Boitempo lança ‘Bazar da dívida externa brasileira’

“Analisando a implementação da política de endividamento no período de 1947 a 2007, seus atores, interesses e estratégias de ação nesse processo, o professor da Universidade Federal de Santa Catarina, Rabah Benakouche (doutor em ciências econômicas pela Universidade de Paris e doutor em engenharia industrial pela École Centrale de Paris), demonstra por que a dívida externa brasileira acabou sendo também um grande negócio”. Assim começa o release do livro Bazar da dívida externa brasileira, lançado pela Boitempo Editorial.

Prossegue a editora:

“No Brasil, a dívida externa fez parte da história do país estendendo-se por quase dois séculos. Atormentou as relações externas e foi uma das principais fontes internas de instabilidade política do país. Seu fim, em fevereiro de 2008, foi um fato histórico inédito e, enquanto tal, merecedor de análises detalhadas, como a contemplada nesta obra.

Benakouche entende que, por ser essa dívida um grande negócio, a variável econômico-mercantil é apenas uma das suas dimensões. Enquanto os estudos nessa área costumavam abordar, exclusivamente, a questão do equilíbrio do balanço de pagamentos e ignorar todas as demais dimensões do endividamento, Bazar da dívida externa brasileira analisa as outras dimensões, visíveis e invisíveis, ditas e não ditas, pessoais ou organizacionais, que entram no jogo, quer seja sob a forma de técnicas financeiras e jurídicas quer seja na divisão ou proteção de mercado, ou ainda na esfera de influência geoestratégica ou política. O livro busca desvendar os sentidos e os significados das redes de conexão entre juros, spread, prazos, interesses, estratégias, decisões… e decisores.

Em termos de exposição, a primeira parte desta obra mostra em que e por que há uma política de endividamento no Brasil, entre 1947 e 2007, no qual Benakouche categoriza a fase de endividamento implícito (1947-1967), a da política explícita (1968-1979/80) e a da política “informal” (de 1981 em diante). Toda a questão consiste em saber por que houve a formulação e implementação de políticas de endividamento. A segunda parte é dedicada à movimentação dos atores participantes do processo de endividamento entendido como negócio. Pois, a dívida externa, como negócio, envolve inúmeros atores, que compram, vendem, cobram, estocam, fiscalizam, apostam, especulam, trapaceiam, blefam. “Esse mercado é regido não pela lei do valor, enunciada pelo velho Marx, mas pela lei da força, dos interesses, dos conflitos, das estratégias, dos cálculos e da comunicação”, afirma o economista. Na terceira parte, Benakouche busca a resposta para uma questão importante: se o endividamento externo é esse mosaico complexo e emaranhado de “fatores e atores”, por que os enfoques teóricos de todas as escolas de pensamento em “economia internacional” limitam suas análises apenas às dimensões de fluxos e de estoques de capitais?

Diante da natureza financeira, comercial, política e geoestratégica do endividamento, tornou-se imprescindível e incontornável para Benakouche voltar a atenção aos escritos clássicos, em primeiro momento; e, em um segundo tempo, mostrar por que todo endividamento externo é de natureza política ou, mais especificamente, trata-se sempre de opção de política internacional. As explicações para o sucesso ou fracasso dessa política geralmente são apresentadas após o fato consumado. Assim, para entender o que se passa antes – espaço próprio da decisão –, é necessário adotar outro método de análise: detectar as lógicas que presidem a tradução da política de endividamento em dívida externa em negócio.

“Neste livro, Benakouche trata de um dos temas mais importantes da economia brasileira desde os anos 1950 e apenas aparentemente resolvidos. Realiza um levantamento empírico exaustivo e instigante, além de manejar algumas das principais teorias sobre a dívida nos campos da economia clássica, do pensamento latino-americano e das relações internacionais, respaldando-se nos estudos de importantes intérpretes brasileiros. Escrito em linguagem acessível ao grande público, este é um trabalho que não pode ser ignorado por quem quer aprofundar seus estudos sobre o assunto”, afirma na quarta capa o professor de ciência política da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Carlos Eduardo Martins”.