foram publicados no Vperyod. Algumas edições do jornal, e. g., No. 4 e 5, que tratam dos eventos de 9 (22) de janeiro de 1905, e do início da revolução na Rússia, foram escritos quase inteiramente por Lenin. Seus artigos no Vperyod eram frequentemente reimpressos na imprensa bolchevique local e publicados na forma de folhetos e panfletos.
O destacado papel que o jornal desempenhou no combate ao menchevismo, reafirmando o princípio do Partido, formulando e elucidando as questões colocadas pela revolução ascendente e lutando pela convocação de um congresso, foi reconhecido em resolução especial do Terceiro Congresso, que registrou um voto de agradecimento ao conselho editorial. Por decisão do Terceiro Congresso, o jornal Vperyod foi substituído pelo Proletário .
Proletário —um semanário bolchevique ilegal, órgão Central do P. O. S. D. R., fundado de acordo com uma resolução do Terceiro Congresso do Partido. Por decisão da reunião plenária do Comitê Central do Partido de 27 de abril (10 de maio) de 1905, Lenin foi nomeado redator-chefe. O Proletário foi publicado em Genebra de 14 (27) de maio a 12 (25) de novembro de 1905. Vinte e seis edições foram publicadas.
O Proletário continuou na linha do antigo Iskra leninista, e preservou a continuidade completa com o jornal bolchevique Vperyod.
Lenin escreveu cerca de noventa artigos e parágrafos para o jornal. Seus artigos determinaram o caráter político do jornal, sua mensagem ideológica e tendência bolchevique. Lenin carregou uma pesada carga de trabalho no jornal como gerente e editor, recebendo assistência regular dos outros membros do conselho editorial – Vorovsky, Lunacharsky e Olminsky.
O Proletário reagiu imediatamente a todos os eventos importantes no movimento operário russo e internacional, e travou uma luta menos implacável contra os mencheviques e outros elementos revisionistas oportunistas. O jornal fez muito para divulgar as decisões do Terceiro Congresso do Partido e desempenhou um papel importante na mobilização dos bolcheviques de maneira organizacional e ideológica. O Proletário defendeu consistentemente o marxismo revolucionário e formulou todas as questões básicas envolvidas na revolução ascendente na Rússia. O jornal destacou os acontecimentos de 1905 e incitou as amplas massas trabalhadoras à luta pela vitória da revolução.
O Proletário deu muita atenção às organizações sociais-democratas locais. Alguns dos artigos de Lênin neste jornal foram reimpressos pelos jornais bolcheviques locais e distribuídos em forma de folheto. O Proletário suspendeu a publicação logo após a partida de Lênin para a Rússia, no início de novembro de 1905. As duas últimas edições (no. 25 e 26) foram editadas por Vorovsky, mas mesmo estas continham vários artigos de Lenin, que foram publicados após sua partida de Genebra.
[11] Novaya Zhizn (Vida Nova) – o primeiro jornal bolchevique legal, publicado como um diário em São Petersburgo de 27 de outubro (9 de novembro) a 3 (16) de dezembro de 1905. Lênin assumiu a redação após seu retorno à Rússia no início de novembro. Novaya Zhizn era virtualmente o órgão central do P.O.S.D.R. Intimamente associados ao jornal estavam V. V. Vorovsky, M. S. Olminsky, A. V. Lunacharsky e outros. Maxim Gorky foi um colaborador ativo do jornal, ao qual deu uma ajuda financeira substancial.
O número 9 do jornal de 10 de novembro de 1905 trazia o primeiro artigo de Lenin, “A Reorganização do Partido”, que foi seguido por mais de dez artigos de sua pena. A circulação do jornal chegou a 80 mil, apesar das constantes perseguições. Quinze das vinte e sete edições do jornal foram confiscadas e destruídas. Foi proibido após a publicação do número 27 em 2 (15) de dezembro, sendo o no. 28 publicado ilegalmente.
[12] Nachalo (O Começo) – um jornal menchevique legal publicado em São Petersburgo de 13 de novembro (26) a 2 (15) de dezembro de 1905. Dezesseis edições foram publicadas. Os editores do jornal foram D. M. Herzenstein e S. N. Saltykov, e entre os colaboradores estavam P. B. Axelrod, F. I. Dan, L. G. Deutsch, N. I. Yordansky, L. Martov e A. N. Potresov.
[13] Volna (A Onda) – um diário bolchevique legal publicado em São Petersburgo de 26 de abril (9 de maio) a 24 de maio (6 de junho) de 1906. Vinte e cinco edições foram publicadas. Começando com o nº 9 de 5 (15) de maio de 1906 (após o encerramento do Quarto Congresso e a chegada de Lenin de Estocolmo), o jornal foi praticamente editado por Lenin. Cerca de vinte e cinco artigos dele foram publicados no jornal. Outros membros da equipe editorial foram V. V. Vorovsky e M. S. Olminsky. Volna foi submetida a frequentes repressões policiais e acabou sendo fechado pelo governo czarista. Seu lugar foi ocupado pelo jornal bolchevique legal Vperyod.
Ekho (O Eco) – um diário bolchevique legal publicado em São Petersburgo de 22 de junho (5 de julho) a 7 (20) de julho de 1906 no lugar do jornal suprimido Vperyod. Quatorze edições foram publicadas. Na verdade, o jornal foi editado por Lenin, cujos artigos apareceram em todas as edições. Lenin também dirigiu a seção “Livro e Revista”.
Quase todas as edições do jornal foram submetidas a repressões, doze das quatorze edições foram apreendidas pela polícia.
[14] Narodnaya Duma (Duma do Povo) – um diário menchevique publicado em São Petersburgo em março-abril de 1907 no lugar do suprimido Russkaya Zhizn. Vinte e uma edições do jornal foram publicadas.
Notas de “A Classe Trabalhadora e sua Imprensa”
[1] “Corrente oportunista de extrema direita no POSDR, surgida nos anos da reação (1907-1910), em seguida à derrota da primeira revolução russa (1905-1907). Os mencheviques liquidacionistas, desmoralizados pela derrota da revolução, difundiam nas massas a ideologia da capitulação frente ao tzarismo, convocavam a classe trabalhadora a conciliar com a burguesia e pugnava pela liquidação do partido revolucionário marxista e o fim de sua atividade ilegal.
Frente a isto, Lenin traçou e fundamentou uma tática flexível, baseada na conjugação do trabalho ilegal e legal sob a direção do partido revolucionáro clandestino.
Nos anos de ascensão revolucionária (1910-1914), os bolcheviques iniciaram e organizaram a Conferência do Partido ocorrida em 1912 na cidade de Praga. A grande importância dessa conferência consitiu no fato dos liquidacionistas terem sido expulsos do POSDR, depurando-se, assim, dos oportunistas.” fonte: dicionário político, Marxists Internet Archive
[2] Número de coletas – Lênin
[3] Soma de coletas (rublos) – Lênin
[4] V.A.T – iniciais de V.A. Tikhomirnov, membro da equipe do Pravda