Lênin em ‘Uma das questões fundamentais da revolução’, ‘Os bolcheviques devem tomar o poder’ e ‘Marxismo e Insurreição’

De acordo com o secretário de Formação Política do PCB, Ricardo Costa, “às vésperas da Revolução de Outubro, Lênin travou uma dura batalha ideológica contra os oportunistas e reformistas russos, representados centralmente pelos mencheviques e socialistas revolucionários, que recusavam a opção da revolução socialista e contentavam-se em ocupar cargos e ministérios no governo provisório dominado pela burguesia, latifundiários e imperialistas. Lênin, principalmente no mês de setembro, produziu textos de combate às vacilações e traições dos reformistas, mas também dirigido a convencer parte do Partido Bolchevique, não totalmente crente das possibilidades objetivas da vitória revolucionária do proletariado”.

 

Os artigos que a página da FDR disponibiliza agora, “Uma das questões fundamentais da revolução”, “Os bolcheviques devem tomar o poder” e “Marxismo e Insurreição”, são parte integrante desta fundamental batalha das ideias que antecedeu e contribuiu de forma decisiva para a ação dos bolcheviques na tomada do poder de Estado.

No primeiro deles, Lênin debruça-se sobre a questão do Estado e sobre a necessidade de compreensão de que a palavra de ordem “Todo o Poder aos Sovietes” jamais deveria ser interpretada como mera ocupação de cargos no governo burguês (“um ministério dos partidos da maioria nos sovietes”), como assim faziam mencheviques e esseristas (os quais detinham a hegemonia no interior dos sovietes), mas sim “uma transformação radical de todo o velho aparelho de Estado” e “sua substituição pelo aparelho novo, popular, isto é, verdadeiramente democrático, dos sovietes, isto é, da maioria organizada e armada do povo, dos operários, dos soldados, dos camponeses, a concessão iniciativa e da autonomia à maioria do povo, não só na eleição dos deputados, mas também na administração do Estado, na realização de reformas e transformações”.

No segundo, assevera que é chegada a hora de os bolcheviques tomarem o poder, afirmando que, no período de maio a setembro de 1917, os acontecimentos e as lutas levaram à situação em que a maioria no interior dos sovietes das capitais passava a pender para o lado dos bolcheviques.

No terceiro texto, baseando-se em escrito de Engels sobre a “arte da insurreição” (Revolução e Contrarrevolução na Alemanha, que, assinado por Marx, foi publicado no New York Daily Tribune em 1851 e 1852) aprofunda a análise segundo a qual a revolução estava na ordem do dia na Rússia, pois, a partir dos eventos de julho e agosto de 1917, estavam dadas as condições objetivas e subjetivas para o sucesso da empreitada revolucionária. Lênin referia-se às jornadas de julho e à “kornilovada”. As manifestações de julho foram desencadeadas por um movimento de soldados, marinheiros e operários, enfurecidos contra o governo provisório e suas ordens militares, notoriamente infrutíferas e irresponsáveis. As demonstrações de massa ocorreram em Petrogrado, e os manifestantes gritaram as palavras de ordem dos bolcheviques, como “todo o poder aos Sovietes”, exigindo que a direção máxima dos Sovietes assumisse o poder, o que foi negado pelo Comitê Executivo Central, dominado por socialistas revolucionários e mencheviques. O  movimento foi massacrado pelo governo provisório, que atacou o Partido Bolchevique, empastelando seus jornais e gráficas e mandando prender as lideranças operárias.

Já a “kornilovada” foi uma revolta contrarrevolucionária da burguesia e dos latifundiários em agosto de 1917, liderada pelo general czarista Kornilov, que planejava implantar uma ditadura militar para restaurar a monarquia. O governo provisório, sob comando de Kerenski, adotou postura ambígua no episódio, insuflando inicialmente a revolta, para se ver livre dos bolcheviques. Mas foram estes que enfrentaram decisivamente a tentativa de golpe de Kornilov e continuaram a denunciar o governo provisório e seus cúmplices socialistas revolucionários e mencheviques. A kornilovada foi liquidada pelos operários e camponeses liderados pelo Partido Bolchevique.

Lênin, então, percebia que, após estes dois grandes acontecimentos históricos, as massas haviam vivenciado experiências decisivas no enfrentamento aos seus inimigos de classe, e era cada vez mais evidente o desmascaramento dos reformistas e oportunistas, que, ocupando ministérios no governo provisório, assumiam na prática a defesa dos interesses burgueses. Lênin enfatizava que, por tudo isso, a batalha pela hegemonia no interior dos Sovietes estava sendo ganha pelos bolcheviques. E dizia que, naquele exato momento histórico, existiam as condições objetivas para a tomada do poder, pois “temos a nosso favor a maioria da classe que é a vanguarda da revolução, a vanguarda do povo, capaz de arrastar as massas”.

Não há dúvidas de que, por meio da leitura desses textos, podemos concluir que, para Lênin, uma das questões centrais na luta e conquista do poder na Rússia foi a batalha ideológica travada no interior do Sovietes, para tirar da influência de mencheviques e esseristas as mais valorosas lideranças operárias e camponesas, as quais, sob a firme direção dos bolcheviques, comandaram a Revolução de Outubro. Portanto, está posta a questão da hegemonia como um aspecto central da vitória bolchevique em 1917, fato que, com certeza, poderá se verificar também nas demais revoluções socialistas do século XX.

Leia Uma das questões fundamentais da revolução

Leia Os bolcheviques devem tomar o poder

Leia Marxismo e Insurreição