A Fundação Dinarco Reis está produzindo a biografia de Dinarco Reis, com o título “O Tenente Vermelho”. A obra, que sairá no segundo semestre, aborda aspectos da vida pessoal e política do destacado militante comunista.
Para aguçar sua leitura, oferecemos trecho da obra em que Dinarco Reis aborda a importância da organização de base para o Partido Comunista. Observação: o uso da velha ortografia no texto é proposital, já que retirada dos originais deixados por Dinarco.
“…A organização de base é a principal e melhor escola política, ideológica e orgânica para os comunistas. É o local onde o militante estabelece contato com os efetivos e mais concretos problemas da sociedade brasileira, a carência do trabalhador, a miséria do desempregado, a penúria do homem do campo, os problemas da classe média, enfim todas as reivindicações, insatisfações e agruras enfrentadas pelo povo brasileiro. Aí se aprende e se educa, com humildade e paciência, o espírito de luta revolucionária para enfrentar no dia a dia os sucessivos reveses, cujo enfrentamento tenaz e esclarecido constitui as malhas com que se tecerão as vitórias e os êxitos que, sòmente uma concepção científica e democràticamente elaborada, irá conduzir, na medida em que a luta de classes se elevar em conscientização e organização.
Não é de admirar, pois, que uma insurreição tramada com tais deficiências estivesse fadada ao fracasso, como sucedeu. A história nunca se faz com a partícula apassivadora “se”. O acaso também tem suas leis e limitações previsíveis. A ciência social tem seus imperativos inexoráveis. O marxismo é o seu principal instrumento de interpretação e ação. O voluntarismo é insuficiente e, na maioria das vezes, contraproducente.
A vida ensina que todas as ações praticadas pelos homens estão, quase sempre, eivadas de êrros e acertos, nunca de maneira absoluta e definitiva. Faz-se necessário pesquisar para se elaborar a caracterização de uma nova situação ou solução de um problema, partindo, sempre, de um conjunto de dúvidas que serão, passo a passo, examinadas e corrigidas. No caso da via científica para o socialismo, o marxismo ensina que é necessário extrair do socialismo histórico a efetiva realidade social em cada caso. Essa realidade é inelutável, não é possível ignorá-la, nem pretender avançar sem a levar em conta ou simplesmente usar-se de artifícios ou sofismas.
O movimento armado aliancista foi planejado e executado de maneira equivocada. Em primeiro lugar, porque uma insurreição desencadeada com vistas a desenvolver um processo revolucionário tem que partir de uma manifestação das massas, que revelem claramente que esta é a sua disposição. “Quem faz as revoluções são as massas”, ensinam os grandes mestres. Ela não pode ser feita pela decisão voluntária de indivíduos, grupos ou mesmo partidos políticos, que não levem em conta o estado de compreensão e predisposição da massa para a ação dessa natureza.
Todo êrro ou fracasso na tentativa de busca de solução, equivocada ou não, deve servir como experiência no sentido da necessária correção e nova pesquisa, objetivando um novo e mais correto caminho, visando o objetivo, ou mudança pretendida.
Lamentàvelmente, isso não ocorreu com a direção do Partido Comunista Brasileiro, principalmente com seu centro dirigente, o Comitê Central que, após o revés sofrido com a derrota da sublevação de 1935, persistiu em considerar esse movimento como um sucesso positivo. Opinião que foi mantida até a crise de direção ocorrida em 1956.
A incapacidade da direção partidária em realizar um balanço autocrítico desse movimento e suas negativas conseqüências determinou que vários dirigentes, destacando-se Prestes, secretário-geral, prosseguissem alimentando e opinando sobre a resultante vitoriosa desse ato. Posição que levou alguns defensores desse ponto de vista a se lançarem na repetição desse intento, como por exemplo, na tentativa de luta armada, no foquismo, nas ações guerrilheiras, sem as necessárias condições objetivas de amadurecimento das massas, repetição injustificada de êrros, cuja dolorosa conseqüência foi a perda de autênticos revolucionários. E o que é mais lamentável, é que ainda hoje permaneçam pessoas defendendo tais posições que, se não lançam a idênticas aventuras causam, no entanto, absurda confusão no movimento revolucionário democrático…”.