Livro traz pesquisa histórica sobre a esquerda nas Forças Armadas

23/07/2014

Agência FAPESP – A influência marxista no Exército brasileiro em determinados momentos históricos, as inspirações revolucionárias da Marinha na década de 1920 e a história do Antimil, organização comunista que atuava nas Forças Armadas, são alguns dos assuntos tratados no livro Militares e militância: uma relação dialeticamente conflituosa, de Paulo Ribeiro da Cunha, professor da Faculdade de Filosofia e Ciências da Universidade Estadual Paulista (FFC-Unesp).

A obra, publicada pela Editora Unesp com apoio da FAPESP, apresenta a atividade dos militares de esquerda desde o fim do século 19, com a insurreição dos “republicanistas radicais”, até 1945 e a fase de intervenção nas grandes causas nacionais, que se estende até 1964.

Para o autor, a pesquisa levanta questionamentos sobre o envolvimento das Forças Armadas com a política. “É bom para a democracia que os militares fiquem longe da política ou seria melhor reconhecer que as forças políticas estão tão presentes nos meios militares tanto quanto nos demais setores da sociedade? Esta é uma questão contemporânea que a pesquisa histórica do livro apresenta”, disse Cunha à Agência FAPESP.

As relações de que trata o livro foram intensas a partir do surgimento de uma esquerda militar, nos anos 1920, até o final da Segunda Guerra Mundial e do Estado Novo, em 1945. De acordo com a obra, não apenas o mundo militar foi marcado pela presença da militância comunista, como o Partido Comunista Brasileiro (PCB) foi um grupo marxista com forte presença de antigos militares, dos quais Luís Carlos Prestes é o mais amplamente conhecido.

Cunha detalha aspectos organizacionais do Antimil, o envolvimento dos pequenos órgãos de imprensa e os personagens que marcaram a militância dos comunistas do PCB dentro das Forças Armadas, um meio cercado de múltiplos perigos.

Também é abordado o Manifesto da Força Expedicionária Brasileira (FEB), de abril de 1945, com seus 300 signatários, resultado da militância permanente do PCB no meio militar, mesmo depois da rebelião comunista de 1935.

Cunha também analisa a trajetória do general Miguel Costa e a tentativa de colocá-lo à altura de Prestes no episódio do movimento político-militar conhecido como Coluna Prestes.

“Ao fazer a ponte entre momentos históricos, do ponto de vista de setores armados não hegemônicos, mas decisivos para a definição dos rumos assumidos por graves crises políticas, o autor oferece ao leitor material para refletir estrategicamente sobre a presença dos militares na cena política contemporânea”, disse o historiador Renato Luís do Couto Neto e Lemos, do Instituto de História da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), sobre o livro de Cunha.